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domingo, 23 de setembro de 2012

Brisa



"Vamos viver no Nordeste, Anarina.
Deixarei aqui meus amigos, meus livros, minhas riquezas, minha vergonha.
Deixarás aqui tua filha, tua mãe, teu marido, teu amante.

Aqui faz muito calor.

Lá no nordeste faz calor também.
Mas lá tem brisa.
Vamos viver de brisa, Anarina."

Manuel Bandeira

E blues.



   A pista vazia e o som de tango. A pista cheia e o gelo seco. As mulheres bonitas e as pessoas esnobes.
E blues.
   Os dois mexicanos e a tequila. Os amigos mais próximos e a bebida. O sorriso no rosto e o primeiro passo.
E blues.
   A ausência e a alegria. A roupa de gala e boemia. A solidão e a fantasia.
E blues.
   Ai, solidão. Alô, sedução. Esgota-me a energia que já não aguento o jazz e a dança. Deixa-me mergulhar em triste azul. 
E blues.
   Toca estas notas graves e vazias, sopra-me o sax na alma. Ouço o som dos dados a quicar na mesa e risadas ecoando ao longe. Perdi sem nem saber o que me atingira, mas ora, ora... É um jogo. Nunca parei e pensei. Penso agora. 

Não dizem que azar no jogo é sorte no amor?

Amor...

E blues?

sábado, 15 de setembro de 2012

Sobre mulheres, álcool e X-duplos


   Estava seco, como uma caneta que escreveu demais. E vagava e vagava, a rir, encontrando e desencontrando, com companhias inigualáveis e fantásticas, mulheres de atitude com AC/DC no sangue e álcool... Muitas mulheres com muitas pílulas. Com
amigos de fraco caráter e muita honra. Estava perdido. Um poeta melancólico e um boêmio dividindo o mesmo corpo.
   Estava na hora de encontrar uma âncora, algo para infantilizá-lo e fazer brotar seu romantismo fajuto, estava farto de coisas falsas: falsas alegrias e falsas tristezas. Cheio de apetite por bebida e beijos doces. Era um leão sem savana, uma águia voando baixo num céu de jade. Faminto por corpos jovens e X-Duplos de esquina.
Não infeliz, mas não feliz ainda assim. Agradecido e satisfeito pelo que tinha e morrendo em si mesmo pelo que não tinha. Admirador de vestidos de verão, sorrisos verdadeiros e olhos curiosos. Escritor de palavras sem sentido e textos cheios de significado. Bêbado de felicidade e cerveja numa madrugada de sexta, esperando tudo de melhor da vida...
   Fanaticamente querendo despejar criatividade sobre a borda alta de sua alma. É complicado, sim, sem dúvida é. Mas sou eu.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Os Últimos Romances I


   "Sua pele era da cor da madeira de teca, escura e lustrosa. Os seus olhos eram de mel dourado e cintilante, como olhos de gato. Ele era magro e musculoso, com uma face régia e cabelos pretos como breu. Suas asas  negras refletiam a luz em tons de azul e roxo.

    A garota lembrou a si mesma de respirar.

    Lindo era a palavra certa para Tânatos - não bonito, ou intenso ou alguma outra coisa do tipo - ele era lindo como um anjo é lindo - atemporal, perfeito e remoto.

    Perto do anjo da morte ela se sentia como uma pilha de cinzas, a qualquer momento pronta para se desfazer e ser engolida pelo vácuo. Ela duvidava que Tânatos precisasse tocá-la para matá-la. Ele poderia simplesmente lhe dizer para morrer e ela o faria com prazer. Não só ela, aliás, qualquer um morreria em suspiro se aquele ser lhe ordenasse.

    Ela não queria mais pensar, não lembrava mais o motivo pelo qual o rapaz viera, não se lembrava de seu amor mortal, nem de seus desejos ou sonhos. Ela não queria lutar e assim cedeu e evanesceu [...]"

Crônica de Fim de Tarde


   Se encontravam há mais de seis meses, sempre no mesmo local. Revezavam-se em chegar primeiro, ora ele, ora ela. Pediam um café expresso e se encolhiam numa mesa de canto, até que o outro chegasse. Dividiam um café e uma história, ambos sem graça, conversavam sobre os dias e as noites.
   Ele insistia em acompanhá-la durante as aulas de arte, sentava-se num canto, quieto e lia um livro ou jornal, enquanto assistia a jovem esculpir vasos ou pintar telas. Ela o convidava para jantares humildes, um sessão de cinema, um beijo no estacionamento.
   Assim, pouco a pouco tornavam-se íntimos, mas como a ruiva cantou um dia - não se deve construir castelos sobre nuvens. Um dia ele sentou numa mesa de canto, agasalhado com um casaco que ainda tinha o cheiro dela, pediu um café e esperou. E o café esfriou. E o dólar ficou sob a xícara ainda cheia. E os passos foram-se sozinhos sobre a neve. E a mensagem no celular dizia adeus.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sobre Peixes, Luas e Cores



O PEIXE

O Peixe saiu da água para comer a casca do coco. O Peixe era bem grande, o Peixe era malvado e comeu a planta; primeiro ele lambeu e depois comeu. Ai veio um monte de peixes pequenos que era o pai e a mãe do Peixe Grande, o filho chupeta, o peixe tubarão e o outro filho tubarão. Ai veio o mosquito pequeno e a formiga voadora. Os outros peixes subiram no Peixe Grande e subiu no cavalo vermelho e no branco e no tubarão de parque, um cavalo com carroça e outro sem carroça. E foram para o parque e tinha uma praia misturada com piscina e um escorrego de balançar e cai na água e tinha um avião vermelho, azul, verde, cor de laranja e branco.

O mosquito foi para água primeiro e depois a formiga voadora, eles voaram da água para o céu, e tinha uma lua amarela, eles foram primeiro para a lua e tinha uma porta na lua nos dois lados e eles entraram na lua.

Ai o Peixe (pequeno) voo com o cavalo, o cavalo foi para a lua com o peixe e pegou os peixes num cavalo branco, preto, marrom e vermelho. E eles voaram. Os peixes cairam. O Peixe Grande saiu voando com o cavalo. Ai o Peixe acordou.

Juninho, 2 anos. Janeiro de 1998.

[ Essa é a minha primeira história, ditada por mim e datilografada (DATILOGRAFADA) pelo meu pai.]

Dia Internacional da Mulher, Março de 2012



Elas são, indubitavelmente, a maior maravilha desse mundo. Por mais que tenham sido oprimidas no passado, são agora livres e nunca foi tão evidente quanto poder tem uma mulher.


Essas lindas e complicadas criaturas que colocam os homens nas palmas das mãos. Foram elas ou foi por elas que muitos dos grandes feitos foram feitos. Dizem que por trás de todo grande homem tem sempre uma grande mulher... creio que seja verdade. Dizem também que aquela mulher que o homem mantém ao seu lado é o espelho do homem que ele se tornou. Creio nisso também.


Mesmo que seja o sexo masculino a possuir o tabuleiro, quem move as peças são elas. Elas. Elas enfrentam muito mais do que lhes seria devido e ainda assim são o sexo frágil, como espadas de vidro, capazes de ferir e se proteger, mas ainda assim são tão quebrantáveis... É claro que mesmo tendo defeitos, podemos considerar tantas delas como perfeitas e, obviamente, cada homem quer uma dessas perfeitas imperfeições ao seu lado.


Eu poderia passar horas escrevendo sobre esse presente da natureza que éo sexo feminino, mas irei me resumir:


__ Parabéns mulheres, moças, meninas, por serem os mais belos seres nessa verdejante terra de Deus, as mais complexas charadas, o maior estímulo, a grande felicidade, o outro lado da moeda e o vício e ruína de todos os homens... por serem mães, protetoras e professoras, guardiãs, guias e companheiras, esposas, namoradas, noivas e tudo o mais. Pois afinal não seríamos nada sem vocês.



Parabéns pelo seu dia.



Sam... para o Dia Internacional da Mulher

Eu pulo se você vier.

Baseado em Pó de Lua: II Ato: Você vai, Eu Pulo. de Clarice Freire em Pó De Lua


   Ambos sabemos que a vida não espera, minha amiga. Creio e espero que ainda possa chamá-la assim. Paramos a meio caminho, diga-se de passagem... e de passagem é que aconteceu, de passagem poderia ter ido embora. Mas não foi. Confessei meus apetites, cada um deles. Larguei de inibição e aticei a fogueira.
   Mas, embora eu seja um sujeito paciente, não sou dado a meios termos. "Um dia, sem esperar" não me é suficiente, quero deixar claro. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa é apenas a de ainda insistir em esperar.
E esquecer que a vida não espera. Então, deixo-te avisada, ou é ou não é. Dizia Parmênides que o ser é e o não ser não é. Por favor me diga um não e me liberte da fome que me doma a alma cada dia mais. Ou diga sim.
Eu deitei na areia, porque ainda me resta um pouco de medo de altura - e quem não tem? - mas se eu estou aqui embaixo, de braços abertos, qual é o teu problema em se atirar?
Que tal dar um basta nos talvezes e dizer que sim, oras! Já começou, então chuta o balde e me avisa, porque eu tô doido pra me molhar.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Sem vergonhas

   Desejos antigos me consomem, só a fúria da atração, só a carne e o sangue, o pulsar da vida nas suas veias. Quero tomar-lhe toda e todo o desejo irá consumir a si mesmo. Queimará vivendo e morrerá queimando.

   Há um grito em mim. Quero arrancar-lhe as roupas. Quero vê-la despida de tudo e qualquer coisa, quero olhar para a sua alma enquanto colocar você contra a parede de uma sala escura. Quero sentir a vida pulsando através da sua pele, quero tomar-lhe toda por uma mordida no pescoço. 

   Desejo vê-la sem ar ao ofegar o meu nome. Quero deixá-la em ruínas, sem forças para mais nada. Quero destruí-la para construí-la novamente. De novo e de novo até consumir todas as minhas vontades ou toda a sua força de vontade, o que vier primeiro. Quando não restar mais nada dessa casca dura que te protege, quando não houver mais nenhum instinto de defesa, quando você estiver quebrada e ofegante, só e somente aí talvez eu me permita me apaixonar.