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quinta-feira, 2 de junho de 2011

I'm afraid not


   Que dia horrível. Dia terrível. Fui o culpado de tanto mal de uma vez só e percebi que não sou à prova de remorso. Eu acreditava que nunca seria capaz de feri-la mas fui. Perdão. Quebrei irremediavelmente a imagem que eu tinha de mim, não fui confiável, nem te protegi. Mal pude me deixar dormir. Sinto-me fraco, desgostoso, afinal, se eu mesmo não posso confiar em mim, como você poderia? Revi a cena do choque vezes sem conta, perguntando-me o que eu tinha feito. Só consigo me recordar do horrível 'bum' e o desespero que se seguiu, me dá um arrepio na espinha e um mal estar tremendo. Poderia ter acontecido algo de tão grave por descuido meu. Só meu. Não importa o que diga, foi, sim, culpa minha. Não consigo imaginar o que seria de mim se não pudesse mais ver o seu sorriso.
    Tenho uma imagem quebrada de mim, de muitos modos. Deixei de crer nas minhas mãos, nos meus olhos, na minha boca e até a minha moral está na forca. O que posso fazer? Não sei... essa poderia ser uma carta póstuma? Sim, poderia. Poderia você voltar a confiar-se a mim como antes? Temo que não. Há algo de sobrevivente no ser humano, que nos impede de cair às gentis mãos da Sra. Morte. Uma folha de papel amassada nunca mais fará som novamente. (Risadas sarcásticas).
    Triste. Foram 33 coelhos numa cajadada só e 32 deles apodrecerão antes de serem utilizados. E afinal, todos os meus maus pensamentos são enterrados aqui, sob túmulos de metáforas e lápides de eufemismos e hipérboles  Não sei se isso irá a público, é deprimente demais. Preciso sinceramente de óculos escuros. Aprendi com Chico, não sei nem ao menos porque esqueci a lição. Oras, já conheço a minha Maria Flor, não há porque pôr os olhos em Ana Maria, ela não tem nada que agrade aos meus Eus.
    Ou será que minha alma seguiu os passos do Sr. Gray sem que eu percebesse? Qual de nós quatro estava olhando para o resto do mundo? Isso é mesmo um pouco de orgulho maldito e podre: Pôr o retrato no hall de entrada. Um cartão de visita venenoso. Minhas saídas estão bem claras, ambas têm consequências que se cruzam, consequências nada agradáveis.
    Eu pedi confiança para eliminar um mal e com tempo recorde joguei a garantia de outro bem a pó. Talvez devesse ter dito "Não confie em mim", teria cuidado melhor dela desse modo. É o que eu aprendi a fazer e sempre deu certo. A pior coisa é descobrir subitamente, da pior forma, que o gelo sob si é fino demais. Eu caí nessa armadilha uma vez, quase me afoguei e parece que havia me esquecido como é ruim.
    Abracei demais minha nova existência. Minha revolta se tornou força, minha sombra tornou-se parte profunda e fundamental de mim, uma parte que deve ser dispersada para que eu possa manter o bem-estar dela. Logo. Só receio que sem minha sombra eu não seja mais eu. Que eu deixe de ser Sam. O sobrenome Cromwell foi por tempo demais meu escudo e espada mais confiáveis e eficientes. não quero ser novamente quem eu era. Mas qual é o custo da imutabilidade? Lembro que não tenho mais medo do escuro, do desconhecido, do medo em si por causa do apego ao meu Id, à parte instintiva e primitiva da minha consciência. Simplesmente porque passei a pensar que se eu fosse o pior, não haveria o que me amedrontasse, ainda que esse pensamento revoltoso tenha se dispersado e virado apenas um grão do que antes era toda uma praia de rancores; "Lady Killer" diria Cee Lo, o de matar de desejo, o de esnobar, o que acendia a chama simplesmente pelo prazer de ver o circo pegar fogo. Pisei no mundo e ele se dobrou: Cromwell, um Gentil Casanova com Botas de Arame, e foi com essas mesmas botas que a pisei sem saber, sem querer, mas pisando ainda assim. Um golpe profundo, doloroso e gentil onde mais dói: Bem no coração.

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