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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Blues da mudança

Ouça, amigo lenhador. Ouça o blues da mudança. Sinta o cheiro do pó e veja o ininterrupto entrar e sair das caixas.
Ouça, amigo lenhador, o soluço afogado do romance que não nasceu. Sinta a ausência do que nunca teve. Veja que bela perspectiva tem tudo isso.
Ouça, amigo lenhador. Ouça o riso incontido das festas. Sinta o reboliço das emoções enlouquecidas pelo álcool. Veja refletida a atração mais bruta e humana.
Ouça, amigo lenhador, o som e o ritmo desse blues.
O jazz está prestes a começar.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A vida é uma viagem ferroviária

A vida é uma jornada, tal qual uma viagem ferroviária, vamos de uma estação para outra, conhecemos pessoas em cada estação, algumas nos acompanham por algum tempo em nossa viagem, mas nada garante que esta companhia será duradoura e nunca sabemos quando a parceria irá acabar.
Cada estação nos oferece um infinito de trens. Tal como estes, a vida não dá ré, portanto nossa única opção é prosseguir.
Eu vivo. Vividamente. Eu sei que parece redundante, mas não é. Poucas pessoas tomam a coragem necessária para tanto.
Sou de tal forma bom vivant, que não aceito perder tempo com o que quer que seja. Não faz sentido perder um trem apenas porque há pessoas olhando, julgando. Destas, o caminho está cheio, mas garanto que tais criaturas ficarão para trás e terminarão a viagem tendo aproveitado muito menos.
No mais, como um viajante nato, aceito todas as boas companhias que o destino trouxer e pelo tempo que durarem; evitando com gosto todos aqueles que se tornaram escravos da rotina e de um maldito moralismo conservador.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Musas Literárias V

 
Que espanto o meu
Ao saber que a Luana, seu moço
Já está no céu, brilhando
As estrelas todas acompanhando
Distando com o escuro de seu cabelo
E eu aqui com todo o zelo
Tentando não me ofuscar.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Lulu, Tubby e a Guerra (Digital) Entre os Sexos, por Danielle Oliveira

   "Ai, fazer um aplicativo pra analisar as mulheres é muito machista, nossa", disse a menina que estava enchendo os guris de hashtags rotuladoras no tal de Lulu.



    Pimenta no dos outros é refresco, né?!
   
     Tanto que lutamos pelo direito de sermos simplesmente mulheres, sem rótulos, sem estereótipos, sem dedos apontados, e aí me vem esse tal de Lulu... Em primeiro lugar, por que criar um aplicativo pra fazer com homens o que tanto reclamamos quando fazem com a gente? Não acredito em justificar um erro com outro erro. Não faça aos outros o que não quer pra si. É simples.
     Segundo lugar, não duvido que alguns homens achem a polêmica exagerada. A brincadeira, realmente, acaba sendo mais divertida pra eles. Mas, mulheres, só venham me dizer que é “só uma brincadeira” depois que lerem lá no seu perfil do Tubby (que, aliás, não pede permissão ao usuário pra existir) que você "engole tudo" ou "curte tapas", por exemplo - essas são as hashtags do aplicativo pra analisar as mulheres, enquanto as dos homens tiveram uma conotação BEM menos sexual. “Vão ter que aguentar”, disseram alguns amiguinhos. O Tubby, que começa a funcionar amanhã, chegou como “resposta” ao Lulu e isso tudo me parece a evolução (tecnologicamente falando; socialmente: retrocesso) da mais repulsiva guerra de sexos. Fiquei envergonhada por algumas mulheres "brincando" com o Lulu e, paralelamente, reclamando por serem taxadas de N coisas diariamente.
       Li algumas mulheres utilizando o argumento de que a brincadeira serve como vingança pelos julgamentos que somos vítimas diariamente, mas - como eu disse - não acredito em justificar um erro com outro erro. Que melhor forma de “vingança” do que sermos mulheres independentes e superiores a isso? Por mais que nós sejamos prejudicadas de uma forma bem mais radical pelas diversas formas de preconceito e repressão – inclusive a diferença da conotação das hashtags nos dois aplicativos pode ser exemplo disso -, isso não torna menos errada a criação, a princípio, de um aplicativo pra avaliar homens. Na minha opinião, qualquer coisa que implique a limitação do direito de ser livre é ruim. Pra qualquer gênero.

     E, muito obrigada, mas minhas atitudes dizem respeito a mim somente (e a quem EU quiser) e nenhuma hashtag nem nenhum rótulo moderno recheados de hipocrisia têm direito de apontar o dedo pra mim. “Arreguei” com orgulho.

    Danielle Oliveira dando um show de sabedoria num comentário de Facebook, demonstrando (na minha não tão humilde opinião) a inteligência que trouxe todos os avanços sociais que atingimos neste novo século.

sábado, 30 de novembro de 2013

Ateísmo, Antiteísmo e Humanidade


“Para ser um cristão você precisa acreditar que por 98 mil anos a nossa espécie sofreu e morreu, a maioria das crianças morrendo no parto, a maioria das pessoas com uma expectativa de vida de 25 anos, com fome, batalhando, guerreando, sofrendo, tudo isso por 98 mil anos, enquanto os céus observavam com completa indiferença. Então, há 2 mil anos, os céus decidiram ‘já chega disso, acho que é hora de fazermos alguma coisa’, e a melhor maneira de fazer isso seria condenar alguém a um sacrifício humano em algum lugar da região menos instruída do Oriente Médio. Não vamos aparecer para os chineses, por exemplo, onde as pessoas sabem ler e estudar evidências e ser civilizadas. Vamos ao deserto e façamos outra revelação lá.
Isso não faz sentido. Não é algo que não pode ser acreditado por alguém que pensa.
Por que eu fico feliz que este é o caso? Para chegar ao ponto do que há de errado no outro lado do cristianismo, porque eu acredito que os ensinamentos do cristianismo são imorais.
O [ensinamento] central é o mais imoral de todos, o da redenção vicária. Você poder jogar os seus pecados em outra pessoa, o que é vulgarmente conhecido como ter um bode expiatório.
Eu posso pagar a sua dívida se eu te amo. Eu posso ir para a prisão no seu lugar se eu te amar muito. Eu posso me voluntariar a isso. Mas eu não posso te redimir dos seus pecados, porque eu não posso abolir a sua responsabilidade, e eu não deveria me oferecer para fazer isso. A sua responsabilidade precisa permanecer com você. Não existe redenção vicária.
Muito provavelmente não existe sequer redenção. Isso é apenas wishful thinking (NT.: Pensar que algo é verdadeiro só porque queremos que seja), e eu também não penso que wishful thinking seja bom para as pessoas. Isso consegue até poluir a questão central, a palavra que eu acabei de usar, a palavra mais importante de todas: a palavra amor, ao tornar o amor compulsório, ao dizer que você tem que amar. Você tem que amar ao seu vizinho como a ti mesmo, algo que você na verdade não consegue fazer. Você sempre acabará falhando, então sempre poderá ser considerado culpado.
Ao dizer que você tem que amar alguém a quem você também precisa temer. Um ser supremo, um pai eterno, alguém de quem você deve ter medo, mas também deve amar. E se você falhar nessa tarefa, novamente é um pecador imundo. Isso não é mentalmente, moralmente ou intelectualmente sadio.
E isso me traz à objeção final, que é: esse é um sistema totalitário. Se houvesse um deus, que pudesse fazer essas coisas, e exigir essas coisas, e que fosse eterno e imutável, nós estaríamos vivendo sob uma ditadura sem direito de apelação. Uma que jamais poderia mudar. Uma que sabe o que pensamos e pode nos condenar por crimes de pensamento. Nos condenar a uma punição eterna por ações que nós estamos fadados desde o início a tomar.
Por tudo isso – resumindo; eu poderia dizer bem mais – eu digo que é algo excelente que não exista absolutamente nenhum motivo para acreditar que nada disso seja verdadeiro.”

