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domingo, 28 de julho de 2013

Síndrome de Dúvida Absoluta

   Essa síndrome de dúvida absoluta vem de mansinho e ataca de um pulo só, come as letras e não tem nem dó de engolir as ideias que já estavam prontas pro passeio, me enchendo de receio de pôr num único parágrafo todos os desejos que guardo no sarcófago.
   Esse não é um texto sobre nada em especial, mas fala muito desse amor que me derrubou com uma arte marcial treinada com o Cupido e nem guardo segredo, meu amigo: um bocado de notícia que não veio nem pelo correio, mas foi chegando de vez em quando, sem aperreio e me encheu dessa estranha sensação que me acelera o coração.
   Agora falo mesmo é que tô em dúvida se entro de all-in ou se fazendo assim tenho chance de perder. Essa pele é dor que rasga uma vez, não que vontade esteja em escassez, mas o que vale mais? Uma memória bonita e permanente ou acabar com essa fome crescente que nos tortura? Será que já é madura para sair do sonho ou o pudor é tamanho que suas jogadas de sedução se perdem como palavras em vão, ditas ao vento?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Citando uma citação

"Imagino que cada um aqui tem um sonho e, se a gente aprender a olhar pra ele, vai descobrir que ele tá muito perto."

Fernando Anitelli, de 'O teatro Mágico'.

"Quando o dia termina com a gente."

  

  "O mal do século", dizem alguns. Talvez seja mesmo. Tudo nos irrita. Estamos arrasados. As vozes baixas são irônicas, os agradecimentos são sarcásticos, os motivos são vazios. Estressados, cedemos às ruínas do corpo. O tempo se comprime, aumentando a pressão desse câncer emocional. Nesse século em que o tempo parece sempre mais curto, estamos cada vez mais apressados. Atrasados, pisamos fundo no acelerador e esquecemos até de passar a marcha.
   Cada minuto é tão precioso que cuidamos mais do relógio do que dos nossos filhos. Cronometramos o sexo e temos hora de amar, hora de odiar, hora de ficar, hora de ir. Acordamos quando o alarme toca, apertamos o passo para não perder a hora do ônibus que está atrasado. Chegamos tarde naquele compromisso para o qual tanto tentamos ser pontuais e logo uma tela acende. "Time is up!", diz ela. E ficamos irritados com isso. Ficamos irritados com tudo, na verdade.
     Ficamos irritados com qualquer mal entendido, qualquer contradição, qualquer imprevisto. Um adeus inesperado mancha uma noite, todo "não" é uma mágoa. Toda omissão nos chateia, dando mais corda para essa forca. Esquecemos até de dizer o que queremos, porque a pressa insiste em afirmar que o outro já deveria saber. "Não recebeu o memorando?", diz ela "Não há tempo para explicar o que eu quero, você já deveria estar sabendo".
      Não. Não deveria estar sabendo. Não dá para saber - talvez porque o tempo não permita.
      Esse ritmo motorizado, esse tique taque incessante e insistente não permite aprendizado. A dança vai seguindo e nós continuamos a trocar os pés, por não ter tempo de aprender. A vida vai seguindo a cento e sessenta por hora, mas o motor não aguenta. Isso nos irrita ainda mais. Isso acaba conosco. Nos deixa arrasados... Temos que parar para respirar. Parar para descansar. Parar por parar. Parar para amar.
    Se não consertarmos isso, continuaremos perdidos, atrasados, apressados, estressados. Nesse mundo tá tudo assim...

