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domingo, 4 de dezembro de 2016

Alinhamento de Planetas

   Fui acometido por uma doença estelar desconhecida,  um calor mercuriano aquecendo as entranhas e ardendo a pele, enquanto toda a feitiçaria de Vênus me enche de luxúria, de desejo, de todos os encantos que Afrodite foi capaz de inventar.
   Meus olhos brilham com toda a vida que só a Terra é capaz de ter. Nem me reconheço, nem consigo entender todo esse carinho, todo esse amor, mais que amor, essa idolatria completa que me submete, dá vontade de cair de joelhos e rezar às suas curvas, ao seu calor, a tudo que guarda no seu corpo. Um desejo tão forte que urge com toda a fúria vermelha de Marte, toda ela. Sob cuja camada rubra fica guardada toda aquela misteriosa vida alienígena, como é esse sentimento de total submissão, essa estranha necessidade que eu nunca antes senti. Quase piegas, essa emoção cresce como uma tempestade de raios cósmicos, tão grande quanto Júpiter, me envolvendo, me tecendo, prometendo anéis como de Saturno, para envolver os dedos por um curto instante na idade suprema das estrelas. Capaz de tomar todos os lugares em que me permitir entrar, numa piada de idioma alienígena que me fala que caibo e entro êxtase em todo e qualquer espaço que puder caber, de Vênus que já passara até Urano, sabendo que todo seu íntimo estará como o Netuno lendário, um mar, toda molhada e cheia de vida, comigo sendo teu satélite e todas as suas luas.

domingo, 3 de julho de 2016

Olhos de Pôr-do-sol

   De tanto ver o céu, a gente esquece de se espantar com o pôr-do-sol. De viver tão perto do mar, a gente esquece de quão gostoso é cair na água. E é um erro.

   Não quero me esquecer, porque desde que olhei pros seus olhos de pôr-do-sol, naquela maquiagem esfumaçada de preto, fui arrebatado. Desde que aquela vampira de preto me olhou no fundo dos olhos, eu era dela. E sou ainda.

   Me olha todos os dias com aqueles olhos de devorar minha alma. Me devora com aquela boca escarlate de pecado. Sou seu pra tomar e usar, até que a noite seja mais escura que a sombra dos seus olhos. Tão escura que a gente veja o sol nascer pela janela, de novo e de novo.