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sábado, 16 de abril de 2011

Espetáculo Pincelado

   A escuridão e o silêncio enganam os possíveis espectadores. Mas sob a proteção do breu e da cortina de pedra, tensionado pelo perigo e passível de castigo, as chamas não se limitam. A tintura vermelha não se satisfaz com as pinceladas do artista, pelo contrário, multiplica-se. A coloração se espalha e é tanta, escorre, salta da tela nas mãos do pintor, aquecendo a si mesma com o deslizar dos pincéis.
   Cheiro. Sabor. Cor. Sombra. Um banquete vivo em duplo tom. Escarlate por dentro e puramente escuro por fora, numa escala de cinza, iluminado indiretamente por uma lua quase cheia escondida no céu noturno.
   Um espetáculo inédito tanto para o elenco quanto para a platéia. E as cortinas se abrem uma a uma, revelando mais e mais, incitando novos patamares de sentido, noutra escala de sintonia. Orquestra suspirante de sussurros harmônicos em canção improvisada.
   Versos vazios de palavras, recheados de sentido. Diálogos metalinguísticos entrelaçados, planejados para dizer o que o arquejar já contou. E A magia continua doce. E de tão doce dá mais sede.
    A magnificência de um quadro deslumbrante em criação, tal qual Giocconda, perfeita em suas imperfeições, recebendo mais riqueza e mais detalhes a cada novo debruçar do dueto de pintores. Bibliotecas e Pinacotecas de ricos detalhes, salpicados de entrelinhas, mas impossíveis de serem postos explicítos. Um segredo não-secreto. Um Ato, de toda uma Peça.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Aquarela ♫


Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...


Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva

E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...


Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel

Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...



Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul

Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul

Pinto um barco a vela
Brando navegando

É tanto céu e mar
Num beijo azul...


[...]

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo

Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...


Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar

Vamos todos
Numa linda passarela

De uma aquarela
Que um dia enfim

Descolorirá... (Descolorirá...
(Toquinho)


Agradecendo a Mayara, cuja conversa e a bela voz me deram inspiração pra esse post... enquanto cantávamos no IF =D

De uma aula turbulenta

   E chove, novamente... O ruído dos sussurros e das conversas se somam e amplificam, como um ser gigante murmurando durante o sono. Uma multidão reverberando, presa. No entanto nenhuma destas vozes dizem nada que se deseje realmente ouvir, nenhum tom é o tom que agradaria.
   O preceptor, com suas tendências religiosas e o imenso saber, fala palavras de conhecimento, em vão. Sua voz se perde na turbulenta mescla de vozes dos deseducados alunos.
   Como um urso sentado numa pedra no meio do rio violento, assisto a tentativa do homem de compartilhar sua sabedoria com possíveis predecessores. Imersos nos próprios assuntos sem importância real, ignoram a chuva fraca que não alcança o vidro da janela, ignoram a natureza suspirando, ignoram o próprio interior e suas filosóficas perguntas sem resposta, aterrando-o com futilidades.
   E o som sutil da caneta riscando o papel passa despercebido para todos, exceto para o dono da mão que move essas palavras sem força de mudança.


Sobre os amores que acabam


Amores não acabam, simplesmente. Eles se transformam, se dispersam, se dividem. Como rosas, envelhecem, escurecem e então, podem multiplicar-se, revivendo ainda mais belas e aveludadas, ou podem deixar cair suas pétalas, uma a uma, até nada restar, senão um ramo vazio; memória do que ali antes existia.

Perto de acordar

   O sonho, perto do fim, parece ainda mais real por criar uma situação possível a qualquer instante, em qualquer  noite, bastando uma luz apagada e uma sala fechada dentro de outra. Com o ar denso, o perfume flutuando tão  próximo, e o calor da pele... Mas está perto do fim... Sentindo a consciência aproximar-se, fugindo para dentro de si mesmo, já lúcido e com total compreensão da inexistência desse momento de fantasia, sendo arrastado para o mundo real.
   Irá acontecer no mundo real. Num futuro breve. Mas ainda assim é tentador e prazeroso sentir tudo dentro do sonho. Mas o desejo não é suficiente para impedir-se de acordar. E a consciência bate a porta...
   Acordando sobre um travesseiro branco, repleto de idéias... Sentindo o perfume de uma rosa pintada. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

