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quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cata-vento

Sonho com um cata-vento de mentes soltas.
Um cata-vento que cata cada segundo como um conta-gotas.
E conta gotas de hormônio, de suor e de saliva.

Um cata-vento que gira ao contrário na brisa.
E faz o mundo todo parar.
Para o mundo e para o tempo.
Eterniza cada vão momento.
Em uma torrente de lembranças.

Um catador de doces como uma centena de crianças sorridentes.
Ou um apanhador nos campos, atirando ao solo as sementes.
Um cata-vento que move sonhos e me tira o sono.
Que respira memórias e desejos, transpirando frustração.
Uma efígie que não frustra ação nenhuma, mas que é sempre interrompida.
E me deixa novamente com o coração partido de tentação.

Eu sonho com um cata-vento que junta amores.
Que junta amantes e junta pedras em castelo.
Uma fortaleza horizontal e sinfônica, de arquejos, de suspiros e de nomes sussurrados.
Uma orquestra de vozes baixas e outros sons menos soníferos que tambores de pele.
Um cata-vento que revele o que há atrás das cortinas e sob as dobras de pano.

Eu não sonho mais...
Há relógios e tique-taques. Há pés e passos. Há corpos e floreios esguios de impulso.
Ouço ao longe um incessante resfolegar. Uma voz que geme do futuro. Um estapear tribal.
Ah!
Ouço um cata-vento.
Ronronando vontade. Rosnando desejo. Rugindo luxúria.
Ouço um cata-vento.
E ouço cada vez menos ventania. Menos vento. Menos brisa.
Ouço um cata-vento respirando devagar.
Um cata-vento que aperta as correias e puxa as rédeas.
O tempo está parando para nos ouvir transpirar. 

domingo, 25 de agosto de 2013


"Só o amor constrói pontes indestrutíveis"

Como taças de vidro

 
    Não. A vida não é curta. A vida é frágil. Tão frágil que não podemos prever que brisa pode fazê-la ruir.
   Costumamos esquecer disso, quando deveria ser a primeira coisa a lembrar todos os dias. Nós somos mortais. Cada um de nós.
    Com isso, não pense que estou tentando fazer com que você olhe uma vez mais para si mesmo; nem estou tentando fazer com que tema a própria morte. Não. os mortos não sentem dor.
    Quero que pare e pense naqueles que mais ama. Pare e perceba o quão humanos eles são. Pare e pense no que eles sentiriam se você fechasse os olhos para sempre. Pare e pense como seria perdê-los. Sem prorrogação, sem palavras finais, sem adeus. Apenas um tumulto. Apenas um grito. Apenas isto. Apenas o fim. Vazio, seco e sem explicações. Sem porquê nem para quê.
     Talvez você perceba o quão importante é viver cada dia como se fosse o último. Que faz toda diferença amar tudo que se tem para amar ainda hoje e demonstrar todo esse amor sem máscaras. Como se não houvesse amanhã. Pois talvez, afinal, não haja mesmo.
    Nossas vidas podem ser curtas, mas também podem ser longas, é verdade. No entanto, serão sempre - Sempre! - frágeis como taças de vidro...

    Que a qualquer momento podem quebrar.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Dualidade


  Há ratos no telhado e traças sob os lençóis. A sombra de fim de tarde se alonga sob as acácias, enquanto os último rastros áureos da estrela solar se espreguiçam antes de adormecer.

  A feiura e a decadência se enroscam num abraço lascivo com a beleza natural e o encanto pueril da materialização onírica das obras divinas sob o róseo e o anil do crepúsculo.

  A gralha e o corvo lamentam o coro dos comedores de mortos sobre lápides de mármore branco, farfalhando suas asas escuras contra a brisa que acaricia os lírios e as margaridas pálidas que brotam do solo negro.

  Esta dualidade cíclica demonstra o equilíbrio entre as feições do mundo. Uma moeda de vida e morte, reproduzindo o tintilar que ora suspira tristeza, ora urra felicidade.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Carta aos genitores

  Pensei que isso nunca fosse acontecer, mas aconteceu. Achei por um longo tempo - talvez ingenuamente - que vocês estivessem intangíveis a isto, mas parece que eu estava errado. Tudo bem, eu entendo.

