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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sem hesitar

   Sim. Ou melhor, não. Quer dizer, não mais. Na verdade, é um não com quê de sim. Mas ainda assim, um não.
   Todos estão (mal)acostumados a dar segundas chances a tudo, enquanto eu - talvez infelizmente - não acredito nesse remédio santo. Pra mim, só há uma chance de realizar algo - um hábito nascido provavelmente na prática da arte do movimento, onde hesitar é errar e onde não há como desfazer um salto errado.
   Deveríamos ter nos transbordado. Porque eu já havia saltado, mas você hesitou. Mais que isso até... Você parou completamente. E eu  havia saltado. Não havia como voltar atrás. Então caí, sozinho. Me recuperei do baque e segui em frente.
   Se Eu te desejo?
   Não mais. Nunca mais.

Não posso sair

   
   É uma espera impaciente que durará por centenas de horas, em meses a fio.. contadas por um relógio que se move em câmera lenta. Um grilhão maldito e incômodo que me segura numa decrépita sala branca de cerâmica, entre gases putrefatos de ácidos em vasilhames de âmbar e pilhas de papel sem sentido de existência. A claustrofobia me deixa cada dia mais perto da insanidade.
   Um comandante charlatão e antipático exigindo tarefas inócuas para preencher uma lacuna profissional de um trabalho que me enoja e esgota minha lucidez; um treinamento tedioso em tardes de ócio para (des)aprender coisas que não me interessam.
   E o sistema obriga. Escraviza. O mesmo sistema que resguarda meu futuro. E não posso sair. Estou preso. Encalhado. Exaurido. Não posso sair. E fico calado. Revoltado. Não posso sair. Humilhado. Confinado sem grades. Não posso sair. Arquivado. Empoeirado. Sujo. Não posso sair. Neutralizado numa bureta rachada. Claustrofobicamente enclausurado num balão de 250 mililitros. Com palavras engasgadas na garganta. Não posso sair. Um agravo pronto e ignorado na mão. Um recurso preparado e ensurdecido pelo sistema. Não posso sair. Não há lei que me favoreça. Não há súmula que me liberte. Não posso sair. Injustamente trancado neste obstáculo final, enlouqueço. E não posso sair.

Sem preço



Eu te compro o que eu vendo
E sai de graça esse gracejo
Pra quem eu vejo me sorrindo.

Numa risada de quem manja
De todas as minhas manias,
E me imagina te amando,
Seja noite ou seja dia.

Música de verso e prosa,
Que não tem nota pra soar
Em corda de violão ou piano,

Pois quando desce o pano
E falta pão na mesa,
Eu chamo o nome dela.
Não é Maria ou Teresa
Nem mesmo Daniela.

Toca pra mim esse refrão,
Trilha sonora de novela
Das oito, pela janela
Antes ou depois do jornal.

Pode atrasar, eu não ligo...
Vinte minutos não fazem mal,
Pois afinal, o tempo se perde na conta,
De tão relativo que é,
Não aponta mês ou semana
Que encontro essa mulher.

Ela não é africana, nem tem rebolado espanhol.
Sem som de castanhola ou valsa francesa,
Essa plebeia baronesa, de nobreza italiana
Queimou minha paixão tão insana,
Que me embalou pra presente
E jogou-me no chão.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Canção de Verão


Acordei... Feliz como nunca estive.
Era você ali, era você aqui
Era você...

O inverno acabou, querida.
As folhas caídas no outono descongelam.
A primavera acorda florida.
Te espero no mar, porque é verão.

É verão, meu bem e eu acordei.
Acordei... Feliz como nunca estive.
Era você ali, era você aqui.
Era você...

Não há nuvens no céu... O céu está todo azul, amor.
Na areia sob o sol nesse verão que me separou
Dessas paixões falidas que me afundavam em sonho ruim,
Que me trouxe pra você e traz esse sorriso para mim.

Esse sorriso ensolarado que levantei da cama,
Agora que acordei... Feliz como nunca estive.
Pois era você ali, é você aqui.
Era você... E é verão, amor.
Já é verão.