De Aristóteles


"Posso responder resumidamente: o homem só é feliz se puder desenvolver e utilizar todas as suas capacidades e possibilidades. [...] Se Aristóteles vivesse hoje, talvez ele dissesse que a vida de uma pessoa que só cultiva o corpo é tão unilateral - e portanto tão lacunosa - quanto a vida de outra que só usa a cabeça. Ambos os extremos são expressões de um modo errado de viver a vida."
O Mundo de Sofia, pág 131. Jostein Gaarder.

.PS.: Eu errei, na verdade estou parado na página 138, início do capítulo sobre helenismo.

   Unilateral; com um só lado, um único sentido, voltada para apenas um modo.
   Lacunosa; algo que tem lacunas, faltas, algo incompleto.

Lição

   E Ele, meu homônimo de terminação Ferreira... Sempre dizendo, ensinando...

"Se você quer construir um castelo, cada dia tem que colocar pelo menos um tijolo."
(Wellington Wanderley Ferreira)

Só sei que nada sei


"[...] Um filósofo sabe muito bem que, no fundo, ele sabe muito pouco. Justamente por isto ele vive tentando chegar ao verdadeiro conhecimento. Sócrates foi uma dessas raras pessoas. Ele sabia muito bem que nada sabia sobre a vida e o mundo. E agora é que vem o mais importante: o fato de saber tão pouco não o deixava em paz.  Um filósofo, portanto, é uma pessoa que reconhece que há muita coisa além do que ele pode entender e vive atormentado por isto. Desse ponto de vista, ele é mais inteligente do que todos que vivem se vangloriando de seus pretensos conhecimentos. [...]"
             O Mundo de Sofia, pág 83. Jostein Gaarder.

Sobre os olimpianos

[...] Os deuses têm inveja de nós... Pois enquanto nossa vida é efêmera, e podemos viver cada dia como se fosse o último, tendo sempre a dúvida de como será o próximo, eles afundam no ócio da própria imortalidade, e mesmo com toda a racionalidade, eles não conseguem se livrar da certeza que o próximo dia, o próximo mês e até o próximo ano, será igual ou tão semelhante aos outros tantos que eles já viveram. [...]

domingo, 10 de abril de 2011

sem dizer...

Não diga nada.
Não é necessário julgamentos.
Nem notas.
Não há faltas ou erros.
Só seja. Esteja. Faça.
Sem palavras.
Não são necessárias, 
Se há versos no olhar.
Já aprendeu,
Sem pudor não há pecado.
Então...
Shh.


Silêncio e madrugada

   O silêncio se estende... E na sintonia entre nós, compartilhamos uma tranquilidade magnífica. A noite esplêndida lá fora, escura, com quase todas suas minúsculas moradoras brilhantes escondidas. E o som da voz do cantor alagoano sobe e desce numa batida ritmada como plano de fundo dessa cena de imperfeita perfeição.
   Não está completo, longe disso, mas ainda assim é um dia de sensações incomuns. A terceira boa noite, de minutos longos e memoráveis. De um modo diferente das duas anteriores, mantém o tom de conto de fadas, prolongando essa página de história.
   Talvez seja algo singelo, humilde e talvez até cotidiano demais para se escrever... Mas este ano traz mudanças, e como marujo experiente, sei que o melhor é registrar a nova monção. E mesmo sem luzes e som, sinto que foi o melhor dia nove dos últimos tempos.
   O frio e a ausência de falatório e ruído dá a sensação de madrugada avançada, tão boa, tão... Profunda. E como uma coruja só consigo apreciar este momento incomum... Em silêncio.

Nem um dia ♫



Um dia frio
Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris
(Djavan)

Sonho de ser pássaro.

