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domingo, 21 de setembro de 2014

Por favor

Me mata de amor
por favor
e se tu for
não volta mais

Se for assim
esquece de mim
e dá um fim
nessa paixão

Ó, meu amor,
eu aguento a dor
e se preciso for
te deixo partir

O meu coração
aguenta um não
é melhor então
que um talvez.

sábado, 20 de setembro de 2014

Me sinto só

A noite se alonga. É fim de semana, mas não vou a lugar algum. Digo, não fisicamente, pois minha mente vai na tua casa, vai no teu quarto, vai no teu telefone, segura a respiração e volta, como uma onda quebrando na praia.
Meu jazz se estica ao som do sax de segunda mão e morre, como morre o dia no lusco-fusco. E me ofusco com meus sonhos acordados. E nós, novamente, não temos chance.
Sopra a brisa com vagar e a retidão dos meus pensamentos se perde. Acaba a melodia. Entra uma voz feminina, que não é a sua, para tragar meu ser como amorcotina num cigarro de melancolia. "Eu quero te roubar pra mim...", diz ela, maldosamente mimetizando minhas vontades. "... eu, que não sei pedir nada."
Não sei. Mesmo. Não sei pedir, só sei sentir. E me sinto só.

Uma Princesa

Ela tem olhos como dois sóis, girassóis ou flores douradas de jasmim. Espelhos d'água em que eu mergulho para um outono castanho e profundo, por vezes frio como a brisa que lhe sopra os cabelos, por vezes febril como o sol de fim de tarde.
Uma princesa. Uma rainha. Uma espécie de brincadeira irônica do destino, que trouxe para a realidade uma pequena mescla de todas as damas de minhas histórias fantásticas e minhas. Só minhas.
Naquele passo perdido de quem cambaleia, procurando um caminho com olhos de menino, tentei deixa-la passar. Deixar que ela fosse e viesse como mandasse sua vontade. Mas minha mente é irrequieta, rebelde. Não consigo esquecer.
Não consigo esquecer uma única noite. Uma única madrugada ou manhã. Não consigo ceder ao oblívio nenhuma das mínimas parcelas de desejo que ela deixou em mim. Nem o sorriso, nem o abraço. Não consigo deixar passar por mim a memória de suas unhas ou de seu calor, nem de sua cama ou edredom. Nada é em mim como ela foi. Nada é pra mim como ela pode ser.
Sem dúvida que há outras que possam se abrigar no vazio que ela deixou em mim, mas na minha transparência, saberão que ainda falta. Faz falta.
Desde então, apenas ela existe por completo na minha saudade.
Ela foi. Ela é. Só ela pode ser.

Óculos

Vivo repetindo que preciso usar óculos. Às vezes acho mesmo que minha visão turva nas curvas da vida. Mas é difícil explicar para os outros o motivo de ter tentado tantos e tantos caminhos. Não é que tenham sido os caminhos errados, apenas não foram os certos.
Algumas vezes, no entanto, tenho certeza de que preciso de um par de lentes. Mais metafóricas, mais cardíacas. Afinal, eu vejo mesmo que ocaminho certo está bem na minha frente. Digo, uns 20 centímetros pra baixo.
Uma coisa que nunca me ouvirão dizer, no entanto, é que preciso de um relógio. O único tique-taque que preciso ouvir é o meu próprio coração, pulsando forte aqui no peito. Além disso, um relógio tende a nos cutucar com o passar das horas e eu não gosto de me apressar.
Além do mais, não preciso contar horas pra saber esperar.

Rapunzel

Você não é mais a mesma. Ou talvez meus olhos tenham mudado mesmo, afinal.
Você renasceu para mim. Ou talvez eu tenha te recriado na minha mente.

Antes era um anjo. Uma ideia. Um amor platônico. Minha Rapunzel sem trança, no lugar mais inalcançável que eu podia imaginar, mas daí veio o tempo, inexorável, e eu cresci. A torre que mantinha o teu sorriso lindo tão distante se tornou pouco mais que um lance de escadas e uma porta fechada enquanto eu dormia inquieto no sofá.

Me vi querendo muito mais que um beijo roubado dos teus lábios risonhos. Quero amor e chamas invisíveis, e cheiros, e suspiros. Toda a tua pele nua para desbravar e escrever. Cada centímetro para provar e, ainda com teu gosto na boca, declamar aos quatro ventos em prosa e em poesia.

Quero atar teus olhares nas páginas ilustradas do meu diário, te desenhar inteira na parede do meu quarto, para dormir e acordar contigo do meu lado mesmo quando estiver sozinho.

Te quero assim, completa. Porque eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é. Te quero desarrumada e meio perdida, bagunçada e sonolenta, ou nos teus vestidos vermelhos, no topo dos teus saltos altos.

Meu coração de retalhos de romances antigos não pode virar outro, mas não será o mesmo. Pois cada vez que nos perdemos naqueles abraços, uma agulha dourada me fere por dentro, tatuando outra vez teu nome numa caligrafia redonda em cada face do meu já lapidado coração.

E dói. Porque não é mais um sonho, não é mais uma ideia. Você não está mais numa torre. Eu subi as escadas e enquanto as estações passam devagar, eu te espero recostado na janela. E espero, e espero, e espero, pois não quero ser a pessoa certa na hora errada.

Espero até que esteja tudo certo aí dentro.
Tudo arrumado e pronto pra me deixar entrar.

Ô, vida injusta

Ô, vida injusta! E esse copo vazio, a porta que não abre, o amor que não chega.
Ô, vida injusta! E esse tempo que não passa, a chuva que não cessa, o vento que não sopra.
As malditas estradas são muito compridas, o dinheiro é muito escasso e não surge uma criatura de carne e sangue que queira foder simplesmente. É foda.
O pior é que se essa porra fosse fácil, ninguém dava valor. E é por isso que eu gosto.