  É triste, mas vocês já não estão mais na ponta dos pêlos do coelho. Não acomodaram-se no couro quentinho ainda, mas é fato que já se voltaram para baixo, deixando de vislumbrar a vastidão da cartola do mágico. Logo completarão a descida, alcançando a comodidade que passaram a procurar.

  Por muito tempo não quis perceber e, tendo percebido, levei outro longo hiato para aceitar, mas já não posso evitar confrontar a verdade. Vocês cresceram. Não por fora, não... Isso já havia acontecido, afinal já eram pais àquela época. Vocês cresceram por dentro. Mas não se preocupem, a Terra do Nunca se lembrará de vocês, ainda que suas recordações dela se tornem cada vez mais vagas e desapareçam por completo finalmente. A Terra do Nunca se recordará de vocês, dois dos mais bravos entre nós, pois vocês deixaram um poderoso legado. Nós somos o seu legado. E eu prometo solenemente resguardá-lo comigo até quando puder (e além), mesmo que precise eu mesmo transmiti-lo definitivamente para a próxima geração.

  Agora vocês possuem preocupações maiores e dedicam todo o seu esforço ao trabalho, seu mundo gira em volta dos papéis coloridos, mesmo que seja por um bem maior. Vocês "acordaram para o mundo". Porém não foi assim que aqueles dois jovens me criaram e eu prometi a mim e a eles que essa herança não morreria comigo. Eu cumprirei minha promessa, ainda que vocês esqueçam dela e insistam que eu crie mais raízes ao invés de mais folhas. Não temam! Eu resistirei até minha última pitada de pirlimpimpim.

Vocês são adultos agora e irão fazer casinhas na base aconchegante do pêlo do coelho, trabalharão duro e estreitarão a visão para uma única área, para que esta casa seja grande, tenha garagem e piscina... Enquanto isso, receio ter de afirmar que talvez eu ainda não tenha certeza do que quero e que talvez eu ainda abandone este barco, voe por sobre os jacarés, dance com as sereias e vá para um lado totalmente diferente... Talvez publicar meus livros (perdoo por ter tentado me desanimar, pois sei que você foi o guardião do limiar que eu precisava superar para escrever meu primeiro romance), ou mergulhar no mundo da ciência - que eu amo - e procurar me tornar uma das grandes mentes deste século.

  Não sei bem... Mas este não saber me torna aberto a todas as possibilidades! "Eu não sei para onde estou indo, só sei que estou no meu caminho". Esse não saber me mostra que, mesmo crescido como sou, meu dimon ainda muda de forma, o que já não acontece mais com os seus... Junto com meu dimon, muda minha sombra - que ainda tem a mania de voar sozinha por aí... Mas vocês logo deixarão de saber o que é isso...

  Essa é uma despedida triste, solene e muito provavelmente definitiva, mas não chorem! Nós os amamos. Eu os amo, mesmo sendo adultos. Repito com orgulho: a Terra do Nunca não esquecerá de vocês! Não enquanto eu puder voar.

  Cresçam em paz, pois vocês treinaram bem seus sucessores. Continuaremos alertas aqui, em Nárnia, na Alagaësia, em Hogwarts, na Terramédia, nas pontas dos pêlos do coelho branco.

Sé onr svendar sitja hvass!

domingo, 11 de agosto de 2013

Mulheres



Mariana foi a primeira. Andávamos de mãos dadas sem saber nem o que aquilo significava, mas gostávamos ainda assim. Um dia crescemos e percebemos que não era o bastante.

Renata foi a esperta. Brincava comigo como uma gata brinca com o rato. E eu gostava.

Priscila foi a sabida. Me ensinou um monte de coisas. Depois dela nunca mais me chamaram de menino.

Clara foi a falsa. Tinha duas caras e uma língua ferina. Fingia ser santa, mas era uma belíssima danada. Eu gostava mais da segunda cara e ainda mais da língua ferina.