   E tanto quis ser pássaro, que um dia, pássaro se tornou. E voou e voou, tangenciando o horizonte, tendo sobre si nada mais que o céu azul; como fino cobertor as nuvens brancas de algodão e a linda terra como paisagem longínqua lá embaixo.
   Sonho e devaneio flutuante, dom belo do garoto sonhador, ao observar, tranquilo, a calma e a beleza do céu pós chuva, e os pombos, e as libélulas e as borboletas, como a admirar o mundo pela primeira vez; relembrando páginas envelhecidas da história de uma gaivota que quis ser mais, e foi, tornou-se mais e mais até ser mais pensamento que gaivota, ultrapassando os limites impostos por tradição e ignorância. Uma ave de luz e objetivo, a melhor no céu, indo tão alto que o horizonte tornava-se coisa pouca, coisa muita, infinita. Vastidão de azul e verde, se extendendo até tão longe que se mesclava ao céu, pois o sol tornava os dois azuis irmãos.
   E de repente encontra-se sorrindo sozinho, tendo um livro nas mãos, uma brisa no rosto e um céu, vastidão, à sua frente.

O Mundo de Sofia, pág 17

"Não se pode experimentar a sensação de existir sem se experimentar a certeza que se tem de morrer[...]"


(Jostein Gaarder)

sábado, 9 de abril de 2011

Humanos...

Humanos
 Perdidos
  Ignorantes
   Agressivos
    Furiosos
   Apaixonados
  Divinos
 Falsos
Mentirosos
 Inteligentes
  Generosos
   Humildes
    Mortais.

DécimoSexto

  "Não estou feliz.". Interpretariam como lamentação, como um dizer subscrito com infelicidade. Mas repetiria e explicaria: "Não estou feliz, sou feliz." Há uma grande diferença nas duas traduções do To Be.
   E se completa o décimo sexto ano de existência do meu primeiro Eu, Wellington Wanderley Barros Junior. E tão quão mais inusitado, mais interessante, melhor. E embora agora eu tenha encontrado meu outro nome, aquele que eu decidi usar, depois de me conhecer, não deixei de ser também aquele ser - este ser - em constante progresso, em constante evolução e aprendizado, um ser frágil e rígido, virtuoso e defeituoso, uma mescla de experiências, metas, devaneios e memórias de personagens fictícios que eu fui e serei, em páginas e páginas de mundos paralelos escondidos nas entrelinhas das histórias.
   O universo conspira. Eu gosto da chuva e gosto do sol, então... de presente de aniversário, ganho um dia de sol e chuva com promessa de arco-íris ao entardecer. Um frio gostoso e uma brisa leve, temperadas de memórias da noite anterior. E uma música repete tocando sozinha e sussurrante num canto da minha mente... Last night... I couldn't even get an answer... ♫
    E de uma forma desconhecida, com uma certeza absoluta, quebro meu paradigma, aprendido com Sócrates,  do "Só sei que nada sei.", troco isto por um "simplesmente sei que é bom." 
    
    E o mantra se repete, sai como um murmúrio entre meus lábios ou como palavras digitadas em roxo, talvez repetidas trinta e três vezes: Today will be a great day.

Tempo, de Aline Wanderley

Tempo
Tantas coisas acontecem,
Tantas coisas acontecerão 
E eu só queria um tempo.
Um tempo longe de tudo,
Um tempo longe de todos.
Um tempo só pra mim !
Um tempo que eu pudesse ser assim:
Sem máscaras, sem disfarces e sem preocupações.
Só eu e um pouco mais de mim.

/A.Frank

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sou

Sou Páris, Heitor e Aquiles.
Não desisto de Helena, lutando por mim e contra mim.
Sou Id e Ego, assim:
Instinto e Pensamento, Intuição e Discernimento.
Sou Prometeu com o fogo e Epimeteu,
Dono da ação e do planejamento.
Impulso e hesitação, do merecimento que Cloto teceu,
Clareza e escuridão, ignorância e conhecimento.
Sou fogo e gelo, calor, frio e mudança...
Da permanência do passado, o complexo do presente e do futuro, a dança.
Esperança do bom e o pessimismo, preparo para o pior e o otimismo.
Paixão, amor e carinho, num só.
Sou puro e mesclado, achado e perdido,
Negro, branco e cinza, um caleidoscópio,
Como cem corvos negros e um anjo caído,
Tardio, sábio, velho, jovem e mergulhado no ócio.
Confuso e ponto.
Tic, toc, pronto.
Assim, em palavras e versos acerto
Minha existência não concluída.
Desconhecimento, errado, certo.
Fim, sem ponto final,
Pois só com reticências posso acabar isso tudo,
Afinal
...