E um abraço pra quem fica

   Astronauta, tá sentindo falta da Terra?! Que falta que essa terra te faz?! A gente aqui embaixo continua em guerra, olhando aí pra Lua, implorando por paz, então me diz: por que que você quer voltar? Você não tá feliz onde você está? Observando tudo à distância, vendo como a terra é pequenininha e como é grande a nossa ignorância e como a nossa vida é mesquinha... A gente aqui no bagaço, morrendo de cansaço de tanto lutar por algum espaço e você, com todo esse espaço na mão, querendo voltar aqui pro chão... Ah, não, meu irmão! Qual é a tua?! Que bicho te mordeu aí na Lua? Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
   Ah, não, meu irmão! Qual é a tua?! Que bicho te mordeu aí na Lua? Fica por aí que é o melhor que cê faz, a vida por aqui tá difícil demais. Aqui no mundo o negócio tá feio, tá todo mundo feito cego em tiroteio, olhando pro alto, procurando a salvação ou pelo menos uma orientação... Você já tá perto de Deus, astronauta, então me promete que pergunta pra ele as respostas de todas as perguntas e me manda pela internet! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
   É tanto progresso que eu pareço criança; essa vida de internauta me cansa! Astronauta, cê volta e deixa eu dar uma volta na nave, passa a chave que eu tô de mudança. Seja bem-vindo, faço o favor e toma conta do meu computador porque eu tô de mala pronta, tô de partida e a passagem é só de ida. Tô preparado pra decolagem, vou seguir viagem, vou me desconectar porque eu já tô de saco cheio e não quero receber nenhum e-mail com notícias dessa merda de lugar! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
    Eu vou pra longe, onde não exista gravidade pra me livrar do peso da responsabilidade de viver nesse planeta doente e ter que achar a cura da cabeça e do coração da gente. Chega de loucura, chega de tortura! Talvez aí no espaço eu ache alguma criatura inteligente. Aqui tem muita gente, mas eu só encontro solidão, ódio, mentira, ambição... Estrela por aí é o que não falta, astronauta. A Terra é um planeta em extinção! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...

(Astronauta, Gabriel, O Pensador e Lulu Santos).

...

"Acho que não sei quem sou. Só sei do que não gosto."
(Teatro dos Vampiros - Legião Urbana)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre elogios e gentilezas

" Sabe, eu gosto de elogiar. Elogiar sinceramente. Gosto de pensar na ideia de que alguém ficará verdadeiramente feliz por algo que eu disse. E as vezes é só isso, pequenas letrinhas rabiscadas num papel, ditas num sopro do ar ou lidas em uma página de bate-papo qualquer que fazem o dia da pessoa se encher de cor. Gosto de elogiar e ver como pude ser útil. Ver alguém se sentir amado, admirado e respeitado. Ver como é bom quando alguém repara em um pequeno detalhe único e pessoal. Ver a coisa mais bonita que qualquer um pode vestir: um sorriso. Bom dia."
 (Mika Costa)

Vamos falar de amor

Foto por Micaelle Morais
    É.. Os últimos vinte minutos estáticos me fazem perceber que falar de amor é um pouco mais complicado do que eu tinha imaginado... Principalmente pelo fato de que eu quero sair dos clichês, evitar dramas poéticos e declarações redundantes.
      Hoje é um dia singular para falar de amor... Um dezessete sem valor para quase todo mundo, mas cheio de significado para mim. É uma data. Daquelas que eu estou bem acostumado a esquecer. É uma data de amor, com certeza. Uma data de coragem insana.
      Aí está! O mel começa a sair da colmeia...
      O amor está - definitivamente - ligado à coragem. À insana, para ser exato. Coragem de se entregar por completo a alguém. Quando isso acontece sem esforço, então... Pode ter certeza. É amor. Porque o amor, quando é amor (e não um pseudo-amor ou uma paixão enlouquecida, simplesmente), é assim: fácil, natural, sem esforço... Como respirar.
     Estamos acostumados com o amor, mas ainda assim não somos muito talentosos em reconhecê-lo... Ou demonstrá-lo. E ele é declarado à torto e à direito. Isso não pode estar certo.
     Não que o amor tenha de ser dosado, não me entenda mal... Mas é que tira um pouco do brilho do amor sacudi-lo às avessas para qualquer um. O amor tem que ser ouvido por dentro. Tem que ser visto nas pupilas. Seu perfume tem que ter um cheiro definido e conhecido. Ele tem que ser sentido em cada abraço, cada toque das mãos. Até seu sabor tem que prestar contas à língua. Aí sim... Parece que vem de dentro, com volúpia: uma necessidade crescente e inumana de expressar esse furacão interior.
     E a felicidade está atada com laço vermelho ao amor verdadeiro. E repito: para ser feliz bastam vinte segundos de coragem insana.
     E preste bastante atenção: esses vinte segundos podem durar uma vida inteira. Ah, se podem! Espero por isso com furor.
     Mas nesse ínterim, vou aceitando a insanidade temporária... São cinco meses de coragem insana... Dessas coragens voluptuosas e ensandecidas de falar "eu te amo".

