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sábado, 27 de abril de 2013

How


Você é minha.
Não porque eu tenha sua posse. Não! Pelo contrário: você é minha porque deseja ser, não porque eu a deseje. E isso não quer dizer que eu não deseje, pois eu desejo.
Desta forma, reconheço o que os homens ignoram: o que nos liga não é uma corrente que sai de mim e a prende, mas um laço que vem de nós dois, na direção um do outro. Portanto debruço meus esforços em dar-te mais motivos para ficar e não em criar grades que a prendam a mim.

quinta-feira, 25 de abril de 2013


   Estamos mudando outra vez. Outra vez.
   Já perdi a conta das vezes em que isso aconteceu, mas lembro como odiei cada uma delas. Tanto quanto odeio essa.
   Os pedaços de móveis que restaram ficam largados pelos cantos como a ossada não enterrada de nossa vida aqui. A casa vazia ecoa as conversas desanimadas como sussurros amargurados ou discursos agudos de felicidade forçada como um doce enjoado demais.
   Odeio mudanças e todo seu entrementes. A poeira no ar me inspira uma crise e espirro incessantemente, perdendo o fôlego. Me sinto péssimo. O pó gruda na minha pele, deixa meus dedos ásperos e minha alma opaca.
   A sensação de abandono pesa no ar com cheiro de ácaros mortos e o movimento de entrar e sair suja o piso com lama escura.
   É raro que eu seja acometido por tristeza, mas agora não consigo impedir o nó amargo e melancólico que se forma na minha garganta. Meu corpo dói pela noite mal dormida, minha cabeça pesa pelo sono atrasado.
   Uma raiva azeda me consome pela interrupção inevitável causada pelo evento. A vida pára. Perco tempo. Desprezo cada segundo.
   É ainda pior mudar no outono. Muito pior. A chuva que eu adoro se torna ridiculosamente odiosa e encharca meus sapatos, cola minhas roupas na pele. Sinto frio - coisa rara de acontecer. Embora eu acredite que haja um motivo: a tristeza que me deprime reduz a minha chama interna. Sem ela não sou ninguém, não sou nada, não sou eu.
   Não consigo respirar. A doença cresce dentro de mim. Não consigo respirar. Falto meu compromisso matinal. Passo mal. Droga.
   A instabilidade vai de encontro ao meu modo de ser, me deixa indisposto e insatisfeito.
   Quero um café forte e escocês, com muito whisky. Um café e um cafuné, pois o engenheiro está certo, afinal: somente a mudança é permanente.
 Mente quem diz não mudar. Mente quem promete mudar. As coisas mudam. As pessoas, não. Ou talvez mudem. Não importa. Depois da porta dá no mesmo. Depois. Pois de qualquer modo já estaria feito. É mesmo um defeito ser tão intransigente. Mas há gente que merece. Parece que generalizar é errado. Não importa. Talvez eu mude algum dia.
    Confesso que, mesmo depois desse desabafo, não me acho nem um pouco mais leve.

   O peso da mudança é tudo que eu posso carregar.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Adição


Some o meu e o teu,
Pois eu não sei 
- No meu ser ateu -
Esquecer o que amei.

Na soma de um mais um,
Com a exatidão de um número dois,
É escolha de cada um
Decidir o que vem depois.

Meu cinismo impassível
Contradiz essencialmente
Minha paixão unicamente unilateral.

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar.
Dois amores não ocupam o mesmo poeta.
Dois destinos não ocupam o mesmo caminho.
Some com o bom. Suma com o ruim
Uma adição.
Ou um adeus.