Luto.


  Hoje, 07 de abril de 2011, às vésperas do meu aniversário, pela manhã no Rio de Janeiro, 13 brasileiros, não mais velhos que eu, muito antes de viver e ver, de fato, a vida, foram mortos por um motivo banal. Não os conheço, nem mesmo sei seus nomes, mas de uma forma muito forte, sinto uma profunda tristeza e amargura, pois não é certo que tão jovens sejam retirados desse nosso mundo.
  Uma tragédia como nunca vi. E em todos os jornais vejo o medo e a dor, o sofrimento daqueles que perderam os amados, a fúria contra o assassino. Nada posso fazer. Ninguém pode mudar o passado. Não tenho religião, nem preciso de uma, acredito que estou um passo acima, mas ainda assim, como o ser humano pensante que sou, pertencente a esta sociedade, sinto estes brasileiros como irmãos, e sinto, desse modo, triste, furioso, pois eles morreram. E sinto profundamente o desejo de chorar em pranto por jovens desconhecidos que não poderão viver os anos vindouros.


(w) Requiescat in pace.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Get out!!!

   Um segundo. Um minuto. Uma hora. Uma eternidade. O tempo é inconstante e sua ida e vinda move nossas vidas de forma inimaginável. Mudanças ocorrem, evoluímos, algumas vezes de forma gradual, outras vezes em saltos imensos que nos fazem refletir sobre o modo como éramos e agíamos e o modo como passamos a ser e agir.
   Acontecimentos e pessoas tocam nosso íntimo frequentemente e quando percebemos isso podemos nos moldar às novas circusntâncias, nos tornando aprimorados em relação à nossa personalidade anterior. Quase como se de uma hora para outra passássemos a ser um novo ser, este se volta para o antigo morador e diz: "Agora eu sou o dono da casa, você é inquilino. Caia fora!!!"
    Percebo como mudei. Um salto evolutivo de proporções astronômicas, e que não havia entendido que na verdade, fui eu mesmo que mandei meu anterior ir embora de mim...

Final feliz ♫


Chega de fingir...
Eu não tenho nada a esconder.
Agora é pra valer,
Haja o que houver.

Não tô nem aí...
Eu não tô nem aqui pro que dizem.
Eu quero é ser feliz
E viver pra ti.

Pode me abraçar sem medo.
Pode encostar sua mão na minha.

Meu amor,
Deixa o tempo se arrastar sem fim.
Meu amor,
não há mal nenhum gostar assim.

Oh, meu bem...
Acredite no final feliz...


Meu amor

Acaso

  O acaso é uma roleta de resultados improváveis. Muitas vezes ele escolhe conectar pessoas cuja existência, como um gráfico exponencial se aproximara ao limite mas que nunca antes poderia ter se tocado. Um entrecruzado de vidas, um novelo de histórias, sobrepondo-se e ofuscando umas as outras, movendo-se tão próximas que quase se unem, sem realmente tornarem-se uma só.
  Até que um dia qualquer as parcas resolvem tecer num único pano, uma meia, ou cachecol, unindo seres de vontade e pensamento total e completamente distinto, tornando-os amigos, inimigos, amantes...
  E todos, num pico de ignorância temem separar-se, ou ter seus fios cortados, quando deviam apenas sentir o mosaico formar-se entre si, criando uma complexa rede de ligações e acontecimentos, sonhos, metas e memórias, que simplesmente por existirem, dão um objetivo para a vida... Um motivo para viver, maior que qualquer promessa de salvação ou punição que qualquer religião possa oferecer.

Sem licença

  Nunca gostei de por favor'es e obrigado's... Simplesmente por algum motivo que desconheço essas palavras dizem muito pouco para mim. 'Com licença' é apenas um modo de dizer deixe-me passar, ou apenas dizer 'estou aqui.'
  Só sei que eu sei de uma coisa. Disso tenho certeza neste instante. É melhor pedir perdão do que permissão.