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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Escape do óbvio

Em cada linha há um segredo, em cada vírgula há uma piscadela indiscreta, mas poucos olhos podem ver. Há de se ver além do comum, pois cada palavra tem uma tradução intrínseca e escondida em si mesma, mas só o interesse pode revelar o que jaz escondido por trás das cortinas.
Há um espelho narcisista nos meus escritos, imerso em cliques poucos. Há um eco ressoando entre minhas frases mais profundas, como o som reverbera pelos vales mais impossíveis de se mapear. Há nas letras primeiras de cada texto, a enumeração dos endereços e seus destinatários.
É necessária muita atenção, pois não há marcação que se veja sem que se procurar. Não há resposta para declaração que não seja feita. Não há verdade em incertezas. 

Sempre bom

Não tenha medo de apertar esse botão
E acender toda a euforia pueril
Que fica guardada nesse coração

A pulsação vai a mais de mil
E logo começa uma catálise
Então te cura do que te feriu

Para que o passado finalize
E tenha espaço para mim, só
Não pense que confiar é um deslize

Pois na chuva ou sob o sol
E em qualquer som
Do mais desafinado Si ou Dó

Esse sentimento será sempre bom.

Sem controle

   As marcas escondem-se sob as dobras da roupa, mas eu consigo vê-las com uma fagulha invisível que percorre, num átimo, o meu íntimo. Elas fervilham como uma febre mental, roçando cada curva. Seu alarido intermitente interrompe cada um dos meus pensamentos, impedindo-me de descrever quaisquer dos querubins sob a minha cama.
   A frustração é inspiração para poemas sem rima e prosas sem rumo, famintas por pele macia e toques bruscos. Minha fome não se cala com pedaços cozidos de carne ou com o álcool, cambaleando torta pelo meu peito como um bêbado sapateando sem equilíbrio em cada músculo.
   E de todo músculo sem controle, domo apenas a minha própria língua, que permanece insana. Ela que chicoteia palavras emudecidas e clama por uma sede que não pode sanar. Ela que se contorce por um sabor salgado que não se pode alcançar. Ela que dita a contragosto cada uma destas palavras, sem sair de sua prisão branca sob meus lábios cerrados e famintos.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Ri

A melhor risada é a que ressoa na cara do perigo com todo o gosto. Aquela mais grave, vindo ribombando pela garganta com ritmo cardíaco, cheia de significado.

domingo, 26 de maio de 2013

Careful

Hey,
Has been a long time since I wrote to you, hasn't? Yeah. I heard about you, about her, about everything. You know how I am always watching for you and I've so much things to say.
I received your letters, if you want to know. But I hadn't anything to comment... Until now.
Should we be afraid? What do you think? I bet that you have many reasons to say "no". And I agree. Yeah! Why not?
Take off that stupid smile and listen to me. Make the right choices, make she happy. Are you listening? I hope so.
You must be asking why did I wrote now, after months away... I can explain: you were too far, but now you are falling (if you know what I mean). 
She pulled you back. She woke you. She saved you, rescuing me in the process.
I'm back because she made you believe again. And I'm on my way to believing.

R.J.

On the head letters.

Boa noite. Sonolenta noite. Silenciosa madrugada indistinta. 
Rói minha sanidade, essa agoniante esperança, essa fome que nunca satisfaço por completo.
A loucura se espalha dentro de mim como um incêndio consome as folhas de uma floresta seca.
Nasce da língua irriquieta que pede mais que água. Pede mais de si mesma em outra igual. 
Como suprimir um instinto tão primal, tão humano e tão potente?
A única solução tem nome próprio. Aqui propriamente inscrito.

Subtração

Algumas vezes erro de propósito só pra pôr as mãos no pó. Para descer das nuvens em que ando e não esquecer de ter empatia. Para lembrar-me as lições sobre humildade. Para me perdoar por errar e rememorar como perdoar o mundo.
Esses erros me machucam mais que tudo. Geram comichões por todo o corpo, nós sobre nós na garganta, mas superar estes incômodos subtrai de mim a face obscura da ira.
O que você faz pra ser feliz?

Faz sentido.

 É verdade.
Um sentido com cheiro de maresia. Duas vezes salgado. Sob as piscadelas estelares e sob o bocejar  do sol semiescondido.
Bastou parar de procurar para encontrar.
Sem muitas explicações. Sem nenhum motivo aparente. Sem lógica alguma.
Só aconteceu.
E agora tudo faz sentido.