Sem terceiras intenções

Depois de ceder algumas vezes, pisar lá na ponta do mundo, reconhecer - no beijo - a leitora assídua dos livros da biblioteca e superar, de vez, essa paixão semi-correspondida, acabei mesmo por encontrar meu fôlego na menina angelical da internet.

E a ficha caiu sobre um par de sapatos de couro preto.

    Você me convenceu, finalmente. E eu te aceitei como amiga. Já faz algum tempo, é verdade... Mas acho que não tinha me permitido sentir o definitivo. Agora estou livre, por fim. Amando como a pradaria ama a brisa de verão.
     Creio que tenha demorado tanto para me convencer (e mais ainda para cair a ficha), pelo fato de que você se entregou tanto... Sabíamos que paixão é uma dessas flores que se não for vigiada, vira uma daquelas ervas-daninhas que se espalham feito o diabo. E se não cortou pela raiz logo de cara, pronto! Estrago feito.
      E que estrago, hein?! Tóxico e hepático. Homeopático, também. Demorou meio ano de ressacas para se ver finado. Não sobrou cadáver pra enterrar, que dó. Foi tudo soprado pelo vento salgado... Para despedir duma vez dessa história, concluindo sabiamente que a gente segue a direção que o nosso coração mandar. Você pra lá, eu pra cá.
     Foram uns adeuses daqueles bem malDitos... Mas foram adeuses ainda assim. Me perdoa por te querer tanto.. Eu estava atordoado, mas não era de amor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

...

    Desvende meus segredos e encontre meus tesouros nessa sala clara e tão óbvia... Escape do óbvio, por entrelinhas, nas mínimas e mais enfadonhas cartas de amor. Esdrúxulas, como todas as cartas de amor. Loucas, com todo o toque de lascívia. E cheias de notas... Para não esquecer seus lindos detalhes.

Imagem

    Começa pela base. Um par de pés largos com dedos e unhas simétricas, mas irrelevantes, por estarem quase sempre acobertados por calçados reles que sejam.
    Num passo cadenciado e nobre, firme e suave, semi-felino, intercala direita e esquerda, direita e esquerda. Magras, esguias e isentas de charme muscular, as pernas espelham uma a outra na carne, mas se contradizem nas inúmeras cicatrizes minimalistas e nos sinais de nascença que pontuam de preto a pele indígena.
    Negritude capilar, arranhões de infância, pele corada e as elevações ósseas sob ela marcam o transpasse para o macérrimo tronco tronco de linhas poucas. O oculto diafragma marca uma inspiração, seguida de uma longa expiração sob um abdômen de musculatura definida, mas tudo isso é nada diante do forte batimento cardíaco, pulsando - com fúria - o sangue em cada curva.
    Ao longo do centro, estendem-se os braços em ambos os lados. Dedos longos e inquietos, tocam as próprias pontas para matar uma incessante fome tátil, impacientando-se com o pulsar sanguíneo sob as marcações quiromânticas que ali se escondem. Em poucas curvas sobem até os ombros, tatuados de teias biológicas. Todas essas artérias visíveis se contraem no caminho da traqueia masculina pouco antes duma baixa e rouca risada se fazer ouvir.
   Uma sombra marca-lhe os contornos bem desenhados da face. No topo, uma indecisa convenção de ondulações negras se agita ao vento sobre as cartilaginosas e afinadas orelhas. Sob o nariz arredondado de inspirações profundas, abre-se entre os lábios a curva de aura clara que marca sua presença. Um sincero e quase sempre apaixonado sorriso.
    Tudo isso, no entanto, é só um prólogo. Mais acima, olvidando quaisquer mescla de cores florestais e outonais, há um par de olhos.
      E há fogo nestes olhos!