Citação de  Christopher Hitchens, traduzida livremente por Alex Castro, no vídeo que encabeça a postagem.

Declaradamente antiteísta, Christopher vai além do meu limite de concordância, no entanto, acho tremendamente válida sua opinião. Este "peso da culpa" tão presente no catolicismo, me é execrável. Também discordo de sua afirmação convicta da inexistência de redenção, mas encontro o meu próprio pensamento na sua comparação da vigilância divina e o Big Brother em 1984, de George Orwell.

Edição de gostos

"Nós, homens, temos uma adorável atração por mulheres imperfeitas. Primeiramente porque as perfeitas são artificiais, falsas, recicladas demais. Queremos mulheres realistas, que não achem que o mundo é uma série da Warner, bebem cerveja e que dizem “foda-se”."

Se são todos os homens, eu não sei. Mas eu com certeza tenho uma absurda atração por mulheres imperfeitas.

A Geração Save-Game

Não só Battletoads. Contra, Ninja Gaiden e Alex Kidd também. O que esses jogos tinham em comum? Não havia save game. Não dava para você dar uma jogadinha marota antes do colégio ou no intervalo do jogo. O que nos restava, no máximo, era o bom e velho password – que também era uma sacanagem, com números, símbolos e cores.
Eu devo muito da minha persistência e força de vontade a isso. A essa ética adquirida com os games. Não foi uma fase difícil do Contra e as poucas vidas logo na terceira fase que me fizeram desistir de chegar até o final. Muito menos as semanas tentando descobrir como passar com o jet ski do Battletoads que me motivaram a jogar tudo pelo alto. Nada, nenhuma dificuldade me motivou a pegar um atalho ou render-se a trapaça.
Hoje eu sou um cara bom.
Sou um cara justo.
E devo parte da minha educação ao vídeo-game.
Não sei o que será dos jovens gamers de hoje. Só espero que essa gurizada não se acostume com a vida mansa.
A realidade, acredite, é mais dura do que um bônus level com fase destravada e vidas infinitas.

Via Papo de Homem, em: http://papodehomem.com.br/essa-geracao-save-game/

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Musas Literárias IV

Polyana Moça, assim lhe fizeram novela,
Mas um livro só não bastava,
Fiz um poema para ela.
Inquieta, morena menina,
Por onde quer que passe,
O seu olhar risonho
A muitos e tantos fascina.
O Amor se vai ou se esvai, mas a Arte permanece.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ela me coisou

Ela causou em mim.

   Ela causou com uma exclamação de paixão e uma interrogação de curiosidade. Com reticências, porque nem sei bem o que ela me causou.
   Ela causou em mim com um jorro de hormônios. Me encheu de serotonina, me encheu de dopamina, me dopou e me deu uma turbulência de adrenalina. Ela me causou um Pai Nosso, uma Ave Maria, um Auto da Compadecida (e meio).
   Ela me causou e me coisou com os doze signos do zodíaco, com as oito insígnias de um desenho infantil. E me deu uma flechada sargitária, com aquele olhar leonino; me quebrou como um aquário cheio de peixes. Me errei todo, embaralhei as letras. Nos agarramos de impulso, atrás de uma porta semiaberta.
   Ela foi a causa do meu marcapasso e até sairmos desse impasse, não sei o que fazer. Vou me calando, acalentando o coração e acompanhando a causadora dos meus sonhos mais insones, enquanto ela sorri com cara de beijo e ri na minha cara como um espelho.

   Um espelho feminino, com olhos castanhos, cabelos curtos e cheio de curvas de causar coisas em mim.

domingo, 24 de novembro de 2013

Musas Literárias III

Para que minha rima não se torne forçosa
E em respeito ao inglês cuja prosa
Fez famosos Hamlet e Macbeth
Será em peça e não em verso que falarei sobre Jullieth.
Se não é Romeu (Romeu!) o nome de seu amante e se não há em sua história o ódio dos Capuletos, não impedirá que se eternize esse romance e prove que o amor verdadeiro não está obsoleto.

sábado, 23 de novembro de 2013

Protesto amoroso por mais noites de prazer independentes de sexo

   Vá lá, minha vida amorosa é muito agitada, admito. Já tive muitas mulheres, muitas por pouco tempo, algumas poucas por um hiato mais longo - mas ainda assim, curto. Não me entenda mal, eu não quis tê-las. Nunca quis ter fama de (odeio essa expressão) "pegador".
   Eu me apaixonei por cada uma, cada uma a seu tempo. Amei algumas delas. Algumas continuo amando, não nego. De tal forma que muitas delas tornaram-se amigas próximas, outras são - ainda hoje - colegas de farra. Com outras tenho até casos inconclusos (que talvez permaneçam sem conclusão até o fim da vida).
    Mas estou escrevendo para expressar a minha frustração para com a paupérrima visão masculina e o aproveitamento quase nulo de tais aventuras por parte dos meus compatriotas de gênero. Permita-me fazer clara esta reclamação.
    Sempre que abro uma conversação com um amigo, falando de alguma paixão recente, um caso mais ardente ou semelhante, ocorre algo mais ou menos assim:
     
      "Cara, saí com uma garota ontem... Você não vai nem acreditar!"
     "Eita (ou qualquer exclamação parecida)! Conheceu onde?"
     "Faz umas semanas aí, começamos a conversar na fila da biblioteca (ou qualquer cena parecida)"
     "Ela é boa? (ou 'elogio' semelhante)"
     "Ela é linda, meu irmão, tenho nem palavras."
      "Mas e aí, comeu?"
      [Fim da conversa.]

     Não importa se fomos ao único restaurante verdadeiramente italiano em Maceió; se passamos horas regando conversa com vinho à beira mar; ou se competimos quem gritava mais num filme de terror classe B... Se não comeu, não vale. Essa parece ser a - estúpida, diga-se de passagem - regra para os círculos masculinos de amizade (com exceções, enfatize-se, ainda que poucas).
      Deixo este apontamento irritado, pois creio que simplesmente há uma supervalorização do sexo. O contato humano é muito mais que isso, a diversão pode vir de inúmeras maneiras, mas quem tem essa restrita visão está fadado a uma vida de noites de frustração, mentiras de bar e apenas pontuada de boas memórias, quando poderia ser uma sequência infindável de momentos inesquecíveis.
  
      Eu digo: Basta! Vivamos para encontrar e aproveitar todos os prazeres. Sejam eles da mente, sejam eles do corpo. No entanto, que sejam do corpo por inteiro e não apenas de um pedaço.

Musas Literárias II

Trago uma mulher mais Ariana
De uma literatura não mais amena
De sensualidade não puritana
E inscrevo o nome Lorena
Em meio sertão de corações masculinos
Pois seus olhares e sorrisos felinos
Os enlaçam como se fossem meninos
Com medo da mãe.

Musas Literárias I

Começo pela Ana Alice. 
Afinal, é a primeira da chamada
Ela não gosta da mesmice
E passa muito tempo calada.
Talvez nem saiba do próprio e insano passado.
De correr atrás de coelhos brancos e apressados.
Sobre ela tenho no bolso uma cartilha,
De uma viagem ao tal País das Maravilhas.

domingo, 3 de novembro de 2013

Crueza

   Essa história de amor incondicional pode até ser bacana se você tem quinze anos e nunca se relacionou com ninguém na vida. Mas um dia você descobre que o amor sozinho não sustenta absolutamente nada.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

...

