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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Pecadilho.

   Com o coração parado em algum local entre o umbigo e a garganta, senti as mãos suarem e o ar esquecer como chegar aos meus pulmões. Um piano estava tocando em algum lugar, uma batida lenta... Me enlouquecendo.

   Eu não sabia para onde olhar.

   Num par de saltos altos, ela caminhou na minha direção com a determinação de uma caçadora. Vestida de preto, esbelta, perigosa. Olhos esfumaçados de maquiagem escura, um olhar dirigido ao cerne da minha alma. Lábios vermelhos como uma vampira sedenta. Quanta libido. Mesmo se eu quisesse, não poderia me mover.

   Ela dançou para mim. E cada movimento era como um chicote agudo estilhaçando minha sanidade. Curvas torneadas que só podem ter sido trabalho conjunto de Deus e do Diabo. Se o pecado tivesse a forma dela...

   Acho que eu também não viveria mais no Paraíso.




domingo, 21 de junho de 2015

Opte pela honestidade.

   Não creiam que para manter a auto-estima e as boas energias em uma relação conjugal deve-se constantemente dizer ao outro que está maravilhoso todo o tempo, mesmo que seja necessário mentir.
Na verdade, é quase o inverso. Optar pela mentira "ingênua" para elevar a autoestima pode ser um mal. É assim que os casais acabam por negligenciar sua aparência física, se tornando pouco atraentes um para o outro no processo.

   Na minha opinião, você deve apenas optar pela honestidade. Ser sincero com o outro em todos os aspectos de seu relacionamento. Afinal, se você não diz a verdade ou não expressa suas opiniões com medo da reação de seu parceiro, alguma coisa está muito errada.

   Eu preferiria ter minha esposa, num potencial futuro, me dizendo que eu deveria perder alguns quilos do que perder o seu interesse por ela não me achar mais atraente.

   E o pensamento funciona ao contrário também, é claro. Não quero deixar minha libido apagar por não me sentir mais atraído pela pessoa que escolhi ter ao meu lado.

   Sejam honestos uns com os outros. É o melhor meio de fazer as coisas funcionarem.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Vencimento

   Paga-se a produção de memórias com datas, como se lhes fosse um esforço a existência, uma conquista sob pressão, da qual é necessária comemoração por atingir uma longevidade inesperada. Conta-se os dias até que se tornem meses, pois cada amanhecer é uma vitória; depois os dias tornam-se sem importância, contam-se os meses, pois a durabilidade procura outra medida; depois os meses são apenas meses, contam-se os anos, aniversariando a resistência como se fosse um milagre que resistisse ao tempo.

   Discordo destes termos.

   Colho os dias, vivendo-os um após o outro, incomodado e simultaneamente em paz com a certeza da finitude. Minha, de quem eu amo, do meu sentimento mais profundo, da Terra, do Universo... Tudo um dia há de perecer.

   A certeza deste fim me leva a aproveitar cada dia como o último, ou fazê-lo tanto quanto é possível para a minha nem tão hábil memória. Agraciar meus pais com presença e afeto, mesmo não sendo "seu dia"; abraçar os amigos apenas por serem amigos, não pela constatação de uma data para o abraço ou para o amigo; amar por ter amor a dar, não porque alguém disse que aquele dia é feito para exibi-lo.

   Sou contra o vencimento estipulado da vivência, contra o pagamento ansioso pela longevidade das coisas do coração. Que elas sejam naturais, estendendo-se dia após dia e sendo aí louvadas, que lhes sejam prestadas glórias pela mudança que fizeram, não por sua oficialidade e duração. Porque dar-lhes valor por sua duração é ato falho, tirando do amor o brilho de sua finitude.

   Nenhum amor é pra sempre. E o que há hoje, amanhã perece. E é no fim de um amor que deve nascer outro. E falo mesmo de outro amor pela mesma pessoa.

   Como uma fênix, o amor deve morrer e renascer das cinzas mil vezes no período de uma vida, para que dure até o fim, brilhando sempre com a luz de uma chama recém acesa.