domingo, 14 de julho de 2013

De volta a Salvador

   Já não vinhamos a Salvador há muitos anos... Nos víamos quase todos os dias, mas ainda assim, nunca estávamos lá. Você deve entender bem a sensação.
   Estivemos apaixonados em algum momento, isto é certo, mas ora eu estava indisposto a ser só seu, ora você não queria mais ninguém além de si mesma. Seja lá o que fosse, acabava que nunca tínhamos aquilo que o outro mais desejava.
   Houveram recaídas... Ah, se houveram! Rio só de pensar no quão cômicos foram esses episódios, choro só de lembrar a tragédia de nunca se prolongarem além de uma única noite, uma meia dúzia de beijos e uma inteira de abraços. Cômico, se não fosse trágico. Trágico, se não fosse cômico.
   E rememoramos numa troca de cartas sem terrorismo. Um 'Ok" às vezes era o suficiente, outras vezes, ambos sarávamos feridas antigas.
   Enfim, puseste fim nessa rapsódia. Oh, Glória! Ainda bem que o fizeste, já estava exaurido de tanta paixão coquete e - obviamente - eu era incapaz de o fazer. Sou poeta demais, apaixonado demais, acostumado demais com o amor para me livrar dele.
   Assumo que me apaixonei mesmo pelos seus erros. Agradeço que seus acertos foram certeiros o suficiente para bastar-nos. Pois então, ouvi e obedeci, isso está claro. E agora os planos a dois foram concretizados por um único par de mãos, sem oração alguma.
   Se os correios forem eficientes, minha carta deve chegar antes do seu casamento... Então, felicidades! Não comparecerei, pois você cumpriu com o tácito acordo de não comparecer ao meu, mas espero-te na estreia do meu filme... Aquele mesmo que comecei a escrever na amada cidade de Salvador. E na amada  cidade de Salvador, espero reencontrar-te no fim, como conjecturamos. Noutra vida, tentaremos outra vez... 
Com carinho,
Bell.

Coisa de Pele


    Deve ser ‘coisa de pele'’ esse ar libertino com apelo bestial, que desperta deliciosamente quando o toque se aproxima, distorcendo a compostura, e aos poucos, cruciante, conduzindo ao êxtase impudico. Um portal de ascensão à plenitude carnal, que transposta mais do que suspiros de alívios sufocados; transcende o gozo humano em torno do divino.

    O cintilar da pele em contato ao fulgor da língua ainda umedecida, o calor das trocas de desvelos intercalados à respiração fervorosa, induzem ao pecaminoso estremecer de corpos e almas mundanas, no entanto, elevando-nos da condição terrestre, ao patamar do próprio Olimpo. A magnitude do prazer divino-humano se faz presente, através de malacafentos minutos de bestialidade sucumbida a dois, do mesmo modo que é compartilhada com os deuses; Da mão que protege, à mão que desnorteia. O toque que destrói e eleva. O doce calor dos movimentos, unificando a individualidade dos seres.

    Com ares Epicuristas e suspiros Arcardes, a libertação do imoral pelo desejo carnal.

    E assim somos endeusados enquanto amamos.


 # Por hoje um Caffé Freddo Shakerato a moda italiana , e por favor mais licor. 
[Caffé Freddo Shakerato: Café italiano gelado, coloque os 2 cafezinhos em uma coqueteleira juntamente com as pedras de gelo, o licor e o açúcar. Agite vigorosamente. Sirva em taça de vidro.]