  A ausência será sempre uma tristeza. Um apartamento vazio. Uma casa sem móveis. Um caminhão de mudanças. E eu já falei o quanto odeio mudanças...
  A tristeza será sempre um desconforto. Uma xícara de café frio pela manhã. Uma foto dentro de um livro. Um recado manuscrito no meu caderno. Eu sempre adorei meus cadernos...
   Hoje tenho bem poucos deles.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Vela na estante

   Uma chama que nunca se apagará. Uma joia escarlate pulsante, num domo delicado de cristal, como a rosa do pequeno príncipe. Um espirito flamejante e suspirante, um ifrit, uma estrela. Agni...
   Oculta para o mundo, um fogo que arderá sem se ver, uma ferida que doerá sem que eu a sinta. Até vê-la. E novamente vê-la. E novamente amá-la. E novamente sofrê-la.
   Eternamente e para sempre. Num paralelo com ela, mas aqui sem ela.
   Um adeus in definitivo. Ou um até logo.
   Nesta vida, ou na próxima.

domingo, 13 de outubro de 2013

Baião, Prosa e Verso II

  


Um passeio pelo interior e meia duzia de pensamento de um boi velho

 Um sol de rachar batendo na testa desde antes de mei' dia, Tonhão num aguentou e deixou a banca do Jogo do Bicho sem alma viva e foi-se pra tomar um pileque de cachaça com pão... Arre, Tonhão.
Meu jegue já manco de véio, esse peste ao invés de morrê logo duma vez, fica me atazanando a consciência. Toda vez que aponto a espingarda pro bicho lembro do meu vozinho, dizendo que aquela besta feia tirou a família toda do ralo na cacunda, arrastando carroça lotada de espiga... Num consigo atirar de jeito nenhum e o bicho tomém teima em morrê. Nem trabalha nem morre... Só come a comida das galinha.

   Passo da igreja. "Em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo...", arre! Mas num é a sobrinha da Dona Zeza se amulengando com menino do litoral... Aaahh que isso vai termina na pêxera! Ah, se vai! Ohoho! Tem padre demais nessa missa... Que o noivo da piveta nem casô e já tá levando é chifre...

  "Dia, Mariaria, formosura demais pra esses vinte anos!"
   "Deixe de ser sem vergonha, cabra véio, que já passei dos cinquenta e você sabe bem disso!"
   "Sabê, eu seio, mas pudia saber um poco mais, num acha não?"
   E ela ri e se esconde da janela, cantando aquele grito meio gemido que conheço de cama: "É véio, é feio, mas é safado quinem boi novo!"

   Cemitério... Lembra de painho, vozin, voinha... Quatro de duas mão de irmão que foro pra cova antes de levar uma mulher pro casório... Tristeza. Essa bola de ferro sujo pesando no peito e no bucho. E um poco de fome, também. Vo fazê quinem Tonhão... Pisá pro bar, tomar uma cachaça com pão, esquecer esse jegue e olhar as flor nascendo, porque choveu faz nem três dia, e quando chove, bate uma felicidade de viver nesse sertão.

O rebolado e os hormônios



  Ela rebolou do jeito que eu gosto e. num rodopio, pôs uma de suas curvas sob a minha mão enquanto um par de coxas nuas subiram para me apertar o quadril. Foi sensual. Mas o mais excitante foi o sorriso dela, separando seus lábios vermelhos e fazendo seus olhos brilharem.
   Um instinto de aventura de menina solta... Que me levou a beijá-la até que sentisse vontade de tirar a roupa... Entrei no jogo e perdi, mas foi a mais doce derrota da vida, centrada na órbita de dez mil estrelas.

Baião, Prosa e Verso I



Sangria de Amor e Cabelos Ruivos, Um retrato de amor visto da Caatinga

Ôoo minha flor, flor de mandacaru rosea e avermeiada...
Que formosura tua, de minha vida é o céu estrelado,
Tem pena deu que não sou pássaro! Se fosse, daqui praí avuava,
Que nessa terra verde toda, quero tá' a vida toda do teu lado.

sábado, 5 de outubro de 2013

As Chuvas da Colheita Vermelha

"Margareth, Margareth!", o lamento ecoou pelas pedras da ruína gelada
Mas não havia ninguém para ouvir na casa esburacada

O  fim chegou como a súbita chuva de verão
A mesma que chorava sobre as terras do barão
O cavaleiro chorava sobre o corpo pálido de sua amada
Depois desta noite, ela estaria para sempre calada

"Margareth, meu amor, não se vá!", o lamento morre nos corredores vazios
Mas não havia ninguém para ouvir e o cavaleiro então sorriu

Louco estava, louco ficara, e para sempre atormentado
Por trair o senhor a quem estava juramentado
Este, furioso, ordenou que uma colheita vermelha fosse feita
"Matem todos!", disse ele, "E que o barão viva para lembrar de sua desfeita!"

"Margareth..." a voz do barão e o lamento desapareceram então
Mas não havia ninguém para ouvir e assistir parar seu coração.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Corações, camélias e cochichos

Segura o coração, meu bem
Segura com firmeza e não solta
Acolhe esta chama, também
Que te deixo segura dessa emoção revolta

Respira fundo, meu amor
Senão vai perder o fôlego
Pois vermelho é de longe a tua cor
E o escarlate vai alcançar o teu âmago

Escarlate e vermelho rubro de sangue
Enfeitado com exageradas pétalas de rosa
Anunciado por gritos e aplausos de insanidade
Síndromes de certeza e emoções em polvorosa

Planos arquitetados aos cochichos
Marcam o futuro breve e meia dúzia
De meses imploram que não fuja
Pois voltaremos a viver como bichos.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Sobre dor, medicina e gratidão.



   Aqui estou. Cento e cinquenta horas e cinco minutos desde que acordei suado e olhei as horas no celular, me perguntando que diabos era aquela dor infernal que mordia tudo dentro de mim. Ainda estou mal, mas estou melhor. Ah, se estou! Ainda sinto dor, mas essa eu posso suportar.. Não me recordo da última vez que uma doença me deixou tão debilitado, se é que houve alguma vez desde que cresci.

   Agora compreendo o que Eragon quis dizer quando chamou o estigma que Durza lhe infligiu, quando chamou Aquela dor de "O Obliterador". A dor é egoísta. Ela não divide espaço com nada nem ninguém. Quanto mais intensa, mais egoísta, mais espaçosa... Mais ela se aproxima de seu propósito de obliterar por completo sua consciência de quaisquer coisas que não estejam a ela relacionadas. A dor é uma amante obsessiva e muitíssimo ciumenta.

   Quando ela vinha, eu não podia fazer nada. E a sensação de impotência, do meu próprio corpo me ferir de maneira tão excruciante... A sensação de perder um autodomínio conquistado com tanto esforço... Humilhante. Doloroso. Principalmente doloroso. A dor vinha e nublava meus pensamentos, eu não conseguia fazer nada além de deitar, fechar os olhos e bloquear o que pudesse. Suplicando ao meu corpo que parasse de me torturar, "pare, pare, só pare, por favor". Não sentia vontade de comer ou beber, enquanto revirava, apagando quando a dor passava e acordando quando ela vinha me rasgar de novo. A febre evanescia por algumas horas com um antitérmico, só para retornar, me pondo em chamas outra vez logo que o efeito enfraquecia. E Hefesto, me achando quente como um pedaço de ferro em brasa, resolveu martelar minha cabeça para me envergar numa lança, talvez...

   Glória à Esculápio, salvador de homens, curador de enfermos, sossego das parturientes! E abençoados sejam os detentores do teu cetro, nestes modernos tempos, e de todos os seus remédios, e soros, e pílulas! E há quem sinta nostalgia da Era de Ouro, dos 70, 50, dos 20... Do século XIX, XVIII... Nostalgia da varíola! Digo eu! Nostalgia da praga! Da peste! Da tuberculose, da sífilis! Nostalgia de um tempo em que alguém rico podia se considerar sortudo se chegasse aos 50!

