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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nota sobre a santidade

Humanidade.
Carne. Mente. Emoção.
Toque. Carícia. Abraço. Afeto. Confiança. Medo. Paixão. Desejo. Amor.

O que significa ser humano, senão ser complexo? Estar atrelado a um intrincado emaranhado de sensações, emoções, expectativas, anseios e receios?

O que é ser santo? É estar acima do desejo? É reter os próprios impulsos? Ser intocado pela lascívia? Condenar as próprias paixões? Evitar a "perdição"?
Questionamentos surgem-me a partir desse ponto... Ser santo é desumanizar-se de certa forma, não? O que é a "perdição"? Quem estabeleceu esse conceito, afinal? Seria a santidade um ápice ou um momentum idiossincrático?

Que a catarse da paixão a liberte do peso da santidade.

  "É. Ou não é?
  Parece querer inflamar-se, mas não pretende largar o manto acólito. É frustrante, de verdade. Contraditório e ilógico. Donde brota esse receio?
   Figura como uma vontade de permanecer em recato, intacta, intocável. Quando o que mais quero é tocá-la. Por fora, por dentro e por toda parte. Figura como uma antônima e antifreudiana necessidade de permanecer puramente dogmática. Num dogma de pureza incoerente. Como uma figura hipotética, invisível para os olhos - mimetizando o alter-ego incorreto.
   Nossos históricos santos não foram beatos em vida. Há de existir motivo para isso... A santificação exige uma sublimação do ser em si mesmo. Portanto, acolhe uma escolha: ser santo... ou ser humano.
   Há de querer um dentre ambos, mas nunca os dois ao mesmo tempo. Nossos pequenos artelhos superiores são incapazes, mesmo no devaneio, de segurar o mundo. Nossos cadenciosos corações são incapazes, mesmo no pensamento, de segurar a saudade. Nossos perfeitos e desacertados seres são incapazes, mesmo na existência por completo, de segurar santidade e humanidade simultaneamente. Escolhi ser humano por completo. Da sola dos pés à ponta dos fios de cabelo.
    Meu salto no escuro foi em direção ao precipício. Minha santidade se perdeu durante essa queda. Livre desse fardo, caí para cima. 
   E agora estou voando.

   Você quer me acompanhar?" 

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