terça-feira, 23 de abril de 2013

U. P. P. P.


Uma Pequena Perspectiva Pretérita

   Memórias... Lembranças... Recordações... Salva-guardas de coisas passadas (e enfatize-se, passadas).
     Guardadas no sótão, junto com algumas flores ressecadas ou numa caixa de papelão junto da foto em que se queimou pela primeira vez na casa da avó (deixando uma marca no pulso esquerdo).
      Memórias devem ser retratos (de coisas boas) largados ou pendurados pela casa e inteiriços, ao contrário das medidas chuvosas de qualquer um em geral: dobrá-las e guardá-las nos bolsos dos casacos de inverno (aqueles que nunca usam).
     Essa pequena perspectiva é tão universal e tão pessoal que é impossível escrevê-la em apenas uma pessoa (seja a primeira, seja a terceira do plural)... E desesperadora numa conciliação pra lá de torta e desajeitada. [Uma sublimação: não sou bom em fazer pazes, porque não aceito passos atrás - o que me leva a desconsiderar a tentativa alheia de fazê-lo).
     Esse olhar pretérito é complexo, por isso eu não recomendo a mentes conservadoras lê-lo (alerto-os que pode causar-lhes irritação paradoxal  pelo meu desregulado e genioso modo de pensar).
       É também um recado de frases soltas e sem congruência, sem coerência ou coesão - ainda assim, cheio de significado. Portanto, aos que largaram de preconcepções ao ponto de avançar até aqui, começo a minha confissão...
       Escolha uma carta. É, qualquer carta. O que acha dela? É sua ou para você? O que traz a memória? Pare. Você não ouviu, pare agora. Muito bem. Uma memória bailando entre os olhos? Uma lágrima talvez? Se for de alegria pode deixar cair e sorria, se não... Engula. É amarga, mas deve descer igual uma dose forte de cachaça. Acabou? Agora você está no clima certo.
        Eu sou um homem distinto de quaisquer outros. Parece arrogância? Talvez se aproxime mais do orgulho, afinal tenho uma estima muito grande por mim mesmo. Com motivos  - é claro - mas também com reservas. Conheço meus defeitos. De alguns eu não me permito refutar, de outros estou tentando me livrar, mas conheço-os todos. Por isso mesmo os exibo tanto quanto minhas virtudes. Quero que gostem de mim por quem eu sou, com o doce e o amargo. Não uso máscaras, elas me sufocam. Quem quer que se aproxime, que aprecie meus erros tanto quanto meus acertos. Pois é... Isso serve como prólogo. Agora ao mérito...
       Que entre minha pequena perspectiva pretérita em resumo: não esquecer. não guardar mágoas. não voltar atrás. É isso. Sem letras maiúsculas pra não guardar nomes próprios. Porque a única propriedade que me vale sou eu mesmo. O resto é lucro (já diziam as línguas mais sábias).
       Que entre então minha pequena perspectiva pretérita em minúncias:
não esquecer - frase, ou música, ou poema, ou foto, ou abraço, ou briga, ou erro, ou acerto. não esquecer nada, para repetir o bom, evitar o ruim e guardar tudo nas caixas certas. exibindo tudo numa amostragem geral de quem você é, pois poderão ver quem você pelo que você faz (ou fez) aos outros (não pelo que diz ser).
não guardar mágoas - se há uma coisa a ser anotada à ferro quente na pele é a ordem de não guardar remorsos. não sujar memórias. não amargurar lembranças que um dia foram boas. tire-lhes o sal e o açúcar, mas não adicione cicuta na receita. dizia a avó: não cuspa no prato em que comeu... etecetera e etceteras... de início pode ser difícil, eu sei (e como sei), mas depois o peso sairá de seus ombros como se nunca houvesse estado lá. a vantagem é que no fim da vida você terá muito do que se orgulhar e pouco do que se arrepender. [MEMÓRIAS SÃO O SALÁRIO DA VIDA]
não voltar atrás - essa é talvez a parte mais importante da minha pequena perspectiva pretérita, pois impede que você desfaça os passos anteriores. abre portas que permaneceriam fechadas. fecha as caixas antes da mudança. enverniza os móveis construídos acompanhadamente. pinta a casa com tons claros. deixa a brisa entrar... afasta decepções repetitivas. quebra ciclos viciosos. adestra o destino. 
       Aí está: Adestrei o destino e essa é uma das coisas que me tornaram impassível na minha calma arroxeada e pulsante. Impermeabilizou minha mente contra tristeza e rancor, raiva e remorso. Infundiu-me com a certeza de que tudo aquilo que me acontece de ruim, acontecerá uma única vez. Todo erro que eu cometer, cometerei apenas uma vez. Todo aquele que me ferir, não terá nova chance de fazê-lo. É um caminho solitário.. Poucos estão capacitados a segui-lo, mas quem quer que adquira essa pequena perspectiva pretérita, terá uma imensurável e indescritível inspiração universal. Um novo meio de ver o tempo, a vida, o universo e tudo o mais. Algo tão improvável que alcança um nível D. Adams de existência. Essa perspectiva universal não tem preço.

Mas o custo também é muito alto.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Muito seriamente.

Um exercício de autoconhecimento bastante hilário que não me contenho em fazer:

As 10 coisas que eu mais odeio acima de tudo:

1- Mosquitos (Especialmente os maruins que tem uma picada dos 7 infernos)
2- Filas (Todas elas)
3- Ônibus (Do ponto até a hora em que eu desço)
4- Moedas (Tintilando no meu bolso. Se pudesse só usava cartão)
5- Canetas que falham (Eu amo canetas, mas quando começam a falhar me enchem de fúria)
6- Me atrasar (Acho que o inglês em mim tem uma obsessividade com pontualidade)
7- Computadores lentos (E internet lenta está inclusa)
8-
9-
10-

PS.: Estou pensando nos últimos 3