   No meio daquele suplício, naquela situação deplorável em que eu estava, incapaz de andar à passos lentos até o banheiro sem fazer caretas de dor; varrido de qualquer vontade de comer, praticamente incapaz de pensar em linha reta, renitente até de falar, para não provocar outra crise... Tsc, tsc, tsc... Só essas pílulas brancas e esses benditos líquidos incolores me trouxeram paz. Sem eles eu  nem conseguiria dormir.

   E volto ao começo: aqui estou... melhor, mas não curado. No entanto, logo estarei chegando lá... Graças a umas benditas pílulas brancas e umas agulhas espetadas nos braços... E que Os Outros carreguem uma infecção dessa pro Diabo que o valha!

   Como observação, deixo-lhes um recado: agradeçam à medicina. Agradeçam cada segundo de cada dia a partir de agora, pode ser que algum dia vocês venham a precisar dela pra valer e a eternidade vai ser pouco para expressar a gratidão que tomará sua alma por aqueles poucos minutos de paz.

Lembre, portanto.

Ser quem eu quero ser é o mínimo que devo a mim mesmo. Se não sou nem isso, então não sou nada.

sábado, 7 de setembro de 2013

Num salto


   Ele me viu correr e pisou no freio. Sorrindo simpaticamente, abriu a porta do ônibus e me esperou entrar. Eu subi num salto, agradecendo, e concluí que ainda há bons homens no mundo.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Sinais de Trânsito

     As buzinas discutem no meio do burburinho dos motores, das rodas correndo no asfalto. Os olhos amarelos se arregalam e passam correndo, enquanto os olhos vermelhos semicerrados vão se alinhando ao longo da avenida. Nós passamos correndo também. Ora para o mesmo lado, ora cruzamos destinos, sem reduzir.
    Há poucos sinais vermelhos. Vermelhos de paixão, menos ainda. Há muitos sinais verdes de inveja, de asco. Há muitos sinais amarelos de ansiedade, chamando a atenção para coisas fúteis. Há muitas placas nos dizendo a que velocidade seguir, mas poucas dizendo para aproveitar.
   Há câmeras. Algumas de segurança, outras de vigília, outras nem tem significado algum. Olhos de passagem.
     Há muitos estacionamentos, mas parece que nunca há uma garagem. Os postes estão sempre acesos. As ruas, sempre lotadas de gente. As nuvens, sempre nubladas. Nós, sempre apressados e atrasados.
     Há muita potência e pouco espaço para atirar. Por isso estamos sempre errando... Por muito pouco, por muito... Causando danos. Arranhões, para ser exato. Nada grave, é verdade, mas arranhões ardem como o inferno.
    E esse não é o tipo de fogo que eu gosto de acolher. O que é delicioso de provar é um fogo recíproco. Para pôr abaixo essas regras estúpidas, para despir as roupas, tornar em cinzas esses receios vãos até restar apenas a estrada com uma única placa vermelha.
    Uma placa grande e vermelha, ordenando:


   "Pare. Ame."

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cata-vento

Sonho com um cata-vento de mentes soltas.
Um cata-vento que cata cada segundo como um conta-gotas.
E conta gotas de hormônio, de suor e de saliva.

Um cata-vento que gira ao contrário na brisa.
E faz o mundo todo parar.
Para o mundo e para o tempo.
Eterniza cada vão momento.
Em uma torrente de lembranças.

Um catador de doces como uma centena de crianças sorridentes.
Ou um apanhador nos campos, atirando ao solo as sementes.
Um cata-vento que move sonhos e me tira o sono.
Que respira memórias e desejos, transpirando frustração.
Uma efígie que não frustra ação nenhuma, mas que é sempre interrompida.
E me deixa novamente com o coração partido de tentação.

Eu sonho com um cata-vento que junta amores.
Que junta amantes e junta pedras em castelo.
Uma fortaleza horizontal e sinfônica, de arquejos, de suspiros e de nomes sussurrados.
Uma orquestra de vozes baixas e outros sons menos soníferos que tambores de pele.
Um cata-vento que revele o que há atrás das cortinas e sob as dobras de pano.

Eu não sonho mais...
Há relógios e tique-taques. Há pés e passos. Há corpos e floreios esguios de impulso.
Ouço ao longe um incessante resfolegar. Uma voz que geme do futuro. Um estapear tribal.
Ah!
Ouço um cata-vento.
Ronronando vontade. Rosnando desejo. Rugindo luxúria.
Ouço um cata-vento.
E ouço cada vez menos ventania. Menos vento. Menos brisa.
Ouço um cata-vento respirando devagar.
Um cata-vento que aperta as correias e puxa as rédeas.
O tempo está parando para nos ouvir transpirar. 

domingo, 25 de agosto de 2013


"Só o amor constrói pontes indestrutíveis"

Como taças de vidro

 
    Não. A vida não é curta. A vida é frágil. Tão frágil que não podemos prever que brisa pode fazê-la ruir.
   Costumamos esquecer disso, quando deveria ser a primeira coisa a lembrar todos os dias. Nós somos mortais. Cada um de nós.
    Com isso, não pense que estou tentando fazer com que você olhe uma vez mais para si mesmo; nem estou tentando fazer com que tema a própria morte. Não. os mortos não sentem dor.
    Quero que pare e pense naqueles que mais ama. Pare e perceba o quão humanos eles são. Pare e pense no que eles sentiriam se você fechasse os olhos para sempre. Pare e pense como seria perdê-los. Sem prorrogação, sem palavras finais, sem adeus. Apenas um tumulto. Apenas um grito. Apenas isto. Apenas o fim. Vazio, seco e sem explicações. Sem porquê nem para quê.
     Talvez você perceba o quão importante é viver cada dia como se fosse o último. Que faz toda diferença amar tudo que se tem para amar ainda hoje e demonstrar todo esse amor sem máscaras. Como se não houvesse amanhã. Pois talvez, afinal, não haja mesmo.
    Nossas vidas podem ser curtas, mas também podem ser longas, é verdade. No entanto, serão sempre - Sempre! - frágeis como taças de vidro...

    Que a qualquer momento podem quebrar.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Dualidade


  Há ratos no telhado e traças sob os lençóis. A sombra de fim de tarde se alonga sob as acácias, enquanto os último rastros áureos da estrela solar se espreguiçam antes de adormecer.

  A feiura e a decadência se enroscam num abraço lascivo com a beleza natural e o encanto pueril da materialização onírica das obras divinas sob o róseo e o anil do crepúsculo.

  A gralha e o corvo lamentam o coro dos comedores de mortos sobre lápides de mármore branco, farfalhando suas asas escuras contra a brisa que acaricia os lírios e as margaridas pálidas que brotam do solo negro.

  Esta dualidade cíclica demonstra o equilíbrio entre as feições do mundo. Uma moeda de vida e morte, reproduzindo o tintilar que ora suspira tristeza, ora urra felicidade.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Carta aos genitores

  Pensei que isso nunca fosse acontecer, mas aconteceu. Achei por um longo tempo - talvez ingenuamente - que vocês estivessem intangíveis a isto, mas parece que eu estava errado. Tudo bem, eu entendo.

  É triste, mas vocês já não estão mais na ponta dos pêlos do coelho. Não acomodaram-se no couro quentinho ainda, mas é fato que já se voltaram para baixo, deixando de vislumbrar a vastidão da cartola do mágico. Logo completarão a descida, alcançando a comodidade que passaram a procurar.