Pretérito

Bati à porta, bati. E cada prato que pedi, deixei.
A inocência que perdi, se foi.
Caí, na cova rasa que cavei.
Fechei. Uma janela acinzentada. Fuligem preta e morta.
Do cigarro que apagou, meu bem. E trago a dose que me deu.
Engole a sede que sofreste. Abrira a boca faminta e seca.
Eles rugiram. Se ergueram. Espancaram porque a carne estava azeda.
Soltaram, quando prenderam, num habeas corpus sem causa.
A reunião legiferante errara e adentraram numa lei vil desconstituída.
A legitimidade nascia no cano e na bala.
Acaba. Termina. Passa.

Preocupação Literária


   Eram só três pontos, é verdade. Eram três pixels na tela, mas o peso do ciúme sob aquela pontuação digitalizada era tanto que esbugalhou os olhos do mosqueteiro da minha alma.
   Criou-me preocupações por um sorriso bonito que prezo imensamente. Será exagero ou vejo mesmo uma psicose insegura obscurecendo o futuro dessa fabricante de palavras?
   Espero que minha clarividência tenha falhado nessa previsão e que essa senhorita de nobreza encontre quem a desafie a subir mais ao invés de um par de mãos que lhe cortem as asas.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Livre ou Livro, tanto faz.


   Os clarins tocavam e o círculo de espectadores se desesperavam diante do sorriso destemido do garotinho loiro de pé sobre o muro.
   - Saia já daí - gritava o padrasto. Meneando a cabeça, Eros respondeu:
   - Eu sou livre, homem. A vida é muito mais!
   - Cala-te e volta que tu ainda tem escola amanhã, pirralho!
   - De nada vale sobreviver apenas. - E pulou. E voou. Pois era livre de pensamento.

* * *
   - Larga esse livro, João, o jantar tá pronto!
   - Tá bom, Mãe, tô indo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sementes de Luz



   Era uma vez, uma menina de olhos esverdeados como jade, bonita como uma donzela de história para dormir. Seus cabelos curtos eram como árvores muito jovens, cujos galhos mais baixos eram toca de corujas daquelas redondas e engraçadas. E a menina era diferente, era uma garota que comia luz. Não sabia porquê, mas sempre tinha sido assim, então ela não se perguntava mais. Só havia uma coisa sobre a luz - que era muito gostosa, pra você que quer saber - da qual ela não gostava: a luz tinha sementes. Umas coisas fotônicas e irritantes, como sementes de melancia.
   Mesmo que a luz tivesse um sabor via Lácteo, como um sorvete de creme, frio como os recantos mais longínquos do Universo, as sementes faziam cócegas na língua. Por isso, ela as tirava da boca, rindo-se, e as jogava fora, sem saber que semeava as estrelas que eu amo tanto.
   E assim, como os sóis que nasciam das sementes de creme luminoso... As memórias estrelavam o céu noturno, depois de uma ceia de fotóns e neutrinos que passaram por nós, em meses sem conta, sem que nos déssemos conta.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Nem gaita


"E ela parou, olhou, sorriu, me deu um beijo e foi embora
Não vi mais a gata mais tenho minha gaita pra me consolar..."
(Natiruts - Andei só)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Parafraseando Pessoa


Sou ridículo.
Pois escrevo cartas de amor
E toda carta de amor é ridícula.
Se não for ridícula,
Não é uma carta de amor.

Pois:

"Todas as cartas de amor são ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras, ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente ridículas.)"
(Fernando Pessoa)

O Ritmo da Chuva me Indica o Caminho


"Desapegue. Os primeiros passos são essenciais e a caminhada é bem longa. Se por algum acaso alguém soltar da sua mão, não se culpe. Não pense em como podia ter feito diferente, não bloqueie as emoções, porém busque te acrescentar. Não olhe pra trás, continue seguindo em frente. É como andar desprotegida, eu sei. Confie: proteção também há em outras sensações verdadeiras quando se tem o coração a viver por mais. [...]"