Andressa Guedes em Pele... Skin... Piel...

Sou velho e sou moço

...
E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz,
Quem então agora eu seria?

Ah, tanto faz
Que o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar...
Mas eu, quem será?

Deixo tudo assim,
Não me acanho em ver
Vaidade em mim
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.

Sei do escândalo
E eles têm razão
Quando vêm dizer
Que eu não sei medir
Nem tempo e nem medo...
(O velho e o moço - Los Hermanos)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

... Eu vou


Se tu me chamas, meu amor, eu vou...
Vou sem apelos, sem resistências,
Sem gritos, sem dores,
Vou natural como água que vai
Do seu afluente para o rio.
Vou cheirando o perfume das rosas,
E minha pele terá o frescor das brisas.
Estarei vestido com as cores da primavera,
E meu sorriso trará a magia da alvorada.
Trarei a pureza de uma criança no coração
E meus atos farão inveja a um santo.
Estarei como uma virgem para voce, meu amor!
Vou com o desejo com que um "beija" busca sua flor,
Isso, sou o beijo e tu és a flor!
Oh! Eu tenho o brilho das estrelas no olhar,
Minha pele respira a maciez das pétalas,
E tenho a virilidade de um jovem touro
Livre pelas pradarias.
Se tu me chamas, meu amor, eu vou...
Não por obrigação ou respeito,
Jamais por protocolos ou convenções sociais,
Vou porque te amo
E porque perto de ti quero estar!
Chamas-me, meu amor, chamas-me,
E verás que amor é o que melhor sei fazer...

De Gilberto em Quando me chamares...

quarta-feira, 10 de julho de 2013

De Tinta

   

     Acredite, eu sei como é, parece que não sou desse mundo. No mundo em que nasci, o azul do céu é cor de tinta e a terra tem cheiro e textura de páginas antigas, de pergaminho. Os beijos são mais doces, os olhares mais longos, os finais são felizes.
    Quando há sombra, faz frio e todos os homens tem de morrer, mas na primavera o sol sorri, a chuva nos traz felicidade e à noite fazemos nossas próprias luzes, dormimos ao som de cochichos sussurrantes, promessas de amor e histórias — contos inacabados. Mesmo que tudo seja finito, vivemos dia pós dia, com a certeza de que tudo é infinito. É simples assim, prosseguindo página e capítulo, Carpe Diem, por paixões e ódios.
     Onde nasci todos renascem imortais como runas em pedra, tênues como um arco-íris, reluzentes como o sol, múltiplos como estrelas e por vezes não sei distinguir, como a borboleta e o sábio chinês, se nasci história e virei homem, ou nasci homem para virar história.

Sam Cromwell

Apressado, mesmo

Meu amor, tive uma conversa com meu coração...
Ele anda descompassado, rápido demais,
Anda ansioso
Tudo fazendo dentro de uma urgência desatinada.
Sentei com ele
Olhei para seus olhos sentimentais,
Observei sua respiração ofegante
E perguntei o motivo de tanta pressa...
Ele devolveu-me o olhar,
E falou com uma calma que
Enfrentava sua inquietude.
Bato mais rápido, ele me disse,
Pois que sendo mais apressado,
Eu faço o tempo passar mais ligeiro
E mais rápido eu fico perto de meu amor!!!

De Gilberto em nelmezzodelcammim.blogspot.com.br

sábado, 6 de julho de 2013

C1V1=C2V2

    Diluição. Essa é a palavra chave para a manutenção do equilíbrio nos dias de tensão, de pressão, de estresse. Dias de fúria.
     Numa inspiração profunda, para inflar os pulmões de ar novo. Para ventilar as ideias. Para permitir que a enormidade da minha tranquilidade possa diluir meus maus humores, chovendo-os em pancadas de ironia e sarcasmo negro para evitar uma negra tempestade.
    Que uma nota cínica de sarcasmo pontue aguda, no lugar de uma turbulenta explosão de raiva.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Quanto à blasfêmia

"[...] Em outros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias, mas Deus morreu e com Ele morreram esses blasfemadores. De agora em diante, o crime mais atroz é blasfemar contra a terra e ter em maior conta as entranhas do impenetrável do que o sentido da terra. [...]"
NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra, pag. 12.