  Por muito tempo não quis perceber e, tendo percebido, levei outro longo hiato para aceitar, mas já não posso evitar confrontar a verdade. Vocês cresceram. Não por fora, não... Isso já havia acontecido, afinal já eram pais àquela época. Vocês cresceram por dentro. Mas não se preocupem, a Terra do Nunca se lembrará de vocês, ainda que suas recordações dela se tornem cada vez mais vagas e desapareçam por completo finalmente. A Terra do Nunca se recordará de vocês, dois dos mais bravos entre nós, pois vocês deixaram um poderoso legado. Nós somos o seu legado. E eu prometo solenemente resguardá-lo comigo até quando puder (e além), mesmo que precise eu mesmo transmiti-lo definitivamente para a próxima geração.

  Agora vocês possuem preocupações maiores e dedicam todo o seu esforço ao trabalho, seu mundo gira em volta dos papéis coloridos, mesmo que seja por um bem maior. Vocês "acordaram para o mundo". Porém não foi assim que aqueles dois jovens me criaram e eu prometi a mim e a eles que essa herança não morreria comigo. Eu cumprirei minha promessa, ainda que vocês esqueçam dela e insistam que eu crie mais raízes ao invés de mais folhas. Não temam! Eu resistirei até minha última pitada de pirlimpimpim.

Vocês são adultos agora e irão fazer casinhas na base aconchegante do pêlo do coelho, trabalharão duro e estreitarão a visão para uma única área, para que esta casa seja grande, tenha garagem e piscina... Enquanto isso, receio ter de afirmar que talvez eu ainda não tenha certeza do que quero e que talvez eu ainda abandone este barco, voe por sobre os jacarés, dance com as sereias e vá para um lado totalmente diferente... Talvez publicar meus livros (perdoo por ter tentado me desanimar, pois sei que você foi o guardião do limiar que eu precisava superar para escrever meu primeiro romance), ou mergulhar no mundo da ciência - que eu amo - e procurar me tornar uma das grandes mentes deste século.

  Não sei bem... Mas este não saber me torna aberto a todas as possibilidades! "Eu não sei para onde estou indo, só sei que estou no meu caminho". Esse não saber me mostra que, mesmo crescido como sou, meu dimon ainda muda de forma, o que já não acontece mais com os seus... Junto com meu dimon, muda minha sombra - que ainda tem a mania de voar sozinha por aí... Mas vocês logo deixarão de saber o que é isso...

  Essa é uma despedida triste, solene e muito provavelmente definitiva, mas não chorem! Nós os amamos. Eu os amo, mesmo sendo adultos. Repito com orgulho: a Terra do Nunca não esquecerá de vocês! Não enquanto eu puder voar.

  Cresçam em paz, pois vocês treinaram bem seus sucessores. Continuaremos alertas aqui, em Nárnia, na Alagaësia, em Hogwarts, na Terramédia, nas pontas dos pêlos do coelho branco.

Sé onr svendar sitja hvass!

domingo, 11 de agosto de 2013

Mulheres



Mariana foi a primeira. Andávamos de mãos dadas sem saber nem o que aquilo significava, mas gostávamos ainda assim. Um dia crescemos e percebemos que não era o bastante.

Renata foi a esperta. Brincava comigo como uma gata brinca com o rato. E eu gostava.

Priscila foi a sabida. Me ensinou um monte de coisas. Depois dela nunca mais me chamaram de menino.

Clara foi a falsa. Tinha duas caras e uma língua ferina. Fingia ser santa, mas era uma belíssima danada. Eu gostava mais da segunda cara e ainda mais da língua ferina.

Isabela foi a princesa. Linda como uma deusa, mas não podia beijar em público. "Vão pensa coisas", dizia ela. "Que pensem!", rosnei um dia. Foi o fim.

Carla foi a aventureira. Nunca hesitava, não conhecia a timidez. Me dava a impressão que toda ideia louca e toda vontade insana que eu expressasse, a faria me tomar pela mão e viver uma cena de filme. Essa segurança aumentava a cada fuga. Um dia fui longe demais.

Fernanda foi a lasciva. Tirava minhas roupas antes mesmo que eu dissesse seu nome por completo. Não que eu esteja reclamando.

Laura foi a senhora. Começou elogiando tudo e cada coisa, depois criticava cada passo em falso. Tentou corrigir-me por inteiro. Falhou redondamente.

Ana foi minha sina. Só me tocou com olhos, mas sabia que os olhos são a janela da alma... Ana mergulhou nos meus olhos e eu me perdi no brilho dos dela. Ana cruzou minha vida como um relâmpago, marcando o céu com uma mancha luminosa. Ana nem foi minha, mas nunca saiu de mim.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Memento Mori

Lembre-se de que irá morrer.

70%

   Eu estou no seu mundo, mas você não está no meu. E isso faz muita diferença.

   Conheço seus amigos, frequento seu bares, como em sua mesa. Vou ao casamento da sua irmã, fumo meu cigarro em sua varanda, depois de sair do trabalho e almoçar na sua casa. Vou ao supermercado do seu bairro e faço as compras para encher seus armários, assisto o jogo na sua televisão, sentado em seu sofá. Após horas a fio, anoitece e chove: durmo em sua cama.
  Você é um mito para os meus amigos, uma foto na mesa do escritório, uma memória de uma tarde longínqua. É o livro de presente na minha estante, a assinatura no meu caderno. Você não sabe onde guardo a chave do apartamento, porque nunca veio me visitar. Não sabe a dose certa de uísque para colocar no meu copo, porque nunca virou a madrugada bebendo comigo, discutindo por que as estrelas brilham e as folhas caem no outono. Você não sabe qual é o lugar certo para apertar, porque suas mãos não conhecem minha pele.
   Sei de cor a posição da sua mobília, mas você desconhece a cor da parede do meu quarto. Acho as frutas na gaveta de baixo da sua geladeira, mas você não faz ideia do que tem nas prateleiras de cima da minha. Você acorda sem mim e veste minha roupa, mas de você tenho só a memória nas noites mais frias.
   Resta-me romancear e aceitar este mundo que você desconhece. Num passeio solitário buscar inspiração para as crônicas cuja história é mais meio a meio, que eu domino a verdade e harmonizo nossos universos em expansão.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Absolutos

   Medidas absolutas criam reações absolutas. E se são absolutas não dá pra correr delas, isto é certo. Mas veja bem... Não existem verdades absolutas. Então como podemos querer absolutamente que nos façam coisas aprazíveis, o tempo todo, se nós mesmos não nos conhecemos em absoluto?
  Nós, que somos nós, e nos aturamos desde que nascemos, não conseguimos nos satisfazer por completo. Imagine um outro alguém, que pode não ser absolutamente, mas é diferente por certo.
   Deveríamos parar de criar regras absolutas. Deixar de esperar atitudes absolutamente condizentes, também. Quem vive de absolutos, fica desejando certezas que não podem ser demonstradas ou calculadas. Quem vive de absolutos, estará quase sempre absolutamente decepcionado.

Paz

“Quanto mais você sabe quem é, e o que você quer, menos você deixa as coisas te irritarem.”
–Bob (Bill Murray), em Lost in Translation (Encontros e Desencontros)

E aí está o cerne da minha paz.

Desenhos animados e Geração Toddynho


"Dia desses tentei assistir a uns desenhos animados dessa geração e puta que pariu! Esta necessidade de superproteção dos pais, da mídia e dos órgãos reguladores está criando um exército de cérebros subdesenvolvidos e sem condições de digerir conteúdo. É a era do Toddynho em caixinha pronto pra beber no canudinho.
Pobres crianças. Pelo menos elas tem o Xvideos desde pequenininhas, né?
Um minuto de silêncio para o episódio do Tom&Jerry e Família Dinossauro, postados acima. Que classudos! Que tapa com luva de pelica!
"Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades... Teria ouvido muitas verdades que insisto em dizer brincando... Falei muitas vezes como um palhaço... " - Charlie Chaplin.
Descansem em paz meus heróis. Se hoje sou o homem que sou, é por vocês terem estado ao meu lado na infância."
Comentário em O Triste Fim da Família Dinossauro

Apenas faça. Apenas seja.

