Amor, devo confessar-lhe algo:
Antes de você, não havia incômodos em meu coração,
Meus lençóis aqueciam-me bem à noite,
Minhas mãos ocupavam-se com lápis e pincéis,
Meus olhos fotografavam o verde e o anil
Do campo em fim de tarde.
Amor, devo agradecer-lhe por corresponder-me:
Antes de você, só havia batimento sem graça em meu coração,
Meus lençóis eram apenas pedaços de pano,
Minhas mãos não possuíam vontades, desejos ou alívios,
Meus olhos eram lentes coloridas e sem brilho
De paixão, admiração ou lascívia.
Amor, torno-me subitamente feliz quando você está presente.
Com você, ponho de volta no lugar o pedaço roubado do meu coração.
Encontro-me, no abrigo de seu abraço.
Minhas mãos aquietam-se, finalmente, com os dedos entrelaçados
Meus olhos suspiram, aconchegados e brilhantes, imersos em seu olhar
De lagunas inquietas, tonalizadas em cerúleo.
A saudade dá lugar ao conforto.
Amor, torno-me resolutamente melancólico ao pensar em despedir-me.
Sem você, tateio o vazio oco e incômodo que se abre em meu coração.
Perco-me ao sair de seu abraço, mas você tem de ir.
- Não vá!
Minhas mãos vagueiam pelas dobras de roupa, agarrando-se a memória de seu corpo.
Meus olhos se recusam a ver, para guardar - nas pálpebras - sua imagem
De caracóis rubros, lábios corados e palmas febris...
A saudade me submete a suas consequências.
- Amor!
Antes de você não havia nada disso e, enquanto contigo, não há estorvo...
Mas sua ausência está afetando minha vida.