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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Talvez uma metáfora


   Essas esdrúxulas e ridículas ideias brotam como diabretes infantis e irracionais do centro do ser, escapando à racionalidade. Nenhum de nós, seres humanos, está a salvo do indelével contrato com as emoções insanas que nos ascendem ao alvorecer e assombram no entardecer de cada dia.

   Para alguns um tormento, para outros, arte. Abuso da artimanha de alimentar cada centelha de emoção até a exasperação niilista de quem conhece a si mesmo. E como conheço!

   Dessas egocêntricas passagens sentimentais, rabisco um romantismo impressionista, trancafiando libertos estes devaneios insensatos. Ó, Glória. Shakespeareanas e teatralizadas, sentidas e exaltadas, essas emudecidas e pueris ficções se tercerializam para que eu as assista e entenda cada vez mais profundamente o íntimo da alma humana. Minha alma.

   Talvez Wilhelm esteja correto e a alma seja uma lamacenta, mísera e lastimosa criatura a pesar sobre a nossa divina carne. A carne e seu instinto não possuem prantos, depressões ou revoltas. A carne é. O instinto quer. Uma vez satisfeitos, não deixam espaço para contudos ou entretantos.

   Em bem-me-queres, meus metodológicos instintos casaram com a razão. Estas expressões de insatisfação e inquietação sentimental são meras quimeras da minha transmutação incompleta em divindade terrena, no plano das ideias. Estas absurdas reclamações merecem nada mais que a ignorância, para que aquietem-se e tornem-se nada mais que objeto de estudo. Um microcosmo do universo social. Um "quê" a mais, para aumentar a sabedoria.

   E talvez seja tudo uma metáfora alterista, para saber o que o mundo sente. Cheia de palavras complexas, ideias esdrúxulas e ridículas. É... Talvez seja apenas isso.

Três Tempos

Há ouro correndo no meu corpo preto e branco. E tudo dança numa balada setentista de imagens borradas.

Passado..

Me envenenou com seu charme ferino e torceu num nó apertado cada veia como os cadarços de um sapato velho e carcomido.

Ainda estou entorpecido. O ouro que correu nas minhas veias me fez pulsar e ferver, mas a noite terminou em preto e branco. As danças embaladas em músicas setentistas deixaram um punhado de imagens borradas e memórias nubladas que não me deixam esquecer.

Presente.

Me envenenou com um charme felino, um desejo ferino... Não sei se você sabe, mas me deixou torcido num nó apertado e meu eu insano veio a tropeçar e se perder.

E ao que possa parecer, assim queira cada parcela em mim.  O ouro saiu das minhas veias me deixando vazio e frio e calado, mas pássaros azuis trouxeram minha voz de volta. Está tudo um tanto azul e as baladas de indie rock repuseram um punhado de esperança e memórias forjadas que me levam a observar.

Futuro.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Cento e Quarenta



Nesta terra de palavras vazias e letras poucas, ela é uma colher cheia. Não. Um mar inteiro de boas ideias, soberana de pensamento e emoção.

Sob efeito da abstinência mais cruel, ela me pintou com um pincel de poesia, de Anjos e de Rosa. Sou agora de Jobim, de Moraes, de Bandeira.

Ela me reinou em cento e quarenta caracteres apenas. De frase em frase, sob este efeito de angustiante sobriedade, eu sou apenas de Andrade.