"NUNCA ESQUEÇA QUE NÃO HÁ EVIDÊNCIA NENHUMA DE QUE ALGUÉM ESTEJA MINIMAMENTE INTERESSADO NO QUE VOCÊ TEM A DIZER."
(John Frusciante)

"[...] Não há nada que diga que essas pessoas se interessam por ti e pelo que tu faz. O que antes, muito antes de ser só uma grosseria, é muito — mas muito mais mesmo – um incentivo: faz o que tu queres, pois é tudo da Lei. E se é da lei e faz teu coração bater com a força que tu quer e que te faz bem e vivo, “putzgrila”, quem poderá ser contra? [...]"

O Xaveco no Olho Acabou?

"[...] Olhando de uma maneira prática, nenhum manual vai conseguir fazer você descobrir um meio de surpreender sempre. Nenhum manual vai fazer isso, por que para surpreender no momento da sedução, você não pode estar aprisionado ao desejo de acertar. Você precisa reconhecer o próprio ridículo, assumi-lo e ostentá-lo. Você precisa ser capaz de rir de si mesmo, de verdade. Sem falsidade, sem fazer disso o jogo de quem diz não estar jogando. [...]"
(Luciano Ribeiro em O Xaveco no Olho Acabou)

Lembra-me o que o anão Tyrion Lannister fala para Jon Snow em As Crônicas de Fogo e Gelo: Volume 1

“- Deixe-me dar alguns conselhos, bastardo. Nunca esqueça o que você é. O resto do mundo nunca se esquecerá. Use isso como uma armadura e isso nunca poderá usado para machucar você.”

Não se calcula o amor

"Gosto muito de matemática e de resolver problemas mas certas abstrações como é caso do Amor, não dão pra ser calculadas, apenas sentidas."
(Emerson Damasceno de Oliveira)

The Cure - Burn

"Se as pessoas que amamos são tiradas de nós...
O jeito de manté-las vivas é continuar amando-as...
Os prédios queimam, as pessoas morrem... 
Mas o amor é pra sempre."
(The Cure - Burn)

Hoje eu comi papa de aveia

Eu tenho preconceitos sobre montes de coisas, como todo mundo tem. Desde aquela fruta que eu sei que não gosto, mesmo só tendo comido com 8 anos ou aquele programa de tv que só assisti metade uma vez na vida. Não nego meus preconceitos pelo fato de serem parte da minha construção (ainda que negativa/passiva) de personalidade, mas faço um esforço diário de revê-los e, se possível, derrubá-los. E algumas vezes eu consigo.
Isso se chama evolução.
Hoje, evolução foi um prato e meia panela mingau de aveia.

História de Um Homem Ridículo


"[...] Se esse homem ridículo morresse hoje, agora, fulminado por meu implacável julgamento, haveria gente sofrendo dor profunda, chorando, trabalhando o luto, relembrando melhores momentos compartilhados. Aquele homem ridículo deixaria um vazio talvez insuperável em corações que nem conheço.
Então, ele sumiu atrás de uma esquina, mas apareceu uma senhora de vestido verde, depois, uma adolescente patinadora, um ruivo e seu beagle, um gari de laranja, e foi quase que como uma sobrecarga de informação: todos pessoas. Cada um. Nenhum deles figurantes do filme da minha vida. Todos protagonistas de seus próprios filmes. Pessoas plenas.
Aí, finalmente, me dei conta: o único homem ridículo ali era eu."
Via Papo de Homem: História de um Homem Ridículo

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Questão de aprendizado: sexo

"[...] Muitas desconhecem os próprios mecanismos que ativam seu sexo. Além disso, o pudor e a repressão sexual muito frequentemente as fazem travar diante de suas volições, impedem-nas de aprender como seu corpo funciona e desfrutar dos prazeres da carne. Afinal, sexualidade é um aprendizado intensivo do indivíduo consigo mesmo. Quem não for autodidata, acaba ficando para trás. [...]"

Carta aPóstuma


     Querida Dona Morte,
    Vista suas melhores roupas quando vier me buscar. Eu sei que te falam para vestir-se de preto, mas eu prefiro branco, principalmente se for um daqueles vestidos de verão que vão até o meio das coxas - são os meus favoritos.
     Quando chegar, me diga a verdade e me dê um sorriso sincero, caridoso. A cumprimentarei como uma velha amiga ou a maior amante. Abrace-me com carinho para que eu não sinta frio e afague meus cabelos para que eu lembre que houveram pessoas que quiseram cuidar de mim. Me beije com paixão para que eu recorde uma última vez do meu amor mais ardente e não ligue muito para uma mão esperta que por acaso lhe suba pelas pernas, entregue à lascívia.
      Você é uma visitante inesperada, bem sei, mas acho que só faz o bem vir nos acordar do sonho que é a vida. Deixo-te avisada só para o caso de ter me esquecido quando chegar a hora de sua vinda, ainda que eu acredito estar muito distante, pois nem telegrama me enviaste.
     Enfim, espero que receba minha carta e que me ouça. Lembre dos meus pedidos, para que sua inevitável chegada corra nos meus termos... (Sem pressão. Ha, ha.)
     Até lá, passe bem.
Att,
Sam.

sábado, 3 de agosto de 2013

O bastante.

 
 Sei muito bem que eu não consigo dizer não para você... Mas porque se aproveitou tanto disso? Era mesmo necessário que eu sofresse tanto para fazer você feliz? E mesmo com todo esse suplício, eu me sinto bem o bastante...
   O bastante para fechar os olhos, mesmo quando já estou na mais profunda escuridão... Perdi o controle de tudo, mas eu não consigo dizer não para você... Você me drenou a vida completamente e mesmo assim eu me sinto bem o bastante...
   O bastante para não cair de joelhos, suplicando piedade, ainda que você continue me assistindo cair em decadência... Caí no seu encanto e seu canto de sereia me levou ao fundo do mar... Você mexeu com cada um dos meus instintos, jogou com cada um dos meus sentimentos e me fez pensar que eu era bom o bastante...
  O bastante para ter o seu amor, só por amá-la... Você prometeu algo que sabia ser incapaz de cumprir e eu me deixei levar... Deixei que tomasse minha mão e declarasse coisas que eu sabia serem mentiras, sussurrando para mim que eram verdades. Talvez tenha sido tudo minha culpa, por ser tolo e ingênuo...  Mas, para mim, a possibilidade já era boa o bastante...

...

Do primeiro trocar de olhares, mesmo com aquele desvio tímido, ao primeiro abraço - na mesma noite - com uma troca de risadas sobre alguma coisa absurda, já somava-se a importância. Da primeira palavra instigada por um não acidente ocasionado pelo vinho, ao trocar de nomes. Somavam-se os valores das atitudes que conduziam a um futuro previsível.
Não precisa ser declarada a necessidade de atenção sobre algo tão onipresente. Mesmo depois de virar o mundo do avesso e esbaldar as noites de boêmia absoluta. Mesmo depois de rastejar com a amnésia e acordar na mesma cama que as memórias, continuei a dar o mesmo valor para os acontecimentos mais mínimos. Sei bem que não há um botão de replay ou um ctrl+z... E dar a importância devida é requisito para fazer as escolhas certas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sacrilégio

   Logo a nós, que podemos libertar quaisquer fantasmas. Que podemos desenlaçar todos os nós e encarnar os papéis mais divinos dos seres amantes. Falta-nos voltar a viver como bichos, desde o início do fanatismo até o sacrifício, pois é um sacrilégio que haja tanta distância entre nós.

domingo, 28 de julho de 2013

Síndrome de Dúvida Absoluta

   Essa síndrome de dúvida absoluta vem de mansinho e ataca de um pulo só, come as letras e não tem nem dó de engolir as ideias que já estavam prontas pro passeio, me enchendo de receio de pôr num único parágrafo todos os desejos que guardo no sarcófago.
   Esse não é um texto sobre nada em especial, mas fala muito desse amor que me derrubou com uma arte marcial treinada com o Cupido e nem guardo segredo, meu amigo: um bocado de notícia que não veio nem pelo correio, mas foi chegando de vez em quando, sem aperreio e me encheu dessa estranha sensação que me acelera o coração.
   Agora falo mesmo é que tô em dúvida se entro de all-in ou se fazendo assim tenho chance de perder. Essa pele é dor que rasga uma vez, não que vontade esteja em escassez, mas o que vale mais? Uma memória bonita e permanente ou acabar com essa fome crescente que nos tortura? Será que já é madura para sair do sonho ou o pudor é tamanho que suas jogadas de sedução se perdem como palavras em vão, ditas ao vento?