Entrelícias


Há um sentido escondido nessas entrelinhas.
Previsões de um futuro breve.
Ecos de desejos íntimos.
Reflexos de um olhar feminino.
Expressões artisticamente incultas.
Um infinito de significados.
Marcas de uma paixão inédita.
Frutos de um amor recém nascido.
Sem mais.

sábado, 25 de maio de 2013

Como uma torrada que cai da mesa


   Sentei sem dizer nada. Ela também permaneceu calada. Tocamos levemente a ponta do nariz por um rápido instante. Pisquei lentamente sem deixar de fitar seus lindos olhos castanhos. Ela parecia ver o meu íntimo, mas não se alterava. Ergui a cabeça, sentindo um odor alcoólico que ela ignorou. Enquanto eu movia as orelhas como sei fazer, tentando identificar o cheiro, ela recostou o rosto quente no meu pescoço e me acariciou com a face. Não pude suprimir um ronronar felino. Sem pudor, ela roçou minha orelha e não resisti: mexi freneticamente a pata traseira e dei um latido.
  
    Com a cauda balançando, coloquei a língua para fora e declarei meu amor num uivo só. Ela riu, segurou minhas bochechas e me tascou um beijo no focinho. me derreti todo, ronronando.
   
   "Shhh, Max! Vai acordar todo mundo!", sussurrou ela.

  Deitei no tapete com a inércia do movimento de uma torrada que cai da mesa. Não podia estar mais feliz.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Amor pela metade não é amor.

"[...] Que você a assuma. Que goste dela de verdade. Que nunca a engane nem esconda seus verdadeiros sentimentos. Que não deixe que a ausência de planejamentos o impeça de ser feliz. E que nunca a faça acreditar que ela é a mulher da sua vida se você mesmo não tem certeza disso. Ninguém merece uma felicidade por prazo determinado. Amor pela metade não é amor."
(Sara Albuquerque) 

Quanta genialidade minha amiga de coração consegue pôr em poucas palavras. Eu bem sei que ela escreveu tudo num tom muito cinza, mas isso não lhe tira nem um fio de verdade. Uma verdade que pode não ser universal, mas é a minha verdade também.
É por essa percepção que eu não canto sentimentos a torto e a direito. Não é timidez, não. Nem uma estúpida vontade de parecer forte ou insensível. É uma sabedoria simplista, poética e altruísta.
Não expresso nada do que não tenho certeza. Não acolho ninguém a menos que saiba ser para a vida inteira. Cuido bem do que cativo. Minhas afeições podem mudar de intensidade, de tom, até de sabor, mas nunca se desfazem.
Por isso discuto comigo mesmo, em pensamento, em sonho, em prosa e em verso. Onde o mundo pode ver ou onde ninguém pode escutar. Até a exaustão, eu me interrogo. Até que esteja gravado no aço dourado da máquina que pulsa no meu peito. Até minha pulsação seguir um ritmo que me renove ou me inove por completo.
Nunca fui de gostar pouco. Ou eu gosto muito, ou não gosto. Então quando assumo gostar, pode crer que gosto mesmo.
Quando amo, amo por inteiro. De verdade.
Porque ela está tão certa quanto se pode estar...
Amor pela metade não é amor. 
"Nada" é uma palavra esperando tradução.

Cartas anônimas

Eu recostei naquela cadeira de balanço com um cansaço ancião. Estava faminto, mas não sabia se era só fome ronronando na barriga ou se era saudade pondo borboletas no estômago. Eu sabia bem que não podia tirar alguns espinhos dali, mas seria audácia fingir que eles não existiam. Eu não sabia se tinha motivos para rememorar coisas esdrúxulas e histórias de comédias, novelices de noites insones que a vida foi jogando no meu peito. Coisas que fui jogando por sobre o ombro para não me impedir de ver o que importa.
Acontece que não tenho dejavú com um beijo que seja. Nunca houve, nem há ou haverá espaço para mais que um par de olhos no meu sono e na minha insônia. E cada carta anônima e sem destinatária, crônica indelével, conto faminto, todo e cada parágrafo e rima, que ficaram vagando pela mente, sem ter porquê de existir, encontram olhos que os leiam agora. Cheios de sentido.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Retrospectiva


   Gostaria que minha memória nunca falhasse - de modo que cada cada erro e acerto ficasse gravado no fundo das minhas retinas.
    Retomo essa vontade pelo simples fato de mergulhar numa retrospectiva de tudo que aconteceu até este exato momento, em que cada batida do meu coração tem um motivo a mais de existir. Em que meu pensamento retorna teimosamente para o mesmo sorriso, para os mesmos olhos, para um recanto aquecido dentro de um laço de braços. Um abraço que não me sai da lembrança.
    Meu inquieto sono é repleto de sonhos de sabores variados. De pratos picantes e bebidas doces. E ela está sempre presente. Em cada sonho. Em cada devaneio. Em cada palavra que escrevo aqui nesse lugar sempre iluminado.
    Tento inutilmente me lembrar de cada momento desde aqueles vinte segundos de coragem insana, mas sou incapaz de recordar. Como se vinte séculos de emoções se agitassem num espaço tão curto de tempo.
    A coragem não me abandonou nem por um momento. Sinto-me cada vez mais insano, também. Esqueço-me de muito, mas o que não se vai me engole por inteiro. Não há mais poesia minha que não esteja repleta de sentimento. Já não me pertenço mais. E por mais que eu tente olhar para trás, numa retrospectiva, não consigo saber quando me tornei tão entregue.

Disfarce

  Um "I love you" disfarçado de "bye bye", corrido ou suspirado, palpita o coração como uma declaração de amor ou de paixão distante, por mais que sejam apenas emoções inconstantes e distanciadas.
   As certezas da nublada memória se desfazem sem que nada resta além de saudade, de ausência e da frustração expectadora de quem espera sempre pelo som da mesma nota, da mesma voz, do mesmo olhar.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Interrogações Filosóficas #1: Religião e Amor


Crê em Deus aquele que não crê em si mesmo... É um modo de ver. Ou a crença está intimamente ligada a quem somos?

Deus como ideia ou como ideal?
Quando surge Deus no Universo?
Qual a ligação de Deus com o Big Bang?
Há planos para cada um de nós? E o livre arbítrio?
Orar x Rezar, qual a diferença?
Deus está sempre nos ouvindo, sempre nos vendo? Por que rezar então?
Pelo que você reza/ora?
Já foi atendido? Agradeceu?

Criacionismo x Evolucionismo: compatíveis ou contrários?
Morte: fim ou início?
Por que os homens temem a morte?
Ateísmo: negação ou reflexão?
Religião: base ou teto?
Humanidade: construção ou destruição?

Existe amor à primeira vista?
Como se reconhece o amor? Você já amou? Qual é a sensação?
Estar apaixonado é estar amando?
Há mais de um tipo de amor? Amor ao próximo, amor à raça, amor ao país?
O que é o amor? Instinto de sobrevivência da espécie ou algo mais espiritual?
Paixão e amor são completamente distintos ou se contemplam? Ou se completam?
Como aconteceu a futilização do amor no novo século?
Como envelhece o amor? Ou como o amor amadurece?


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Já é hora.


   Algo que muito me aborrece é a situação da raça humana. Nós, seres capazes de alterar o fluxo do mundo estamos restritos a rotinas sem cor, ciclos viciosos e intermináveis de exaustão física e mental.
   A humanidade foi capaz de erigir pirâmides, extinguir raças, criar ilhas, construir prédios altos o suficiente para tocar as nuvens. O bicho homem mostrou-se capaz de criar as próprias asas, as próprias nadadeiras, as próprias armas e agora parece estar estagnado num buraco cavado por ele mesmo.
   Como é possível que os seres mais poderosos desta terra estejam resumidos à busca interminável por algo tão fútil quanto dinheiro? Deixamos de ser os gênios criadores que abriram a mente para perceber as ondas, o calor, a luz e a eletricidade e voltamos a ser macacos estúpidos, fanáticos por pedaços de papel colorido.
  Como o homem pode ser tão primitivo ao ponto de caçar a si mesmo por "ideais" esdrúxulos, padrões ridículos sobre a quem se deve amar, que figura fictícia deve-se idolatrar, que terra habitar.
   E falo mesmo figura fictícia, pois do meu ponto de vista já é mais que hora de evoluirmos. Não, eu não creio em Deus ou qualquer coisa parecida. Eu creio no ser humano. Creio na humanidade... Mas ela ainda não crê em si mesma.
   Duzentos anos atrás, tudo aquilo que hoje chamamos tecnologia e usamos com tanta naturalidade seria chamado de bruxaria. Diante dessa perspectiva, como é possível que o único ser neste planeta capaz de desvendar os segredos do universo se permita baixar a cabeça para uma ideia tão tradicionalista como a religião? Como deixar em aberto as perguntas que os filósofos de dois mil anos atras já se faziam? Como fechar os olhos diante do longo caminho que temos a seguir?
   É tempo de mudança, mas a humanidade se encolhe com medo do avanço... Dando oportunidade para ódios infundados, medos incoerentes, velhos preconceitos. Já é mais que hora de perceber que quem menos sabe, mais teme. Portanto é hora de acolher a sabedoria e afastar o medo.
   A carruagem do tempo continua na sua marcha ainda lenta e a humanidade permanece fitando as orelhas do cavalo. Já é hora de levantar os olhos para o horizonte, recuperando a perspectiva do universo infinito que ainda nos resta para desvendar. 
   Devemos voltar para a ponta dos pêlos do coelho e perscrutar dentro da cartola do mágico, pois há uma grande chance de nossas esperanças estarem ali no fundo.
   É hora de dar o devido valor a cada coisa. Começando por tirar o valor superestimado dos pedaços de papel colorido em torno dos quais temos estruturado as vidas supérfluas que estamos vivendo. 

sábado, 11 de maio de 2013

Até então

Minha mente está nublada pelo sono. Num lugar mais profundo, a fúria se revolta contra tudo aquilo que acredito. Uma parte mais racional tenta segurar as vigas para que tudo não desabe, mas isso não impede que algumas janelas se quebrem. O que é muito triste. Estava tudo tão bonito, tão intocado. Até então, perfeito.

Invertido

   Não é algo que saia da minha boca com frequência, mas essa noite eu posso falar com todas as letras que... Não quero dizer que odiei ter saído de casa.
   É impressionante como a putrefação se espalha facilmente. É difícil transformar um dia que começa ruim num dia bom. O inverso é tendencioso. Fácil.
    A noite que começa bem perde o caminho com a inexistência de resposta para correspondência tão carinhosamente redigida. O caminho segue por uma entrada enlameada quando um chamado azedo me é servido por acaso. Divertidamente, desemboca num fosso frio, fora dos mapas, com um retorno improvável. Fruto podre de um empurrão familiar.
   

O pior sorriso

   Pois é... Algumas vezes o tom de voz tem uma mensagem mais importante do que as palavras que são ditas.
   Os grilhões invisíveis e - pior que eles - as barreiras invisíveis criadas por algumas poucas palavras são como um sopro gelado para a alma feliz. E o que representa esse sopro?
    Não sei. Penso nisso sem conseguir desvendar essa mão gélida que aperta meu coração.
Sei bem: o sopro que apaga a vela reascende o que é para ficar. Anitelli me ensinou isso.
    O que não tenho mais certeza é se o que temos é vela ou chama viva para ficar. Sinto frio. Não frio fisiológico. Um frio mais profundo. Tento crer no melhor.
    Meu coração está palpitando. Um palpitar de ansiedade. De medo. Incômodo e insistente, nascido do meu inconsciente conhecer da minha sina.
   Sina de sofrer sempre que abro o coração.
É meio lógico, talvez. Quando o fogo se espalha, tudo consome. Nada resta. Não resta nada, meu amor.
   Só cinza.
   Preocupação é desculpa para desprezo? Não no meu mundo. Ainda que meu mundo seja um tanto louco. Ou completamente sem nexo.
   Ser direto sempre me destrói. Ou melhor, destrói aquilo que me cerca. O que dá no mesmo. 
O fogo só é bom quando não toca a pele.
   Será que o tempo cura a queimadura? Sera que o tempo leva o frio embora? Será que devo ir embora?
    Não sei de mais nada. Isso me enfurece. Fúria fria. Gelada. Apesar disso eu mando o meu pior sorriso. O mais sarcástico, claro. Pensando no sabor amargo da raiva e desfrutando dele.

Afinal... "Onde você pensa que vai?"

terça-feira, 7 de maio de 2013

Alguém

O meu amor é distinto e impossível de explicar, pois ninguém acreditaria. Não amam como eu. Sabe-se lá o porquê, mas mesmo os mais velhos me olham com descrença quanto tento mostrar meu interior. Talvez seja o amargor da vida deles próprios querendo se espelhar em todos os que veem.
Não tenho ciúmes porque meu amor é confiante, é altruísta. Eu não procuro alguém que me complete, pois completo já estou. Nem exijo que me façam feliz, pois já o sou. Procuro alguém que eu possa fazer feliz. Alguém que se torne melhor por minha causa. Alguém que fique porque deseja. Alguém que cresça comigo. Alguém que me leve a ser um homem melhor.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Só escolha.


   Príncipe ou sapo. Senhor ou escravo. Menestrel ou saltimbanco. Nobre ou plebeu. Seja vivo, seja morto ou morto-vivo; fictício como um sonho ou mais real que sua carne. Qualquer coisa, qualquer hora, em qualquer lugar. Diga o que você quer e eu serei.