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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

...

  A ausência será sempre uma tristeza. Um apartamento vazio. Uma casa sem móveis. Um caminhão de mudanças. E eu já falei o quanto odeio mudanças...
  A tristeza será sempre um desconforto. Uma xícara de café frio pela manhã. Uma foto dentro de um livro. Um recado manuscrito no meu caderno. Eu sempre adorei meus cadernos...
   Hoje tenho bem poucos deles.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Vela na estante

   Uma chama que nunca se apagará. Uma joia escarlate pulsante, num domo delicado de cristal, como a rosa do pequeno príncipe. Um espirito flamejante e suspirante, um ifrit, uma estrela. Agni...
   Oculta para o mundo, um fogo que arderá sem se ver, uma ferida que doerá sem que eu a sinta. Até vê-la. E novamente vê-la. E novamente amá-la. E novamente sofrê-la.
   Eternamente e para sempre. Num paralelo com ela, mas aqui sem ela.
   Um adeus in definitivo. Ou um até logo.
   Nesta vida, ou na próxima.

domingo, 13 de outubro de 2013

Baião, Prosa e Verso II

  


Um passeio pelo interior e meia duzia de pensamento de um boi velho

 Um sol de rachar batendo na testa desde antes de mei' dia, Tonhão num aguentou e deixou a banca do Jogo do Bicho sem alma viva e foi-se pra tomar um pileque de cachaça com pão... Arre, Tonhão.
Meu jegue já manco de véio, esse peste ao invés de morrê logo duma vez, fica me atazanando a consciência. Toda vez que aponto a espingarda pro bicho lembro do meu vozinho, dizendo que aquela besta feia tirou a família toda do ralo na cacunda, arrastando carroça lotada de espiga... Num consigo atirar de jeito nenhum e o bicho tomém teima em morrê. Nem trabalha nem morre... Só come a comida das galinha.

   Passo da igreja. "Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo...", arre! Mas num é a sobrinha da Dona Zeza se amulengando com menino do litoral... Aaahh que isso vai termina na pêxera! Ah, se vai! Ohoho! Tem padre demais nessa missa... Que o noivo da piveta nem casô e já tá levando é chifre...

  "Dia, Mariaria, formosura demais pra esses vinte anos!"
   "Deixe de ser sem vergonha, cabra véio, que já passei dos cinquenta e você sabe bem disso!"
   "Sabê, eu seio, mas pudia saber um poco mais, num acha não?"
   E ela ri e se esconde da janela, cantando aquele grito meio gemido que conheço de cama: "É véio, é feio, mas é safado quinem boi novo!"

   Cemitério... Lembra de painho, vozin, voinha... Quatro de duas mão de irmão que foro pra cova antes de levar uma mulher pro casório... Tristeza. Essa bola de ferro sujo pesando no peito e no bucho. E um poco de fome, também. Vo fazê quinem Tonhão... Pisá pro bar, tomar uma cachaça com pão, esquecer esse jegue e olhar as flor nascendo, porque choveu faz nem três dia, e quando chove, bate uma felicidade de viver nesse sertão.

O rebolado e os hormônios



  Ela rebolou do jeito que eu gosto e. num rodopio, pôs uma de suas curvas sob a minha mão enquanto um par de coxas nuas subiram para me apertar o quadril. Foi sensual. Mas o mais excitante foi o sorriso dela, separando seus lábios vermelhos e fazendo seus olhos brilharem.
   Um instinto de aventura de menina solta... Que me levou a beijá-la até que sentisse vontade de tirar a roupa... Entrei no jogo e perdi, mas foi a mais doce derrota da vida, centrada na órbita de dez mil estrelas.

Baião, Prosa e Verso I



Sangria de Amor e Cabelos Ruivos, Um retrato de amor visto da Caatinga

Ôoo minha flor, flor de mandacaru rosea e avermeiada...
Que formosura tua, de minha vida é o céu estrelado,
Tem pena deu que não sou pássaro! Se fosse, daqui praí avuava,
Que nessa terra verde toda, quero tá' a vida toda do teu lado.

sábado, 5 de outubro de 2013

As Chuvas da Colheita Vermelha

"Margareth, Margareth!", o lamento ecoou pelas pedras da ruína gelada
Mas não havia ninguém para ouvir na casa esburacada

O  fim chegou como a súbita chuva de verão
A mesma que chorava sobre as terras do barão
O cavaleiro chorava sobre o corpo pálido de sua amada
Depois desta noite, ela estaria para sempre calada

"Margareth, meu amor, não se vá!", o lamento morre nos corredores vazios
Mas não havia ninguém para ouvir e o cavaleiro então sorriu

Louco estava, louco ficara, e para sempre atormentado
Por trair o senhor a quem estava juramentado
Este, furioso, ordenou que uma colheita vermelha fosse feita
"Matem todos!", disse ele, "E que o barão viva para lembrar de sua desfeita!"

"Margareth..." a voz do barão e o lamento desapareceram então
Mas não havia ninguém para ouvir e assistir parar seu coração.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Corações, camélias e cochichos

Segura o coração, meu bem
Segura com firmeza e não solta
Acolhe esta chama, também
Que te deixo segura dessa emoção revolta

Respira fundo, meu amor
Senão vai perder o fôlego
Pois vermelho é de longe a tua cor
E o escarlate vai alcançar o teu âmago

Escarlate e vermelho rubro de sangue
Enfeitado com exageradas pétalas de rosa
Anunciado por gritos e aplausos de insanidade
Síndromes de certeza e emoções em polvorosa

Planos arquitetados aos cochichos
Marcam o futuro breve e meia dúzia
De meses imploram que não fuja
Pois voltaremos a viver como bichos.