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Citando uma citação

"Imagino que cada um aqui tem um sonho e, se a gente aprender a olhar pra ele, vai descobrir que ele tá muito perto."

Fernando Anitelli, de 'O teatro Mágico'.

"Quando o dia termina com a gente."

  

  "O mal do século", dizem alguns. Talvez seja mesmo. Tudo nos irrita. Estamos arrasados. As vozes baixas são irônicas, os agradecimentos são sarcásticos, os motivos são vazios. Estressados, cedemos às ruínas do corpo. O tempo se comprime, aumentando a pressão desse câncer emocional. Nesse século em que o tempo parece sempre mais curto, estamos cada vez mais apressados. Atrasados, pisamos fundo no acelerador e esquecemos até de passar a marcha.
   Cada minuto é tão precioso que cuidamos mais do relógio do que dos nossos filhos. Cronometramos o sexo e temos hora de amar, hora de odiar, hora de ficar, hora de ir. Acordamos quando o alarme toca, apertamos o passo para não perder a hora do ônibus que está atrasado. Chegamos tarde naquele compromisso para o qual tanto tentamos ser pontuais e logo uma tela acende. "Time is up!", diz ela. E ficamos irritados com isso. Ficamos irritados com tudo, na verdade.
     Ficamos irritados com qualquer mal entendido, qualquer contradição, qualquer imprevisto. Um adeus inesperado mancha uma noite, todo "não" é uma mágoa. Toda omissão nos chateia, dando mais corda para essa forca. Esquecemos até de dizer o que queremos, porque a pressa insiste em afirmar que o outro já deveria saber. "Não recebeu o memorando?", diz ela "Não há tempo para explicar o que eu quero, você já deveria estar sabendo".
      Não. Não deveria estar sabendo. Não dá para saber - talvez porque o tempo não permita.
      Esse ritmo motorizado, esse tique taque incessante e insistente não permite aprendizado. A dança vai seguindo e nós continuamos a trocar os pés, por não ter tempo de aprender. A vida vai seguindo a cento e sessenta por hora, mas o motor não aguenta. Isso nos irrita ainda mais. Isso acaba conosco. Nos deixa arrasados... Temos que parar para respirar. Parar para descansar. Parar por parar. Parar para amar.
    Se não consertarmos isso, continuaremos perdidos, atrasados, apressados, estressados. Nesse mundo tá tudo assim...

E um abraço pra quem fica

   Astronauta, tá sentindo falta da Terra?! Que falta que essa terra te faz?! A gente aqui embaixo continua em guerra, olhando aí pra Lua, implorando por paz, então me diz: por que que você quer voltar? Você não tá feliz onde você está? Observando tudo à distância, vendo como a terra é pequenininha e como é grande a nossa ignorância e como a nossa vida é mesquinha... A gente aqui no bagaço, morrendo de cansaço de tanto lutar por algum espaço e você, com todo esse espaço na mão, querendo voltar aqui pro chão... Ah, não, meu irmão! Qual é a tua?! Que bicho te mordeu aí na Lua? Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
   Ah, não, meu irmão! Qual é a tua?! Que bicho te mordeu aí na Lua? Fica por aí que é o melhor que cê faz, a vida por aqui tá difícil demais. Aqui no mundo o negócio tá feio, tá todo mundo feito cego em tiroteio, olhando pro alto, procurando a salvação ou pelo menos uma orientação... Você já tá perto de Deus, astronauta, então me promete que pergunta pra ele as respostas de todas as perguntas e me manda pela internet! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
   É tanto progresso que eu pareço criança; essa vida de internauta me cansa! Astronauta, cê volta e deixa eu dar uma volta na nave, passa a chave que eu tô de mudança. Seja bem-vindo, faço o favor e toma conta do meu computador porque eu tô de mala pronta, tô de partida e a passagem é só de ida. Tô preparado pra decolagem, vou seguir viagem, vou me desconectar porque eu já tô de saco cheio e não quero receber nenhum e-mail com notícias dessa merda de lugar! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...
    Eu vou pra longe, onde não exista gravidade pra me livrar do peso da responsabilidade de viver nesse planeta doente e ter que achar a cura da cabeça e do coração da gente. Chega de loucura, chega de tortura! Talvez aí no espaço eu ache alguma criatura inteligente. Aqui tem muita gente, mas eu só encontro solidão, ódio, mentira, ambição... Estrela por aí é o que não falta, astronauta. A Terra é um planeta em extinção! Eu vou pro mundo da Lua que é feito um motel aonde os deuses e deusas se abraçam e beijam no céu...

(Astronauta, Gabriel, O Pensador e Lulu Santos).

...

"Acho que não sei quem sou. Só sei do que não gosto."
(Teatro dos Vampiros - Legião Urbana)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sobre elogios e gentilezas

" Sabe, eu gosto de elogiar. Elogiar sinceramente. Gosto de pensar na ideia de que alguém ficará verdadeiramente feliz por algo que eu disse. E as vezes é só isso, pequenas letrinhas rabiscadas num papel, ditas num sopro do ar ou lidas em uma página de bate-papo qualquer que fazem o dia da pessoa se encher de cor. Gosto de elogiar e ver como pude ser útil. Ver alguém se sentir amado, admirado e respeitado. Ver como é bom quando alguém repara em um pequeno detalhe único e pessoal. Ver a coisa mais bonita que qualquer um pode vestir: um sorriso. Bom dia."
 (Mika Costa)

Vamos falar de amor

Foto por Micaelle Morais
    É.. Os últimos vinte minutos estáticos me fazem perceber que falar de amor é um pouco mais complicado do que eu tinha imaginado... Principalmente pelo fato de que eu quero sair dos clichês, evitar dramas poéticos e declarações redundantes.
      Hoje é um dia singular para falar de amor... Um dezessete sem valor para quase todo mundo, mas cheio de significado para mim. É uma data. Daquelas que eu estou bem acostumado a esquecer. É uma data de amor, com certeza. Uma data de coragem insana.
      Aí está! O mel começa a sair da colmeia...
      O amor está - definitivamente - ligado à coragem. À insana, para ser exato. Coragem de se entregar por completo a alguém. Quando isso acontece sem esforço, então... Pode ter certeza. É amor. Porque o amor, quando é amor (e não um pseudo-amor ou uma paixão enlouquecida, simplesmente), é assim: fácil, natural, sem esforço... Como respirar.
     Estamos acostumados com o amor, mas ainda assim não somos muito talentosos em reconhecê-lo... Ou demonstrá-lo. E ele é declarado à torto e à direito. Isso não pode estar certo.
     Não que o amor tenha de ser dosado, não me entenda mal... Mas é que tira um pouco do brilho do amor sacudi-lo às avessas para qualquer um. O amor tem que ser ouvido por dentro. Tem que ser visto nas pupilas. Seu perfume tem que ter um cheiro definido e conhecido. Ele tem que ser sentido em cada abraço, cada toque das mãos. Até seu sabor tem que prestar contas à língua. Aí sim... Parece que vem de dentro, com volúpia: uma necessidade crescente e inumana de expressar esse furacão interior.
     E a felicidade está atada com laço vermelho ao amor verdadeiro. E repito: para ser feliz bastam vinte segundos de coragem insana.
     E preste bastante atenção: esses vinte segundos podem durar uma vida inteira. Ah, se podem! Espero por isso com furor.
     Mas nesse ínterim, vou aceitando a insanidade temporária... São cinco meses de coragem insana... Dessas coragens voluptuosas e ensandecidas de falar "eu te amo".