Isabela foi a princesa. Linda como uma deusa, mas não podia beijar em público. "Vão pensa coisas", dizia ela. "Que pensem!", rosnei um dia. Foi o fim.

Carla foi a aventureira. Nunca hesitava, não conhecia a timidez. Me dava a impressão que toda ideia louca e toda vontade insana que eu expressasse, a faria me tomar pela mão e viver uma cena de filme. Essa segurança aumentava a cada fuga. Um dia fui longe demais.

Fernanda foi a lasciva. Tirava minhas roupas antes mesmo que eu dissesse seu nome por completo. Não que eu esteja reclamando.

Laura foi a senhora. Começou elogiando tudo e cada coisa, depois criticava cada passo em falso. Tentou corrigir-me por inteiro. Falhou redondamente.

Ana foi minha sina. Só me tocou com olhos, mas sabia que os olhos são a janela da alma... Ana mergulhou nos meus olhos e eu me perdi no brilho dos dela. Ana cruzou minha vida como um relâmpago, marcando o céu com uma mancha luminosa. Ana nem foi minha, mas nunca saiu de mim.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Memento Mori

Lembre-se de que irá morrer.

70%

   Eu estou no seu mundo, mas você não está no meu. E isso faz muita diferença.

   Conheço seus amigos, frequento seu bares, como em sua mesa. Vou ao casamento da sua irmã, fumo meu cigarro em sua varanda, depois de sair do trabalho e almoçar na sua casa. Vou ao supermercado do seu bairro e faço as compras para encher seus armários, assisto o jogo na sua televisão, sentado em seu sofá. Após horas a fio, anoitece e chove: durmo em sua cama.
  Você é um mito para os meus amigos, uma foto na mesa do escritório, uma memória de uma tarde longínqua. É o livro de presente na minha estante, a assinatura no meu caderno. Você não sabe onde guardo a chave do apartamento, porque nunca veio me visitar. Não sabe a dose certa de uísque para colocar no meu copo, porque nunca virou a madrugada bebendo comigo, discutindo por que as estrelas brilham e as folhas caem no outono. Você não sabe qual é o lugar certo para apertar, porque suas mãos não conhecem minha pele.
   Sei de cor a posição da sua mobília, mas você desconhece a cor da parede do meu quarto. Acho as frutas na gaveta de baixo da sua geladeira, mas você não faz ideia do que tem nas prateleiras de cima da minha. Você acorda sem mim e veste minha roupa, mas de você tenho só a memória nas noites mais frias.
   Resta-me romancear e aceitar este mundo que você desconhece. Num passeio solitário buscar inspiração para as crônicas cuja história é mais meio a meio, que eu domino a verdade e harmonizo nossos universos em expansão.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Absolutos

   Medidas absolutas criam reações absolutas. E se são absolutas não dá pra correr delas, isto é certo. Mas veja bem... Não existem verdades absolutas. Então como podemos querer absolutamente que nos façam coisas aprazíveis, o tempo todo, se nós mesmos não nos conhecemos em absoluto?
  Nós, que somos nós, e nos aturamos desde que nascemos, não conseguimos nos satisfazer por completo. Imagine um outro alguém, que pode não ser absolutamente, mas é diferente por certo.
   Deveríamos parar de criar regras absolutas. Deixar de esperar atitudes absolutamente condizentes, também. Quem vive de absolutos, fica desejando certezas que não podem ser demonstradas ou calculadas. Quem vive de absolutos, estará quase sempre absolutamente decepcionado.

Paz

“Quanto mais você sabe quem é, e o que você quer, menos você deixa as coisas te irritarem.”
–Bob (Bill Murray), em Lost in Translation (Encontros e Desencontros)

E aí está o cerne da minha paz.