Anti-maniqueísmo amoroso

"Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal."
                                                                         (Friedrich Nietzsche) 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Fogo nos lírios

   Que não ceda à hipocrisia de abocanhar a luxúria e trasvestir-se, engalfinhando a si num enlaçado de mantos brancos para tanger a própria fama na direção de uma vitrine de lírios claros.

Sobre a imoralidade do amor

“A mulher dá-se, o homem aumenta-se com ela; penso que nenhuns contratos sociais, mau grado a melhor vontade e a maior sede de justiça, poderão alguma coisa contra esta antítese natural, por mais desejável que possa ser não deixar ver constantemente a dureza, o horror, o enigma e a imoralidade desse antagonismo. Porque o amor, porque o grande amor, o amor total, o amor completo, é da natureza, por consequência, como qualquer natureza, coisa eternamente ‘imoral’.”
(Friedrich Nietzsche)

Um instante

Te amou no íntimo
Errou o passo num átimo.
Um instante.
Um segundo.
Descompasso de parceiros. 
Terceiros dançarinos.
Numa pressa relativa,
O arrependimento (im)puro
Do receio incontido
Como fruto por demais maduro
Sangrou a seiva na boca
Para matar de sede
Essa paixão tão louca.
Que nenhum anjo conteve.
O relógio suspira
A espera inesperada
Pelo segundo ato aspira
Para ter novamente a amada.

Nota sobre a santidade

Humanidade.
Carne. Mente. Emoção.
Toque. Carícia. Abraço. Afeto. Confiança. Medo. Paixão. Desejo. Amor.

O que significa ser humano, senão ser complexo? Estar atrelado a um intrincado emaranhado de sensações, emoções, expectativas, anseios e receios?

O que é ser santo? É estar acima do desejo? É reter os próprios impulsos? Ser intocado pela lascívia? Condenar as próprias paixões? Evitar a "perdição"?
Questionamentos surgem-me a partir desse ponto... Ser santo é desumanizar-se de certa forma, não? O que é a "perdição"? Quem estabeleceu esse conceito, afinal? Seria a santidade um ápice ou um momentum idiossincrático?

Que a catarse da paixão a liberte do peso da santidade.

  "É. Ou não é?
  Parece querer inflamar-se, mas não pretende largar o manto acólito. É frustrante, de verdade. Contraditório e ilógico. Donde brota esse receio?
   Figura como uma vontade de permanecer em recato, intacta, intocável. Quando o que mais quero é tocá-la. Por fora, por dentro e por toda parte. Figura como uma antônima e antifreudiana necessidade de permanecer puramente dogmática. Num dogma de pureza incoerente. Como uma figura hipotética, invisível para os olhos - mimetizando o alter-ego incorreto.
   Nossos históricos santos não foram beatos em vida. Há de existir motivo para isso... A santificação exige uma sublimação do ser em si mesmo. Portanto, acolhe uma escolha: ser santo... ou ser humano.
   Há de querer um dentre ambos, mas nunca os dois ao mesmo tempo. Nossos pequenos artelhos superiores são incapazes, mesmo no devaneio, de segurar o mundo. Nossos cadenciosos corações são incapazes, mesmo no pensamento, de segurar a saudade. Nossos perfeitos e desacertados seres são incapazes, mesmo na existência por completo, de segurar santidade e humanidade simultaneamente. Escolhi ser humano por completo. Da sola dos pés à ponta dos fios de cabelo.
    Meu salto no escuro foi em direção ao precipício. Minha santidade se perdeu durante essa queda. Livre desse fardo, caí para cima. 
   E agora estou voando.

   Você quer me acompanhar?"