(Willa Albuquerque)

Ressaca


Tomei um porre de amor que me deixou bêbado de desejo, de novo. Malditas emoções líquidas, engarrafadas, rotuladas com data de carnaval. Devem ser cancerígenas estas drogas do século XXI, perigosas e sem lei que as regulamente.
Não ao acaso, claro, porque ninguém inventou ainda um desejômetro ou adesivo contra amorcotina.
Minha anatomia arruinada clama por um remédio controlado que diminua os excessos do meu coração e colateralmente impeça a dilatação das pupilas e esfrie a pele.
Me traz uma arrematada e masoquista saudade do uísque 20 anos cuja guerra biológica embrulha minhas entranhas e ressoa na cabeça por um sábado inteiro. Pois a ressaca de amor líquido é pior e mais longa, cria um vácuo na alma, deixa arranhões no estômago - causados pelas borboletas, e aperta os ventrículos cardíacos com crueldade hormonal.
Os estetoscópios poéticos da história diagnosticaram esses sintomas, causados pela paixonite aguda induzida por ingestão de amor líquido pela via oral em situação de aconchego - Vulgo beijo de língua, num abraço apertado.
Doença potente e recorrente, cataporesca, uma vez instalada nunca mais se vai.
Causa alterações de humor e espasmos musculares no rosto - apelidados de sorrisos bobos. Pode gerar calafrios de prazer e dependência...
Deus! Salve-me! Acho que ela me pegou. Ou não. Pode ser só um acesso. Vai passar... Espero que passe. Espero que não... Meu Deus! Vai passar... Foi um porre. Um porre de amor, sim, mas a ressaca de amor também passa.

Caetaneando


Não sei onde foram minha rima e verso
Para qual lugar distante e incerto
Minha solidão assim se prova
Em dezenas de linhas de pura prosa

Em esquinas e bares, eu procuro
Entre boêmios perdidos me misturo
Ouço essa canção flácida e tristonha
Dum romântico perdido que sonha

Faminto por uma paixão eterna
Alimenta sua vazia alma enferma
Enquanto outro amor líquido espera

Esse câncer do novo século
Onde o desejo acaba no sexo
Amor alcoólico, de noite só, sem nexo.

Pois é, poesia.


O que ordenara o coração

A epítome do meu ser
Transborda com teu beijo
E a vermelhidão do buquê
Não expressa todo meu desejo

Os passos simples do bolero
E a anatomia do teu corpo junto ao meu
Não sintetizam o quanto te quero
Porque, meu bem, eu quero ser todo teu

Em cada fibra de músculo
Do coração e miligrama
De hormônio no meu sangue

Cada neurônio sozinho e solitário
Em sua multidão cerebral
Me ordena que te ame.