Desenhos animados e Geração Toddynho


"Dia desses tentei assistir a uns desenhos animados dessa geração e puta que pariu! Esta necessidade de superproteção dos pais, da mídia e dos órgãos reguladores está criando um exército de cérebros subdesenvolvidos e sem condições de digerir conteúdo. É a era do Toddynho em caixinha pronto pra beber no canudinho.
Pobres crianças. Pelo menos elas tem o Xvideos desde pequenininhas, né?
Um minuto de silêncio para o episódio do Tom&Jerry e Família Dinossauro, postados acima. Que classudos! Que tapa com luva de pelica!
"Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades... Teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando... Falei muitas vezes como um palhaço... " - Charlie Chaplin.
Descansem em paz meus heróis. Se hoje sou o homem que sou, é por vocês terem estado ao meu lado na infância."
Comentário em O Triste Fim da Família Dinossauro

Apenas faça. Apenas seja.

"NUNCA ESQUEÇA QUE NÃO HÁ EVIDÊNCIA NENHUMA DE QUE ALGUÉM ESTEJA MINIMAMENTE INTERESSADO NO QUE VOCÊ TEM A DIZER."
(John Frusciante)

"[...] Não há nada que diga que essas pessoas se interessam por ti e pelo que tu faz. O que antes, muito antes de ser só uma grosseria, é muito — mas muito mais mesmo – um incentivo: faz o que tu queres, pois é tudo da Lei. E se é da lei e faz teu coração bater com a força que tu quer e que te faz bem e vivo, “putzgrila”, quem poderá ser contra? [...]"

O Xaveco no Olho Acabou?

"[...] Olhando de uma maneira prática, nenhum manual vai conseguir fazer você descobrir um meio de surpreender sempre. Nenhum manual vai fazer isso, por que para surpreender no momento da sedução, você não pode estar aprisionado ao desejo de acertar. Você precisa reconhecer o próprio ridículo, assumi-lo e ostentá-lo. Você precisa ser capaz de rir de si mesmo, de verdade. Sem falsidade, sem fazer disso o jogo de quem diz não estar jogando. [...]"
(Luciano Ribeiro em O Xaveco no Olho Acabou)

Lembra-me o que o anão Tyrion Lannister fala para Jon Snow em As Crônicas de Fogo e Gelo: Volume 1

“- Deixe-me dar alguns conselhos, bastardo. Nunca esqueça o que você é. O resto do mundo nunca se esquecerá. Use isso como uma armadura e isso nunca poderá usado para machucar você.”

Não se calcula o amor

"Gosto muito de matemática e de resolver problemas mas certas abstrações como é caso do Amor, não dão pra ser calculadas, apenas sentidas."
(Emerson Damasceno de Oliveira)

The Cure - Burn

"Se as pessoas que amamos são tiradas de nós...
O jeito de manté-las vivas é continuar amando-as...
Os prédios queimam, as pessoas morrem... 
Mas o amor é pra sempre."
(The Cure - Burn)

Hoje eu comi papa de aveia

Eu tenho preconceitos sobre montes de coisas, como todo mundo tem. Desde aquela fruta que eu sei que não gosto, mesmo só tendo comido com 8 anos ou aquele programa de tv que só assisti metade uma vez na vida. Não nego meus preconceitos pelo fato de serem parte da minha construção (ainda que negativa/passiva) de personalidade, mas faço um esforço diário de revê-los e, se possível, derrubá-los. E algumas vezes eu consigo.
Isso se chama evolução.
Hoje, evolução foi um prato e meia panela mingau de aveia.

História de Um Homem Ridículo


"[...] Se esse homem ridículo morresse hoje, agora, fulminado por meu implacável julgamento, haveria gente sofrendo dor profunda, chorando, trabalhando o luto, relembrando melhores momentos compartilhados. Aquele homem ridículo deixaria um vazio talvez insuperável em corações que nem conheço.
Então, ele sumiu atrás de uma esquina, mas apareceu uma senhora de vestido verde, depois, uma adolescente patinadora, um ruivo e seu beagle, um gari de laranja, e foi quase que como uma sobrecarga de informação: todos pessoas. Cada um. Nenhum deles figurantes do filme da minha vida. Todos protagonistas de seus próprios filmes. Pessoas plenas.
Aí, finalmente, me dei conta: o único homem ridículo ali era eu."
Via Papo de Homem: História de um Homem Ridículo

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Questão de aprendizado: sexo

"[...] Muitas desconhecem os próprios mecanismos que ativam seu sexo. Além disso, o pudor e a repressão sexual muito frequentemente as fazem travar diante de suas volições, impedem-nas de aprender como seu corpo funciona e desfrutar dos prazeres da carne. Afinal, sexualidade é um aprendizado intensivo do indivíduo consigo mesmo. Quem não for autodidata, acaba ficando para trás. [...]"

