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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Leveza


Não me leve tão a sério.
Me leve no peito, de leve.
Leve no peito o meu amor e, comigo inteiro, se deixe levar.
Leve esse peso para longe.
E se, de leve, sentir saudade.
Me leve consigo para onde for.
Não se deixe levar por minhas inquietações levianas.
Leve mesmo é meu carinho.
Que me deixa de cabeça leve ao pensar em você.
Leve o que quiser de mim, só não leve seu amor.
Que é tudo que fará realmente falta quando sumir.
Mesmo que de leve.
Leve meu receio embora e, sem demora, satisfaça meus anseios.
Deixe sua marca indelével no meu coração.
Que já anda tão leve.
Que não tenho mais os pés no chão.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

03:15

    Faz um longo tempo desde que essa viagem foi feita através de um dilúvio de chuva, num clima incômodo de insatisfação e tristeza. Agora, como que uma vida depois, refaço meus passos mais ingênuos com a sensação de completude. O mundo dá voltas. E o tempo me levou a reescrever um romance como um sonho às 03:15. Um talvez por vezes desprovido de sentido, outrora cheio de significado. Um relógio vitalício clamando o proveito das madrugadas.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Só amar não basta.



   Tudo o que todos querem é amar. Encontrar alguém que faça o coração bater forte no peito e justifique loucuras, como construir um Taj Mahal em homenagem à esposa. Que nos faça entrar em transe, cair de quatro, babar na gravata, que nos faça revirar os olhos, rir à toa, cantarolar dentro de um ônibus lotado.

    E quando acaba esta paixão flamejante, o que sobra?

    O amor. Não o amor mistificado, de forma alguma... Não o amor que muitos creem ter o dom de fazer levitar... O que sobra é pura e simplesmente o amor que todos conhecemos, o sentimento que temos por mãe, pai, irmão, filho... É tudo o mesmo amor. A diferença é que entre amantes existe sexo.
    Não existem vários tipos de amor, assim como não dá pra distinguir cada tipo de saudade que nos aflige, ou enumerar oito espécies de ódio, dez tipos de inveja.

    O amor é único, como qualquer emoção verdadeira, seja ele destinado à família, ao amante ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser incessante. Por não haver nenhuma garantia de resiliência, de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza e assim, de cobrança em cobrança, acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.
    Casaram. Te amo prá cá, te amo prá lá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um relacionamento exige mais do que buquês e declarações românticas.
    Quando duas pessoas decidem compartilhar uma vida tem de haver muito mais do que amor e olha que às vezes nem precisa ser um amor tão intenso. O mais importante, mesmo, é que haja, antes de mais nada, respeito. Compreensão. Sem agressões. Disposição para ouvir o que o outro tem a dizer. Alguma paciência. Não há espaço para competições ou comparações. Tem que ter flexibilidade para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem de haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar. Só amar é pouco.
   Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar TPMs, rejeições, demissões inesperadas, contas e dívidas pra pagar.

    Tem que ter entrega, para chegar Aquela hora e dizer: "tenha um filho comigo". E requer muita disciplina para educar filhos, dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psicológico - e na falta deste, um bom psiquiatra. Não adianta amar, apenas... Entre casais que se unem visando a longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem, um chope no fim da tarde. Às vezes é preciso fechar os olhos e fingir que não viu, ou fazer de conta que não escutou. É preciso "ser cego de um olho e surdo de um ouvido”.

    É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. A liberdade é o laço mais puro de todos. E para quem acha que amor é só romance... só poesia, falta discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

   O amor é grande mas não é dois. 

   O amor até pode nos satisfazer, mas ele sozinho não basta.