Adeus, Meu Bem



Eu queria ficar, é verdade, mas acho que não posso me demorar. A noite vai acabando e nossa paixão de vela se apaga novamente. Seu cheiro se confundiu com o sal da pedra preta que eu estive arremessando no mar, mas ainda baila na minha memória. Seu depois, ali no navio, encostada no meu peito - meio aqui, meio ali - tranquilizou a tempestade no meu coração, mas a ponte já desceu e o navio abraçou o cais. Preciso ir.
Há ao menos três mulheres me esperando na multidão, sem saber que estivemos nos deleitando da luz das estrelas e do balanço incontido da embarcação com nome de santo. Uma delas já me tem pra um bolero à luz de velas, enquanto outra me tem pela janela, com uma música tocada num violão de madeira de mogno. Preciso ir.
Admito que é desconfortável ficar sempre mais ou menos com você, mas esse prazer de quente e frio me viciou ao longo desses anos. Só que há sempre uma tentação maior. Dançamos como se não houvesse amanhã e você se entregou, por ontem. Apenas. E acabou. Agora, eu preciso ir de verdade. Há muito me esperando e fico triste, por você, espero que não se apaixone quando outra mulher me tiver na sua cama. Preciso ir.
Naquele palco me pediste um discurso, eu subi com uma taça de champanhe, afoguei a língua com álcool mas nada me saiu, senão palavras desconexas e engasgadas, tiradas com muito esforço. Minha serenata morreu na garganta e estourei as cordas do violão, que mágoa. Desencontramos. Eu te tirei do sofá e me deste um abraço sonolento, quase te coloquei nos braços mas seu orgulho não deixou. Te coloquei pra dormir já formulando meus versos. Preciso ir.
Me conheces o suficiente pra saber que a escrita é a minha melhor maneira de expressão. E é a única quando teu olhar dispara meu coração e amarra os nós do meu cérebro mais apertados do que eu posso desatar. Então escrevo, pois devo. Preciso ir.
Não posso te dar riqueza, não. Nem sei como reagiria se te desse flores, ai de mim. Mas te presenteio com meus versos mais simples, tão cheios de significado que não sobrou espaço pra rima. E olha que eu pensei que tu pudesse ser minha rima perfeita. A mão colada a minha, numa mesma oração. Preciso ir.
Essa carta poderia ser uma declaração, mas sabes... Tenho cicatrizes de amor, já. Odeio que me recusem algo. Como todo bom bobo, medroso. Como todo bom jovem, inseguro. Talvez eu possa me arrepender, mas haverá uma mulher para me consolar. Preciso ir.
Meu bem, meu bem. Eu te queria. Ainda quero. Mas não posso ficar. Acabou a noite, acabou o dia. E essa madrugada estou partindo. Olharei para trás, não duvido, mas já não será mais para procurar o seu sorriso. Preciso ir.
Adeus, amor.
Adeus, Meu Bem.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Brinde Carnavalesco



Cheers to this freakin' weekend...

Onde está o mundo??
Fui de ponta a ponta, procurando quem quer que quisesse vir
Choveu e estive lá, recolhendo as gotas com os olhos
Meu guarda chuva colorido rodopiando
Engraçado meu chapéu de luto sorrindo
E o guarda chuva arco-íris chorando lágrimas de chuva
Mas a festa não morreu, ela está apenas dormindo, cochilando...
O dia adormece e a noite resplandece com sorrisos daqueles que trago a mim.
Agora... Vamos para o outro lado

A noite fraqueja diante do nascer do sol
O amor enlouquecido com a bebedeira
Eu doido por ela, a mente se perdendo
O mar salgado que nem ele
E acabou-se, foi-se, perdeu-se
Melhor do que tudo, Maior do que nada mais.
Agora... Vamos para o outro lado.
Até mais, noutros carnavais, com outras fantasias.

O Meu Elixir


Eu queria que eu pudesse derramar minha felicidade numa jarra de suco, sério. Eu não poderia conter minha euforia se eu pudesse jorrar essa alegria pra fora do meu ser num licor de luz prateada como a lua crescente lá fora. Com um cheiro salgado de mar e um gosto doce de morangos achocolatados, para que eu servisse quem eu amo.

Lavaria as lágrimas da minha paixão com esse elixir, limparia a tristeza do meu melhor amigo e regaria sua família com tolerância, perfumaria meu irmão de alma para que ele pudesse usar de sua gentileza para encontrar seu amor. Eu não conheço o egoísmo e mataria a fome de quem está na rua e misturando com café esse meu drink, aqueceria seus corações. Poria na mesa do café pela manhã acompanhado de torradas, esforçando-me para acordar ligeiramente mais cedo e serviria minha dama. Esse elixir eu ia drenar todo da minha alma, pondo em imensas caldeiras pra que o vapor fizesse nuvens douradas como a do garoto que nelas voava nos desenhos da minha infância.

Nem que eu tivesse de terminar seco e exausto, num sono de morte madura, eu morreria hiperbolicamente feliz e imortal.

Estaria chovendo Sam no mundo todo, em gotas de prata e ouro pra curar a mágoa desse mundo chamado Terra.

