Páginas

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cata-vento

Sonho com um cata-vento de mentes soltas.
Um cata-vento que cata cada segundo como um conta-gotas.
E conta gotas de hormônio, de suor e de saliva.

Um cata-vento que gira ao contrário na brisa.
E faz o mundo todo parar.
Para o mundo e para o tempo.
Eterniza cada vão momento.
Em uma torrente de lembranças.

Um catador de doces como uma centena de crianças sorridentes.
Ou um apanhador nos campos, atirando ao solo as sementes.
Um cata-vento que move sonhos e me tira o sono.
Que respira memórias e desejos, transpirando frustração.
Uma efígie que não frustra ação nenhuma, mas que é sempre interrompida.
E me deixa novamente com o coração partido de tentação.

Eu sonho com um cata-vento que junta amores.
Que junta amantes e junta pedras em castelo.
Uma fortaleza horizontal e sinfônica, de arquejos, de suspiros e de nomes sussurrados.
Uma orquestra de vozes baixas e outros sons menos soníferos que tambores de pele.
Um cata-vento que revele o que há atrás das cortinas e sob as dobras de pano.

Eu não sonho mais...
Há relógios e tique-taques. Há pés e passos. Há corpos e floreios esguios de impulso.
Ouço ao longe um incessante resfolegar. Uma voz que geme do futuro. Um estapear tribal.
Ah!
Ouço um cata-vento.
Ronronando vontade. Rosnando desejo. Rugindo luxúria.
Ouço um cata-vento.
E ouço cada vez menos ventania. Menos vento. Menos brisa.
Ouço um cata-vento respirando devagar.
Um cata-vento que aperta as correias e puxa as rédeas.
O tempo está parando para nos ouvir transpirar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário