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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Pormenores.

    Piscou para mim. Com a lentidão de um pôr do sol. Fitar a negritude da pintura de seus olhos foi como ver a bela, fria e densa escuridão que precedeu a existência de tudo. E o abrir das pálpebras, uma exuberante alvorada castanha. 
    
   Seu semblante gótico convergiu nos olhos como um beijo vampírico, bebeu-me, tragou-me. Perdi-me. Não pude lidar com essa metódica cirurgia visual senão entregando-me ao seu toque delicadamente cálido como quem se deixa abrir pelo bisturi médico. Uma seta dourada e mítica, erótica.
   
   A nossa despretensiosa valsa, outrora efêmera, alonga-se por uma lua inteira e torna-se cada vez mais concreta, dentro desse quarteto tão certa e casualmente formado. Não tenho receio, embora não tenha anseios quaisquer para esse amanhã que pode nunca chegar.

   Assim, tão leve, parece trazer consigo o poder do bater das asas de uma borboleta, movendo furacões do outro lado do mundo. Assim, sem pressa, sem pressão, tem crescido como uma árvore regada a arco-íris e não sei até onde esse pé de feijão está decidido a crescer.

   Mas lascivo como mostra-se nos discos pintados em quadro branco e risonho como copos de onomatopeias virados à dose, ouso crer que pode haver gigantes lá em cima. Não aterradores ou vivos, nem mesmo literais, mas reais o suficiente para prover histórias de ninar, quiçá histórias de amor.

   São destas histórias que eu me alimento e essa aqui tem um sabor que não canso de provar.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Destino.

   Agora.

   Uma síndrome de certeza absoluta investindo contra portas destrancadas.

   E paz.

   Harmonia natural, do vento nas árvores e das nuvens no céu, dos carros em suas quintas marchas.

   Tudo está em seu devido lugar.

   Cada esquina e cada tropeço de cada um de nós. Os dias bons e os dias ruins e os ótimos dias todos parecem pálidos quando comparados ao presente. É um presente. Será que sentem essa benção como eu?
   A sincronia de ritmos cardíacos. A sintonia de futuros possíveis. Possíveis futuros sobre os quais é perigoso pensar. E mesmo que não tenha sentido, estou sentindo que estou onde deveria estar.

    Parece que vim guiado pelo destino e permito-me viver, ficar e deixar tudo como está.