Carta aPóstuma


     Querida Dona Morte,
    Vista suas melhores roupas quando vier me buscar. Eu sei que te falam para vestir-se de preto, mas eu prefiro branco, principalmente se for um daqueles vestidos de verão que vão até o meio das coxas - são os meus favoritos.
     Quando chegar, me diga a verdade e me dê um sorriso sincero, caridoso. A cumprimentarei como uma velha amiga ou a maior amante. Abrace-me com carinho para que eu não sinta frio e afague meus cabelos para que eu lembre que houveram pessoas que quiseram cuidar de mim. Me beije com paixão para que eu recorde uma última vez do meu amor mais ardente e não ligue muito para uma mão esperta que por acaso lhe suba pelas pernas, entregue à lascívia.
      Você é uma visitante inesperada, bem sei, mas acho que só faz o bem vir nos acordar do sonho que é a vida. Deixo-te avisada só para o caso de ter me esquecido quando chegar a hora de sua vinda, ainda que eu acredito estar muito distante, pois nem telegrama me enviaste.
     Enfim, espero que receba minha carta e que me ouça. Lembre dos meus pedidos, para que sua inevitável chegada corra nos meus termos... (Sem pressão. Ha, ha.)
     Até lá, passe bem.
Att,
Sam.

sábado, 3 de agosto de 2013

O bastante.

 
 Sei muito bem que eu não consigo dizer não para você... Mas porque se aproveitou tanto disso? Era mesmo necessário que eu sofresse tanto para fazer você feliz? E mesmo com todo esse suplício, eu me sinto bem o bastante...
   O bastante para fechar os olhos, mesmo quando já estou na mais profunda escuridão... Perdi o controle de tudo, mas eu não consigo dizer não para você... Você me drenou a vida completamente e mesmo assim eu me sinto bem o bastante...
   O bastante para não cair de joelhos, suplicando piedade, ainda que você continue me assistindo cair em decadência... Caí no seu encanto e seu canto de sereia me levou ao fundo do mar... Você mexeu com cada um dos meus instintos, jogou com cada um dos meus sentimentos e me fez pensar que eu era bom o bastante...
  O bastante para ter o seu amor, só por amá-la... Você prometeu algo que sabia ser incapaz de cumprir e eu me deixei levar... Deixei que tomasse minha mão e declarasse coisas que eu sabia serem mentiras, sussurrando para mim que eram verdades. Talvez tenha sido tudo minha culpa, por ser tolo e ingênuo...  Mas, para mim, a possibilidade já era boa o bastante...

...

Do primeiro trocar de olhares, mesmo com aquele desvio tímido, ao primeiro abraço - na mesma noite - com uma troca de risadas sobre alguma coisa absurda, já somava-se a importância. Da primeira palavra instigada por um não acidente ocasionado pelo vinho, ao trocar de nomes. Somavam-se os valores das atitudes que conduziam a um futuro previsível.
Não precisa ser declarada a necessidade de atenção sobre algo tão onipresente. Mesmo depois de virar o mundo do avesso e esbaldar as noites de boêmia absoluta. Mesmo depois de rastejar com a amnésia e acordar na mesma cama que as memórias, continuei a dar o mesmo valor para os acontecimentos mais mínimos. Sei bem que não há um botão de replay ou um ctrl+z... E dar a importância devida é requisito para fazer as escolhas certas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sacrilégio

   Logo a nós, que podemos libertar quaisquer fantasmas. Que podemos desenlaçar todos os nós e encarnar os papéis mais divinos dos seres amantes. Falta-nos voltar a viver como bichos, desde o início do fanatismo até o sacrifício, pois é um sacrilégio que haja tanta distância entre nós.