Você não é mais a mesma. Ou talvez meus olhos tenham mudado mesmo, afinal.
Você renasceu para mim. Ou talvez eu tenha te recriado na minha mente.
Antes era um anjo. Uma ideia. Um amor platônico. Minha Rapunzel sem trança, no lugar mais inalcançável que eu podia imaginar, mas daí veio o tempo, inexorável, e eu cresci. A torre que mantinha o teu sorriso lindo tão distante se tornou pouco mais que um lance de escadas e uma porta fechada enquanto eu dormia inquieto no sofá.
Me vi querendo muito mais que um beijo roubado dos teus lábios risonhos. Quero amor e chamas invisíveis, e cheiros, e suspiros. Toda a tua pele nua para desbravar e escrever. Cada centímetro para provar e, ainda com teu gosto na boca, declamar aos quatro ventos em prosa e em poesia.
Quero atar teus olhares nas páginas ilustradas do meu diário, te desenhar inteira na parede do meu quarto, para dormir e acordar contigo do meu lado mesmo quando estiver sozinho.
Te quero assim, completa. Porque eu gosto mesmo de você, bem do jeito que você é. Te quero desarrumada e meio perdida, bagunçada e sonolenta, ou nos teus vestidos vermelhos, no topo dos teus saltos altos.
Meu coração de retalhos de romances antigos não pode virar outro, mas não será o mesmo. Pois cada vez que nos perdemos naqueles abraços, uma agulha dourada me fere por dentro, tatuando outra vez teu nome numa caligrafia redonda em cada face do meu já lapidado coração.
E dói. Porque não é mais um sonho, não é mais uma ideia. Você não está mais numa torre. Eu subi as escadas e enquanto as estações passam devagar, eu te espero recostado na janela. E espero, e espero, e espero, pois não quero ser a pessoa certa na hora errada.
Espero até que esteja tudo certo aí dentro.
Tudo arrumado e pronto pra me deixar entrar.