A Rima Perfeita

Me diz que não fui só eu que estava ali naquele abraço. Ou que é de Hoje em Hoje que se faz a vida. Me explique que era só um receio e já passou. Pode ser algo mais discreto, se quiser.. Pode me chamar de Adão e eu saberei que finalmente você se tornou minha pequena Eva. Deixe-me saber que serei eu o seu anjo da guarda, pra acalmar seus olhos assustados. Eu te ensino a ver chaleiras e coelhos em nuvens brancas. Mostro as coisas do coração, enquanto nos tornamos uma palavra só. Seremos canibais, famintos um do outro.
Eu sei que sou romântico demais, mas prometo me comportar, desde que eu possa pôr de lado meu ateísmo para unirmos as mãos numa mesma oração.
Não exijo teu apego, não! Você já está em mim, ainda que eu não esteja em você... Mas eu posso me tornar a tua rima perfeita, no que for e no que vir a ser.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sincronia literária



Ruí. Ou ri. Não sei. Essa ruína travessa me parte em dois. Arruína o meu coração com um sarcasmo cínico de uma paixão inexistente. Entre copos de licor dourado e uma vibração musical, relembro um chão fofo e uma brisa fria. Um cochicho feminino que me põe sempre a falar sem pressa, indefinidamente. Sem fim, também. Falo como se minha vida fosse uma história de poucas páginas, um conto infantil que ilustro para fazê-la dormir sonhando com jogos teatrais. Meio envergonhados talvez, percebemos que o resto do mundo fica mudo frente ao nosso diálogo desmedido e destemido.
Tenho por ela um amor puro, meio fraternal, meio literário; desses que vem de outra vida, abençoado por uma mão divina e sorridente. Desses de bater o olho e sincronizar. Uma aura benéfica que esclarece a mente e espanta males. Uma graça infantil que me surpreende de nunca ter sido posta em letras ainda. É um laço fino e firme, que não necessita de proximidade mas que não fraqueja fronte a distância, que deixa um gosto de quero mais na despedida. É um sorriso bonito, de guardar junto de um copo de suco - maracujá gelado, por favor - e um dia de chuva fina. Genialidade ingênua e tênue. Sutilmente escondida aqui, onde todos podem ver.

Goodbye, Boogeyman

Eu sonho com um mundo mais pacífico... Sei que é clichê, mas não consigo impedir minha revolta ao ver que nossos guardiões estão tão cheios de ódio quanto aqueles dos quais pretendem nos proteger.
Sua fúria rugindo em bastões negros que golpeiam corpos de alma sem sentido. Seus braços enforcando como cordas de cânhamo. Eles estão dominados por uma violência que nos surpreende.
O que rege esse jogo? Quem estabeleceu a raiva como regra, a paz como exceção? Que mente insana e embriagada?

E a violência é só o que se vê, pior mesmo é o que se sente. Porque o que eu percebo nos olhos dessa pequena Eva é Medo.
É medo que se tem ao sair na rua. É o medo do outro. É medo da moto que vira a esquina. É medo dos moleques que saem do estádio. É medo do traficante e do viciado. É medo do ladrão e da polícia. É medo do pai e do filho. Maldição!
Que sina é essa desse mundo 3.0? Que histeria é essa do terceiro milênio? Quem soltou Fobos nessa terra?

Alguém se esqueceu da gentileza e propagou essa praga. Nós, amigo, somos sobreviventes de um Clã que o mundo esqueceu. Cavalheiros, ainda que sem Távola Redonda. És abençoado, Bro. Te resta uma semente da maior virtude do homem. Sabe aquele cara barbudo de dois mil e treze anos atrás? Era isso que Ele pregava, é isso que Sua Igreja esqueceu, que Seus seguidores deixaram se perder, é isso que os homens precisam e que só um Lorde pode oferecer. Gentileza.
Um pensamento, ainda que passageiro, sobre o que precisam de nós. Uma pequena preocupação com o sentimento alheio. O cuidado para não ferir.

E daí então, quando não desejamos ferir, encerra-se a violência. E sem essa fúria, apaga-se o incêndio do medo. Fecha uma porta escura e exorciza o monstro do armário.
Adeus, Papão. Não precisamos mais de você.
P.S.: Feche a porta ao passar.


Agradecimentos: Samara Albuquerque e Elivaldo Sapucaia