Sem terceiras intenções

Depois de ceder algumas vezes, pisar lá na ponta do mundo, reconhecer - no beijo - a leitora assídua dos livros da biblioteca e superar, de vez, essa paixão semi-correspondida, acabei mesmo por encontrar meu fôlego na menina angelical da internet.

E a ficha caiu sobre um par de sapatos de couro preto.

    Você me convenceu, finalmente. E eu te aceitei como amiga. Já faz algum tempo, é verdade... Mas acho que não tinha me permitido sentir o definitivo. Agora estou livre, por fim. Amando como a pradaria ama a brisa de verão.
     Creio que tenha demorado tanto para me convencer (e mais ainda para cair a ficha), pelo fato de que você se entregou tanto... Sabíamos que paixão é uma dessas flores que se não for vigiada, vira uma daquelas ervas-daninhas que se espalham feito o diabo. E se não cortou pela raiz logo de cara, pronto! Estrago feito.
      E que estrago, hein?! Tóxico e hepático. Homeopático, também. Demorou meio ano de ressacas para se ver finado. Não sobrou cadáver pra enterrar, que dó. Foi tudo soprado pelo vento salgado... Para despedir duma vez dessa história, concluindo sabiamente que a gente segue a direção que o nosso coração mandar. Você pra lá, eu pra cá.
     Foram uns adeuses daqueles bem malDitos... Mas foram adeuses ainda assim. Me perdoa por te querer tanto.. Eu estava atordoado, mas não era de amor.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

...

    Desvende meus segredos e encontre meus tesouros nessa sala clara e tão óbvia... Escape do óbvio, por entrelinhas, nas mínimas e mais enfadonhas cartas de amor. Esdrúxulas, como todas as cartas de amor. Loucas, com todo o toque de lascívia. E cheias de notas... Para não esquecer seus lindos detalhes.

Imagem

    Começa pela base. Um par de pés largos com dedos e unhas simétricas, mas irrelevantes, por estarem quase sempre acobertados por calçados reles que sejam.
    Num passo cadenciado e nobre, firme e suave, semi-felino, intercala direita e esquerda, direita e esquerda. Magras, esguias e isentas de charme muscular, as pernas espelham uma a outra na carne, mas se contradizem nas inúmeras cicatrizes minimalistas e nos sinais de nascença que pontuam de preto a pele indígena.
    Negritude capilar, arranhões de infância, pele corada e as elevações ósseas sob ela marcam o transpasse para o macérrimo tronco tronco de linhas poucas. O oculto diafragma marca uma inspiração, seguida de uma longa expiração sob um abdômen de musculatura definida, mas tudo isso é nada diante do forte batimento cardíaco, pulsando - com fúria - o sangue em cada curva.
    Ao longo do centro, estendem-se os braços em ambos os lados. Dedos longos e inquietos, tocam as próprias pontas para matar uma incessante fome tátil, impacientando-se com o pulsar sanguíneo sob as marcações quiromânticas que ali se escondem. Em poucas curvas sobem até os ombros, tatuados de teias biológicas. Todas essas artérias visíveis se contraem no caminho da traqueia masculina pouco antes duma baixa e rouca risada se fazer ouvir.
   Uma sombra marca-lhe os contornos bem desenhados da face. No topo, uma indecisa convenção de ondulações negras se agita ao vento sobre as cartilaginosas e afinadas orelhas. Sob o nariz arredondado de inspirações profundas, abre-se entre os lábios a curva de aura clara que marca sua presença. Um sincero e quase sempre apaixonado sorriso.
    Tudo isso, no entanto, é só um prólogo. Mais acima, olvidando quaisquer mescla de cores florestais e outonais, há um par de olhos.
      E há fogo nestes olhos!

domingo, 14 de julho de 2013

De volta a Salvador

   Já não vinhamos a Salvador há muitos anos... Nos víamos quase todos os dias, mas ainda assim, nunca estávamos lá. Você deve entender bem a sensação.
   Estivemos apaixonados em algum momento, isto é certo, mas ora eu estava indisposto a ser só seu, ora você não queria mais ninguém além de si mesma. Seja lá o que fosse, acabava que nunca tínhamos aquilo que o outro mais desejava.
   Houveram recaídas... Ah, se houveram! Rio só de pensar no quão cômicos foram esses episódios, choro só de lembrar a tragédia de nunca se prolongarem além de uma única noite, uma meia dúzia de beijos e uma inteira de abraços. Cômico, se não fosse trágico. Trágico, se não fosse cômico.
   E rememoramos numa troca de cartas sem terrorismo. Um 'Ok" às vezes era o suficiente, outras vezes, ambos sarávamos feridas antigas.
   Enfim, puseste fim nessa rapsódia. Oh, Glória! Ainda bem que o fizeste, já estava exaurido de tanta paixão coquete e - obviamente - eu era incapaz de o fazer. Sou poeta demais, apaixonado demais, acostumado demais com o amor para me livrar dele.
   Assumo que me apaixonei mesmo pelos seus erros. Agradeço que seus acertos foram certeiros o suficiente para bastar-nos. Pois então, ouvi e obedeci, isso está claro. E agora os planos a dois foram concretizados por um único par de mãos, sem oração alguma.
   Se os correios forem eficientes, minha carta deve chegar antes do seu casamento... Então, felicidades! Não comparecerei, pois você cumpriu com o tácito acordo de não comparecer ao meu, mas espero-te na estreia do meu filme... Aquele mesmo que comecei a escrever na amada cidade de Salvador. E na amada  cidade de Salvador, espero reencontrar-te no fim, como conjecturamos. Noutra vida, tentaremos outra vez... 
Com carinho,
Bell.

Coisa de Pele


    Deve ser ‘coisa de pele'’ esse ar libertino com apelo bestial, que desperta deliciosamente quando o toque se aproxima, distorcendo a compostura, e aos poucos, cruciante, conduzindo ao êxtase impudico. Um portal de ascensão à plenitude carnal, que transposta mais do que suspiros de alívios sufocados; transcende o gozo humano em torno do divino.

    O cintilar da pele em contato ao fulgor da língua ainda umedecida, o calor das trocas de desvelos intercalados à respiração fervorosa, induzem ao pecaminoso estremecer de corpos e almas mundanas, no entanto, elevando-nos da condição terrestre, ao patamar do próprio Olimpo. A magnitude do prazer divino-humano se faz presente, através de malacafentos minutos de bestialidade sucumbida a dois, do mesmo modo que é compartilhada com os deuses; Da mão que protege, à mão que desnorteia. O toque que destrói e eleva. O doce calor dos movimentos, unificando a individualidade dos seres.

    Com ares Epicuristas e suspiros Arcardes, a libertação do imoral pelo desejo carnal.

    E assim somos endeusados enquanto amamos.


 # Por hoje um Caffé Freddo Shakerato a moda italiana , e por favor mais licor. 
[Caffé Freddo Shakerato: Café italiano gelado, coloque os 2 cafezinhos em uma coqueteleira juntamente com as pedras de gelo, o licor e o açúcar. Agite vigorosamente. Sirva em taça de vidro.]



Andressa Guedes em Pele... Skin... Piel...