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sexta-feira, 17 de abril de 2015

Propósito.

   Reconheço-me, mas diferente. Não sei atrás de que porta estava escondida essa parte de mim.

   Não é apenas esse ardor que nunca se vai, ou essa paixão pulsando compulsivamente no meu peito. Nem mesmo essa necessidade insana de tê-la sempre comigo.
   Esse amor sábio, maduro, puro... Ele se propaga, prospera. Reproduz esse brilho diário e se metamorfoseia todas as noites.

   Seja lá que porta o guardava, ela a pôs abaixo com a gentileza cálida de seu carinho, com a firmeza de sua dedicação e a fúria de seu desejo.
   Me cativou. Com seu amor, com seu olhar, com sua vida. 
   Me deu propósito.

   Agora está presente mesmo na ausência.

   Vejo-me, na companhia familiar da madrugada, imaginando futuros, esperando um amanhã em que seu calor e seu abraço substituirão minha insônia. Vejo-me planejando casas, cães e filhos.

   Reconheço-me diferente...

   E gosto.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Desejo Fotografado

   Uma gota desce por seu corpo.
   Do seu corpo.
   Um filete de desejo líquido.
   Eternizado numa fotografia.

   Seu olhar congelado não é nada gélido. É um brilho intenso que a derrete. Um modo discreto de incitar prazeres insanos. Um modo selvagem de simplificar prazeres complexos. Memórias e ideias sem nexo, sem controle, sem fim. Enfim pervertidas em marcas de fúria na pele, a fúria que só a luxúria produz; aquelas marcas de doloroso prazer, gravadas a pedir por mais.
   Seus lábios vertem som, num tom de silêncio e gemido que é quase um pecado musical. E perdão. Afinal, não há como algo tão bom ser completamente mal. Pois vêm dos mesmos lábios que pervertem paixão em fumaça, álcool e saliva. Tornando viva a cor escarlate escondida sob a cor da pele. Mostram brancos os dentes que mordem à roxidão a carne macia do corpo. E sofro pela sedenta abstinência, amargando na ausência o doce gosto de quem espera por mais. Muito mais.